No começo de Julho, se realizou o Rio Festival Gay de Cinema, onde eu e Tatiana Cozzarelli participamos da mesa "A identidade de gênero e a luta de classes". Foi um debate muito rico e polêmico, onde nós do grupo de mulheres Pão e Rosas Brasil levamos a nossa estratégia da luta pelo comunismo. Demonstrando que a separação entre movimentos sociais e a luta dos trabalhadores precisa ser superada para acabarmos com as opressões e toda forma de exploração.Convido a todos a assistirem o debate e divulgarem para que mais pessoas possam conhecer nossas ideias.
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
terça-feira, 5 de agosto de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
A EDUCAÇÃO CAPITALISTA E A HOMOFOBIA: UMA FONTE DE DOMINAÇÃO BURGUESA.
Contribuição do grupo Pão e Rosas para o III Encontro de educação pela diversidade sexual e respeito a identidade de gênero
Virginia Guitzel, trabalhadora da saúde pública e militante da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional.
Se olharmos hoje para as capas das revistas, os clipes musicais, as novelas das principais emissoras, para as estantes dos livros mais vendidos poderíamos dizer que a revolução sexual proposta nos anos 60 foi conquistada. A presença de personagens LGBT nas novelas, a possibilidade de TRANS* concorrerem as eleições com sua identidade de gênero reconhecida (como o caso de Renata Tenório, candidata da deputada federal pelo PSB), a conquista da união estável – e em diversos países o casamento igualitário. Porém, se olharmos mais atentamente, veremos que essas pequenas – e significantes – conquistas não fogem de demandas arrancadas no neoliberalismo (inclusão ao regime), isso é, concedidas como forma de cooptação destes movimentos dos anos 60.
A falsa ideia de termos alcançado a máxima da libertação sexual é evidenciada nas capas de jornais onde os governos que se “opõem” estão unidos para a inauguração do Templo de Salomão, que só reafirma os diversos acordos feitos entre Brasil e Vaticano, mas que também garantiram a presença de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos no ano passado. Para além dessas demonstrações “de cima”, a realidade da maioria dos LGBT segue de humilhações e condições precárias de vida. Para as mulheres lésbicas e pessoas TRANS* nada de saúde de qualidade! Para os homossexuais nenhum trabalho com salário digno que garanta acesso aos serviços básicos! Para o conjunto dos LGBT só há duas escolhas: para os ricos, o Pink Money, para os pobres o armário ou a submissão a todas as instituições capitalistas: família, igreja, escola, cadeia e o trabalho precário, quando há opções à prostituição.
Mas se apesar da aparência, ainda vivemos numa repressão sexual baseada na sociedade de classes, qual o papel da educação nessa reprodução? É possível, ainda hoje, uma revolução sexual? Qual a relação entre a educação capitalista e a homofobia no Brasil?
A educação capitalista e a homofobia: uma fonte de dominação burguesa.
A educação capitalista leva até as últimas consequências a exploração do homem pelo homem e as contradições da sociedade de classes. Ainda que a educação seja anterior ao sistema capitalista, é nele que se separou definitivamente do processo de trabalho. O próprio significado da palavra Escola, do grego, “lugar do ócio” remete a divisão entre o processo de aprendizagem dos homens livres e dos escravos, na antiguidade. Onde os primeiros, tinham uma instituição na qual aprendiam a arte do discurso e atividades físicas, enquanto os escravos aprendiam durante o próprio processo de trabalho. A escola então é criada apenas para os que tinham tempo livre, os que não trabalhavam.
Desde a idade Média, a Igreja Católica já estava presente como monopólio educacional, enquanto a maioria da população presa ao trabalho agrícola aprendia durante o processo de trabalho.
É com a industrialização que a escola passa a ser repensada. Não agora privilegiando a educação para todos ou para aumentar a consciência das massas, mas para garantir as necessidades que a nova organização do trabalho empunha. Isso significava cada vez mais a necessidade de separar o processo de aprendizagem do processo de trabalho. Porém, essa separação não significou mais autonomia e “liberdade”, mas sim uma especialização do conhecimento (positivismo) criando amarras ao pensamento e a ciência colocando-as a serviço do capital.
