Por Virginia Guitzel e Marie C,
ativistas LGBTTI e militantes do Pão e Rosas e Juventude ÁS RUAS.
Na sexta-feira, dia 15 de Novembro, Kathalina Friedman, militante TRANS* do grupo de mulheres Pan y Rosas, ativista LGBTTI da agrupação A quemar el Closet e revolucionária do Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR, organização irmã da LER-QI no Chile) foi brutalmente agredida por 10 homens (provavelmente organizados) à sua espera, na porta de casa. Com grandes lesões, traumatismo craniano leve e fratura nasal, foi encontrada pelos vizinhos, e levada ao hospital por militantes da agrupação Pan y Rosas, após o abandono pela polícia.
Numa das cidades mais conservadores do Chile, Antofagasta, ocorre mais um caso de agressão as travestis. Felizmente, dessa vez, não foi silenciado. Com fortes mobilizações e desde onde estamos impulsionando campanhas a nível internacional, faremos a voz de Kathalina ecoar a voz de milhares de travestis e transexuais mortas, torturadas, mutiladas todos os dias, pela polícia, por grupos nazifascistas, por seus companheiros ou por “clientes da prostituição”. Dar voz e nomes aos casos das travestis assassinadas em BH no começo de Setembro, as denuncias publicas de Luisa Marilac, da travesti de Guarulhos assassinada com 20 facadas no rosto e teve seu penis cortado e que nada se ouviu falar.
O caso de Kathalina Friedman não pode ser encarado apenas como mais um caso de transfobia, mas como um ataque político a uma referencia revolucionária que cotidianamente luta pelo fim do genocídio as mulheres trans*, pelo direito ao próprio corpo, pelo fim da herança da ditadura pinochetista e pela separação da igreja do Estado. Por isso enviamos nossa solidariedade a companheira e nos colocamos na linha de frente para colocar uma enorme campanha pela punição imediata desses covardes, e desde já abrindo um importante debate sobre o combate a violência as TRANS*.
Para assinar o abaixo assinado envia teu nome para: panyrosastf@gmail.com
Acompanhe a luta apor Justiça para Katha http://justiciaparakatha. wordpress.com
Nesse dia 25 de Novembro, dia internacional do combate a violência da mulher, devemos levantar a bandeira das mulheres lésbicas, travestis e transexuais que frequentemente são omitidas pelas organizações de esquerda e movimentos feministas. A luta contra o machismo não se separa do combate intransigente a transfobia, homofobia e o racismo que atinge diretamente as mulheres negras e lésbicas.
O sistema capitalista que se apropria das opressões como maneira de aperfeiçoar sua dominação de classe, proíbe nossa livre construção de sexualidade e de identidade de gênero, pois organiza-se para o lucro, em busca de intensificar a exploração proibindo nosso livre desenvolvimento, utilizando-se da educação burguesa (ensinada nas escolas e produzida e reproduzida nas universidades) para naturalizar a heteronormatividade e as identidades não TRANS* para assim criar “policiais” dentro da sociedade que combatam cotidianamente a liberdade sobre nossos próprios corpos e mentes.
Encarar a violência contra as TRANS* como parte da luta anticapitalista é a única maneira de encarar seriamente uma triste realidade social. A perspectiva de vida de nós travestis e transexuais permanece apenas de 35 anos. As causas de não envelhecermos são diversas: a perpetuação da visão de doença sobre nossa construção de gênero restringe nosso acesso a saúde, impondo a falta acompanhamento no uso de hormônios, o uso de silicone industriais, a exclusão escolar e a precarização do trabalho, quando escapamos da prostituição, o alto índice de doenças sexualmente transmissíveis pelas condições impostas pela prostituição, estupros e falta de acesso a preservativos, o ódio incentivado pelas bancadas religiosas desde o Parlamento (No Brasil, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e tantos outros são símbolos da homofobia) e os ataques de grupos nazifascistas como os que cercaram covardemente Kathalina e tantas outras pelo país.
Nenhuma confiança no Estado e em suas instituições: Retomar Stone Wall.
O abandono da polícia para socorrer Kathalina Friedman não é uma surpresa para nenhum ativista LGBTTI, tampouco para a população negra que vive nas periferias cercada pelas UPPs, que sumiram com Amarildo e mataram Douglas Rodrigues, sem nem saber porque levou o tiro. A desconfiança nas forças armadas do Estado é parte de um instinto de sobrevivência. O combate a polícia, que não dissemina o preconceito, mas é o agente de milhares de mortes em todo o mundo, é parte da moral que resgatamos de Stone Wall.