O modo de produção capitalista e a divisão social do trabalho impõe a separação entre o trabalho intelectual do trabalho manual. A educação, por estar diretamente ligada as instituições burguesas (estatais, municipais ou privadas) só pode reforçar isso.
Se partimos dessa origem da escola e temos claro que essas instituições não poderiam cumprir outro papel senão de reprodução da ideologia burguesa podemos aprofundar a relação entre a educação capitalista com o aperfeiçoamento da dominação da burguesia sob as demais classes sociais, utilizando suas instituições para intensificar sua exploração. A escola como uma poderosa arma ideológica, para fazer de sua ideologia correia de transmissão, apaga a história da luta de classes, os históricos levantes dos oprimidos (como Stone Wall e o Maio Frances de 1968) e as contradições estruturais da sociedade capitalista que geram inevitavelmente crises, guerras e revoluções.
Considerando então que as opressões são pilares do sistema capitalista e que se “por um lado é necessário modificar as condições sociais para criar um novo sistema de ensino; por outro falta um sistema de ensino novo para poder modificar as condições sociais”. Busquemos os fios de continuidade do marxismo para lançar luz a esta relação entre a educação atual e a necessidade de uma educação revolucionária para construir uma sociedade livre de opressões e exploração.
Por uma educação a serviço da luta de classes: a defesa do marxismo.
Com as mobilizações de Junho de 2013 e os levantes operários dos meses de Maio e Junho deste ano, o Brasil não é mais o mesmo. Mesmo após a realização da Copa do Mundo, o “gigante” que “despertou” continua rondando o espectro do governo, buscando saídas para os escandalosos casos de corrupção, a imensa precarização dos serviços básicos como saúde, transporte, educação e moradia. Essas saídas não podem vir por nenhum partido da ordem, pois todos estão presos aos interesses dos grandes empresários, dos milionários industriais ou seja, estão do lado dos inimigos dos trabalhadores e da população.
No entanto, nas universidades públicas pode se constatar que as intensas mobilizações de Junho não foram capazes de impactar os pilares da universidade burguesa, isto é, não deslegitimou as reitorias como castas burocráticas a serviço do governo para garantir a “propriedade privada do conhecimento”, assim como não ajudou a recuperar as entidades estudantis da rotineira tradição deixadas pela esquerda burocrática (PSOL e PSTU) que não dão exemplos de democracia de base, tampouco, utilizam essas posições conquistadas para questionar profundamente o projeto de educação burguesa, das quais as universidades não apenas reproduzem, como elaboram e mais: teorizam, contra o marxismo, contra os trabalhadores e os setores oprimidos.
Uma vez que a formação dos professores está relegada ao currículo das universidades de classe, o seu papel social nas escolas deverá ser o de reprodução da mesma ideologia. Esse ciclo vicioso cumpre o papel de que as lutas dos setores oprimidos sejam ignoradas na escola e somado aos acordos políticos do governo com as instituições religiosas, não haja educação sexual nas escolas (nem mesmo como se propunha o limitado “Kit Escolas sem homofobia”) capaz de garantir que todos os jovens possam compreender seu próprio corpo, refletindo sobre sua construção de gênero e sua sexualidade, podendo com toda a clareza possível experimentar de uma sexualidade livre e plena. Assim como educar todos os jovens com os diversos meios preventivos de doenças sexualmente transmissíveis, como também da gravidez. Pelo contrário, o não combate a essa concepção nas escolas é responsável pelo imenso número de abortos clandestinos que matam milhares de meninas e TRANS-Homens todos os anos. São responsáveis pela contaminação de diversas doenças sexualmente transmissíveis que já poderiam ter sido extintas e por toda forma de opressão que as crianças LGBT sofrem nas escolas, uma vez que, não se desmitifica ou combate os discursos reacionários que qualificam as identidades TRANS* assim como as sexualidades não heteronormativas como doenças, ou degenerações ou ainda “falta de caráter, decência, etc”.
Por isso, que não podemos seguir com essa educação capitalista, que divide o conhecimento e faz das escolas um cárcere para a juventude pobre e negra. É necessário professores revolucionários que defendam o marxismo como pensamento mais avançado, e a partir dele, questionar a educação de nossos tempos.
O papel das burocracias, reitorias e governos para a homofobia na educação.
Da mesma forma que as reitorias cumprem o papel de implementar a ideologia burguesa dentro das universidades, as diretoras das escolas são o braço ideológico do Estado na formação da ideologia da juventude, determinam a “propriedade privada do conhecimento” e para cada setor social impõem uma função.
Da mesma forma, a direção de diversos sindicados da educação como a própria APEOESP, como também diversas entidades estudantis ligadas a UNE ao se colocar ao lado do governo Federal não são capazes de responder as opressões das escolas, nem a estrutura de poder nada democrática e nem fazer uma luta consequente por uma educação pública, gratuita e de qualidade garantindo o acesso a todos e a permanência dos LGBT, que entre TRANS* estão os maiores números de desistência, ainda nos primeiros anos de colégio.
Infelizmente, a esquerda não se coloca frontalmente contra essas instituições. Em suas campanhas eleitorais ou mesmo quando assumem posições em entidades estudantis ou sindicais “esquecem” de denunciar o papel traidor que cumprem essas burocracias e muitas vezes acabam cumprindo o papel de iludir os trabalhadores com discursos de unidade com estes inimigos.
Por isso, como parte da estratégia de organizar a classe operária como sujeito ativo da transformação da sociedade, acreditamos que as sindicais tem um papel fundamental no combate as opressões, pois são responsáveis por organizar os trabalhadores com apoio de estudantes de maneira que não se adaptem as suas lutas econômicas, mas que busquem seu potencial hegemônico, cumprindo um papel de “tribuna do povo”, isto é, levantando os principais anseios da sociedade e assim demonstrando que são os únicos capazes de levar até o fim o combate as opressões. Por isso, exigimos que essas ferramentas dos trabalhadores tomem em suas mãos esses combates, debatendo com o conjunto dos trabalhadores o papel fundamental que tem essa política contra a divisão que a burguesia busca colocar entre os trabalhadores com as opressões e até a tentativa de intensificar a exploração a estes setores. Somente assim, os sindicatos podem cumprir um papel verdadeiramente revolucionário, combatendo a separação entre movimentos sociais e as lutas dos trabalhadores imposto pelo neo liberalismo, separação esta que a esquerda tradicional hoje se adapta completamente.
Lutemos pela igualdade na lei e igualdade na vida.
Com poucos meses para as eleições de 2014, a maioria da população não vê perspectiva de quem votar. É escândalos por todos os lados, os partidos patronais já não mais enganam os trabalhadores. A lógica do “menos pior”, faz cada vez menos sentido, pois as diferenças entre PT e PSDB cada vez menos são notáveis. Sobre as demandas das mulheres e LGBT, isso fica ainda mais claro. Após a permanência por um ano de Marco Feliciano na Comissão de direitos humanos, a ida de Dilma junto de Alckimin a inauguração do templo de Edi Macedo e no programa petista para reeleição ter apenas 1 paragrafo = em 15 páginas – discutindo propostas para as mulheres, não há como se iludir.
Até mesmo o a grande conquista do PT de baixíssimo desemprego com a chegada da crise capitalista no país, começa a não ser mais uma de suas medalhas. Desde 2003 com a posse de Lula havia sido criado 19 milhões de postos de trabalho com carteira assinada. O que se omitia por traz desses números era que estavam, em sua grande maioria, baseados no trabalho precário onde a maioria destes postos estão preenchidos pelas mulheres, os negros e os LGTB.
Ainda considerado como país mais homofobico do mundo – mesmo comparado com os países onde a homossexualidade é criminalizada, os crimes contra os LGBT só aumentam (A cada 26 horas uma pessoa é morta vítima de homofobia. As TRANS* seguem com a perspectiva de vida de 35 anos. E as pesquisas demonstram que o número de assassinatos de LGBT’s só aumenta, de 2012 para 2013 teve aumento de 21%. E cresceu 177% nos últimos 7 anos de governo do PT).
Por isso a luta contra a homofobia não se dá apenas nas escolas. Precisamos de um programa político que responda as nossas necessidades:
- Que as universidades e as escolas se coloque ao lado dxs LGBT! Que a produção do conhecimento e sua influência política garanta educação sexual nas escolas! Pela permanência estudantil das travestis e transexuais! Abaixo o Acordo Brasil-Vaticano. Pelo fim do ensino religioso, heteronormativo, binario e determinista biológico nas escolas!