A desconfiança na polícia nas massas travestis e transexuais é a base que temos que nos apoiar para evidenciar que tampouco outras instituições burguesas podem resolver a violência ou a marginalização que sofremos todos os dias. A lei Maria da Penha, há 7 anos implementada, demonstra como é insuficiente a batalha por leis como a PLC 122, que criminaliza a homofobia, pois a igualdade perante a lei, não significa a igual perante a vida, não a toa, todos os cidadãos possuem o mesmo direito “independente” se são donos de grandes propriedades ou se são trabalhadores precarizados. Essa “igualdade” é feita de papeis molhados da democracia dos ricos, que garante apenas ilusão e contenção das massas para que não lutem de fato pela transformação radical dessa sociedade.
Por isso, é preciso nos apoiar nos mais avançados exemplos do Movimento LGBTTI, desde as revoltas espontâneas como o caso de Stone Wall, quando em 1969, travestis e lésbicas lideraram a insurreição LGBTTI contra a polícia, prendendo os agentes do Estado capitalista dentro do bar que os LGBTTI frequentavam, colocando fogo e dizendo basta a repressão polícia homo-lesbo-trans-fobica que sofriam. Assim como a busca de grupos como FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) na França e o grupo SOMOS que dividiu aguas no movimento LGBTTI brasileiro, ao se recusar a organizar um piquenique no Ibirapuera, em meio ao acenso operário de 79, e se dirigiu a vila Euclides para apoiar a luta dos trabalhadores contra a ditadura, recebido por estes, com aplausos e assovios.
A necessidade da auto-organização: O papel dos sindicatos e entidades estudantis na luta contra a transfobia.
A única maneira de avançarmos de forma consequente no combate a violência é nos organizarmos na luta revolucionária por uma sociedade onde possamos ser plenos e nossa sexualidade e construção de identidade de gênero livres. Para isso, é necessário dar passos firmes para garantir nossa sobrevivência, segurança e fortalecer os organismos que podem retirar das mãos da burguesia e de seus aliados como a Igreja e os políticos corruptos o poder do Estado.
Nesse sentido, que nós desde o Pão e Rosas defendemos firmemente a necessidade da organização dos LGBTTI e de todos os setores oprimidos ligado a classe trabalhadora, retomando para si suas ferramentas políticas de organização, as entidades estudantis e os sindicatos para que possamos efetivamente propagandear cotidianamente a necessidade de forjar uma aliança de carne e osso entre os setores mais oprimidos da sociedade capitalista com a classe revolucionaria capaz de destruir o Estado capitalista e erguer um Estado operário, capaz de garantir as condições materiais para o fim de todas as opressões.
Somente constituindo desde já as bases para essa aliança, incentivando uma sensibilidade com os setores oprimidos no seio da classe trabalhadora, muitas vezes se enfrentando com os anos de hegemonia burguesa consolidados na propagando dos grandes meios de comunicação, do ensino burguês nas escolas e da reprodução em piadas, é que podemos avançar na luta dos setores oprimidos, rumo a revolução socialista.
INVESTIGAÇÃO E PUNIÇÃO JÁ! JUSTIÇA PARA KATHALINA FRIEDMAN! MAIS NENHUMA TRAVESTI AGREDIDA, MUTILADA OU ASSASSINADA!
POR COMISSÕES INDEPENDENTES DO ESTADO E DOS GOVERNOS, ORGANIZADAS POR MOVIMENTOS LGBTTI, DE MULHERES E NEGR@S JUNTO DAS ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA E DOS TRABALHADORES PARA INVESTIGAR E PUNIR OS AGRESSORES E ASSASSINOS!
QUE OS SINDICATOS E ENTIDADES ESTUDANTIS TOMEM PARA SI A BANDEIRA DOS SETORES OPRIMIDOS!
PELA SEPARAÇÃO DA IGREJA E DO ESTADO! BASTA DE ACORDOS E LEIS CONTRA OS LGBTTI, MULHERES E NEGR@S!
PELA LIVRE SEXUALIDADE E CONSTRUÇÃO DE GÊNERO!