- Fora bancada evangélica! Fora vaticano! Pela separação da igreja do Estado! Basta de acordos e leis contra os direitos dxs LGBT, mulheres e negros!
- Que as entidades estudantis e sindicatos tomem em suas mãos a bandeira pela liberdade sexual e livre construção de identidade de gênero! Que impulsionem nas campanhas salarias e nos acordos coletivos a inclusão dxs LGBT nos planos de saúde e demais direitos trabalhistas!
- Basta de silicones industriais! Basta de mortes e lesões por não acompanhamento medico! Por um único sistema de saúde, estatizado sob controle dos trabalhadores, para garantir: aborto legal, seguro e gratuito para mulheres pobres e TRANS-homens; cirurgias de redesignição sexual, acompanhamento hormonal e psicólogos para vítimas de violência.
- Não a regulamentação da cafetinagem! Pela descriminalização da prostituição!
- Igualdade na lei e igualdade na vida! Pela aprovação da Lei João Nery! Por um sério plano de luta que garanta todos os direitos iguais para a população LGBT rumo à transformação radical da sociedade!
- Pelo fim da miséria sexual! Por casas abrigos para homossexuais e TRANS* expulsos de casa! Por espaços para a juventude exercer sua sexualidade livremente!
- Basta de assassinatos, violência e mutilações axs LGBT! Aprovação imediata da PLC 122 que criminaliza a homofobia, com comissões independentes do Estado para garantir investigação e punição para os casos de violência e assassinatos!
- Basta de estupros corretivos! Não aceitaremos a heteronormatividade compulsória! Pela livre construção da sexualidade lésbica e bissexual! E pela educação sexual preventiva a DSTs!
- Pela de despatologização das identidades TRANS*! Não há laudo para o que não é doença! Não a cura gay! Não há ciência produzida para justificar a homo-lesbo-transfobia.
Virginia Guitzel, trabalhadora da saúde pública e militante da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional.
“A burguesia só da a classe operária a quantidade de conhecimento e cultura necessária para satisfazer seus próprios interesses e não é muita [e mais] a burguesia tem pouco a esperar e muito a temer da formação intelectual dos operários”. F. Engels.
Se olharmos hoje para as capas das revistas, os clipes musicais, as novelas das principais emissoras, para as estantes dos livros mais vendidos poderíamos dizer que a revolução sexual proposta nos anos 60 foi conquistada. A presença de personagens LGBT nas novelas, a possibilidade de TRANS* concorrerem as eleições com sua identidade de gênero reconhecida (como o caso de Renata Tenório, candidata da deputada federal pelo PSB), a conquista da união estável – e em diversos países o casamento igualitário. Porém, se olharmos mais atentamente, veremos que essas pequenas – e significantes – conquistas não fogem de demandas arrancadas no neoliberalismo (inclusão ao regime), isso é, concedidas como forma de cooptação destes movimentos dos anos 60.
A falsa ideia de termos alcançado a máxima da libertação sexual é evidenciada nas capas de jornais onde os governos que se “opõem” estão unidos para a inauguração do Templo de Salomão, que só reafirma os diversos acordos feitos entre Brasil e Vaticano, mas que também garantiram a presença de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos no ano passado. Para além dessas demonstrações “de cima”, a realidade da maioria dos LGBT segue de humilhações e condições precárias de vida. Para as mulheres lésbicas e pessoas TRANS* nada de saúde de qualidade! Para os homossexuais nenhum trabalho com salário digno que garanta acesso aos serviços básicos! Para o conjunto dos LGBT só há duas escolhas: para os ricos, o Pink Money, para os pobres o armário ou a submissão a todas as instituições capitalistas: família, igreja, escola, cadeia e o trabalho precário, quando há opções à prostituição.
Mas se apesar da aparência, ainda vivemos numa repressão sexual baseada na sociedade de classes, qual o papel da educação nessa reprodução? É possível, ainda hoje, uma revolução sexual? Qual a relação entre a educação capitalista e a homofobia no Brasil?
A educação capitalista e a homofobia: uma fonte de dominação burguesa.
A educação capitalista leva até as últimas consequências a exploração do homem pelo homem e as contradições da sociedade de classes. Ainda que a educação seja anterior ao sistema capitalista, é nele que se separou definitivamente do processo de trabalho. O próprio significado da palavra Escola, do grego, “lugar do ócio” remete a divisão entre o processo de aprendizagem dos homens livres e dos escravos, na antiguidade. Onde os primeiros, tinham uma instituição na qual aprendiam a arte do discurso e atividades físicas, enquanto os escravos aprendiam durante o próprio processo de trabalho. A escola então é criada apenas para os que tinham tempo livre, os que não trabalhavam.
Desde a idade Média, a Igreja Católica já estava presente como monopólio educacional, enquanto a maioria da população presa ao trabalho agrícola aprendia durante o processo de trabalho.
É com a industrialização que a escola passa a ser repensada. Não agora privilegiando a educação para todos ou para aumentar a consciência das massas, mas para garantir as necessidades que a nova organização do trabalho empunha. Isso significava cada vez mais a necessidade de separar o processo de aprendizagem do processo de trabalho. Porém, essa separação não significou mais autonomia e “liberdade”, mas sim uma especialização do conhecimento (positivismo) criando amarras ao pensamento e a ciência colocando-as a serviço do capital.
O modo de produção capitalista e a divisão social do trabalho impõe a separação entre o trabalho intelectual do trabalho manual. A educação, por estar diretamente ligada as instituições burguesas (estatais, municipais ou privadas) só pode reforçar isso.
Se partimos dessa origem da escola e temos claro que essas instituições não poderiam cumprir outro papel senão de reprodução da ideologia burguesa podemos aprofundar a relação entre a educação capitalista com o aperfeiçoamento da dominação da burguesia sob as demais classes sociais, utilizando suas instituições para intensificar sua exploração. A escola como uma poderosa arma ideológica, para fazer de sua ideologia correia de transmissão, apaga a história da luta de classes, os históricos levantes dos oprimidos (como Stone Wall e o Maio Frances de 1968) e as contradições estruturais da sociedade capitalista que geram inevitavelmente crises, guerras e revoluções.
Considerando então que as opressões são pilares do sistema capitalista e que se “por um lado é necessário modificar as condições sociais para criar um novo sistema de ensino; por outro falta um sistema de ensino novo para poder modificar as condições sociais”. Busquemos os fios de continuidade do marxismo para lançar luz a esta relação entre a educação atual e a necessidade de uma educação revolucionária para construir uma sociedade livre de opressões e exploração.
Por uma educação a serviço da luta de classes: a defesa do marxismo.
Com as mobilizações de Junho de 2013 e os levantes operários dos meses de Maio e Junho deste ano, o Brasil não é mais o mesmo. Mesmo após a realização da Copa do Mundo, o “gigante” que “despertou” continua rondando o espectro do governo, buscando saídas para os escandalosos casos de corrupção, a imensa precarização dos serviços básicos como saúde, transporte, educação e moradia. Essas saídas não podem vir por nenhum partido da ordem, pois todos estão presos aos interesses dos grandes empresários, dos milionários industriais ou seja, estão do lado dos inimigos dos trabalhadores e da população.
No entanto, nas universidades públicas pode se constatar que as intensas mobilizações de Junho não foram capazes de impactar os pilares da universidade burguesa, isto é, não deslegitimou as reitorias como castas burocráticas a serviço do governo para garantir a “propriedade privada do conhecimento”, assim como não ajudou a recuperar as entidades estudantis da rotineira tradição deixadas pela esquerda burocrática (PSOL e PSTU) que não dão exemplos de democracia de base, tampouco, utilizam essas posições conquistadas para questionar profundamente o projeto de educação burguesa, das quais as universidades não apenas reproduzem, como elaboram e mais: teorizam, contra o marxismo, contra os trabalhadores e os setores oprimidos.
Uma vez que a formação dos professores está relegada ao currículo das universidades de classe, o seu papel social nas escolas deverá ser o de reprodução da mesma ideologia. Esse ciclo vicioso cumpre o papel de que as lutas dos setores oprimidos sejam ignoradas na escola e somado aos acordos políticos do governo com as instituições religiosas, não haja educação sexual nas escolas (nem mesmo como se propunha o limitado “Kit Escolas sem homofobia”) capaz de garantir que todos os jovens possam compreender seu próprio corpo, refletindo sobre sua construção de gênero e sua sexualidade, podendo com toda a clareza possível experimentar de uma sexualidade livre e plena. Assim como educar todos os jovens com os diversos meios preventivos de doenças sexualmente transmissíveis, como também da gravidez. Pelo contrário, o não combate a essa concepção nas escolas é responsável pelo imenso número de abortos clandestinos que matam milhares de meninas e TRANS-Homens todos os anos. São responsáveis pela contaminação de diversas doenças sexualmente transmissíveis que já poderiam ter sido extintas e por toda forma de opressão que as crianças LGBT sofrem nas escolas, uma vez que, não se desmitifica ou combate os discursos reacionários que qualificam as identidades TRANS* assim como as sexualidades não heteronormativas como doenças, ou degenerações ou ainda “falta de caráter, decência, etc”.
Por isso, que não podemos seguir com essa educação capitalista, que divide o conhecimento e faz das escolas um cárcere para a juventude pobre e negra. É necessário professores revolucionários que defendam o marxismo como pensamento mais avançado, e a partir dele, questionar a educação de nossos tempos.
O papel das burocracias, reitorias e governos para a homofobia na educação.
Da mesma forma que as reitorias cumprem o papel de implementar a ideologia burguesa dentro das universidades, as diretoras das escolas são o braço ideológico do Estado na formação da ideologia da juventude, determinam a “propriedade privada do conhecimento” e para cada setor social impõem uma função.
Da mesma forma, a direção de diversos sindicados da educação como a própria APEOESP, como também diversas entidades estudantis ligadas a UNE ao se colocar ao lado do governo Federal não são capazes de responder as opressões das escolas, nem a estrutura de poder nada democrática e nem fazer uma luta consequente por uma educação pública, gratuita e de qualidade garantindo o acesso a todos e a permanência dos LGBT, que entre TRANS* estão os maiores números de desistência, ainda nos primeiros anos de colégio.
Infelizmente, a esquerda não se coloca frontalmente contra essas instituições. Em suas campanhas eleitorais ou mesmo quando assumem posições em entidades estudantis ou sindicais “esquecem” de denunciar o papel traidor que cumprem essas burocracias e muitas vezes acabam cumprindo o papel de iludir os trabalhadores com discursos de unidade com estes inimigos.
Por isso, como parte da estratégia de organizar a classe operária como sujeito ativo da transformação da sociedade, acreditamos que as sindicais tem um papel fundamental no combate as opressões, pois são responsáveis por organizar os trabalhadores com apoio de estudantes de maneira que não se adaptem as suas lutas econômicas, mas que busquem seu potencial hegemônico, cumprindo um papel de “tribuna do povo”, isto é, levantando os principais anseios da sociedade e assim demonstrando que são os únicos capazes de levar até o fim o combate as opressões. Por isso, exigimos que essas ferramentas dos trabalhadores tomem em suas mãos esses combates, debatendo com o conjunto dos trabalhadores o papel fundamental que tem essa política contra a divisão que a burguesia busca colocar entre os trabalhadores com as opressões e até a tentativa de intensificar a exploração a estes setores. Somente assim, os sindicatos podem cumprir um papel verdadeiramente revolucionário, combatendo a separação entre movimentos sociais e as lutas dos trabalhadores imposto pelo neo liberalismo, separação esta que a esquerda tradicional hoje se adapta completamente.
Lutemos pela igualdade na lei e igualdade na vida.
Com poucos meses para as eleições de 2014, a maioria da população não vê perspectiva de quem votar. É escândalos por todos os lados, os partidos patronais já não mais enganam os trabalhadores. A lógica do “menos pior”, faz cada vez menos sentido, pois as diferenças entre PT e PSDB cada vez menos são notáveis. Sobre as demandas das mulheres e LGBT, isso fica ainda mais claro. Após a permanência por um ano de Marco Feliciano na Comissão de direitos humanos, a ida de Dilma junto de Alckimin a inauguração do templo de Edi Macedo e no programa petista para reeleição ter apenas 1 paragrafo = em 15 páginas – discutindo propostas para as mulheres, não há como se iludir.
Até mesmo o a grande conquista do PT de baixíssimo desemprego com a chegada da crise capitalista no país, começa a não ser mais uma de suas medalhas. Desde 2003 com a posse de Lula havia sido criado 19 milhões de postos de trabalho com carteira assinada. O que se omitia por traz desses números era que estavam, em sua grande maioria, baseados no trabalho precário onde a maioria destes postos estão preenchidos pelas mulheres, os negros e os LGTB.
Ainda considerado como país mais homofobico do mundo – mesmo comparado com os países onde a homossexualidade é criminalizada, os crimes contra os LGBT só aumentam (A cada 26 horas uma pessoa é morta vítima de homofobia. As TRANS* seguem com a perspectiva de vida de 35 anos. E as pesquisas demonstram que o número de assassinatos de LGBT’s só aumenta, de 2012 para 2013 teve aumento de 21%. E cresceu 177% nos últimos 7 anos de governo do PT).
Por isso a luta contra a homofobia não se dá apenas nas escolas. Precisamos de um programa político que responda as nossas necessidades:
- Que as universidades e as escolas se coloque ao lado dxs LGBT! Que a produção do conhecimento e sua influência política garanta educação sexual nas escolas! Pela permanência estudantil das travestis e transexuais! Abaixo o Acordo Brasil-Vaticano. Pelo fim do ensino religioso, heteronormativo, binario e determinista biológico nas escolas!
- Fora bancada evangélica! Fora vaticano! Pela separação da igreja do Estado! Basta de acordos e leis contra os direitos dxs LGBT, mulheres e negros!
- Que as entidades estudantis e sindicatos tomem em suas mãos a bandeira pela liberdade sexual e livre construção de identidade de gênero! Que impulsionem nas campanhas salarias e nos acordos coletivos a inclusão dxs LGBT nos planos de saúde e demais direitos trabalhistas!
- Basta de silicones industriais! Basta de mortes e lesões por não acompanhamento medico! Por um único sistema de saúde, estatizado sob controle dos trabalhadores, para garantir: aborto legal, seguro e gratuito para mulheres pobres e TRANS-homens; cirurgias de redesignição sexual, acompanhamento hormonal e psicólogos para vítimas de violência.
- Não a regulamentação da cafetinagem! Pela descriminalização da prostituição!
- Igualdade na lei e igualdade na vida! Pela aprovação da Lei João Nery! Por um sério plano de luta que garanta todos os direitos iguais para a população LGBT rumo à transformação radical da sociedade!
- Pelo fim da miséria sexual! Por casas abrigos para homossexuais e TRANS* expulsos de casa! Por espaços para a juventude exercer sua sexualidade livremente!
- Basta de assassinatos, violência e mutilações axs LGBT! Aprovação imediata da PLC 122 que criminaliza a homofobia, com comissões independentes do Estado para garantir investigação e punição para os casos de violência e assassinatos!
- Basta de estupros corretivos! Não aceitaremos a heteronormatividade compulsória! Pela livre construção da sexualidade lésbica e bissexual! E pela educação sexual preventiva a DSTs!
- Pela de despatologização das identidades TRANS*! Não há laudo para o que não é doença! Não a cura gay! Não há ciência produzida para justificar a homo-lesbo-transfobia.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Pão e Rosas e Juventude ÀS RUAS no Encontro LGBT DA USP
Veja nossas intervenções no Encontro LGBT da USP:
Virgínia Guitzel, ABC Paulista
Adriano Favarin, São Paulo
Tatiana Cozzarelli, Rio de Janeiro
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Suplemento Especial LGBT (parte 2) - AVANÇOS E CONTRADIÇÕES NA LUTA PELA EMANCIPAÇÃO DE NOSSA SEXUALIDADE
A partir do estourar da crise mundial em 2008, temos
presenciado cada vez maiores embates entre um ou outro direito obtido pelxs
homo e TRANS* e a virulência com a qual os setores mais reacionários da
sociedade respondem. Essa situação tem evidenciado o engodo propagado por
vários anos de que a nossa emancipação se daria pela via de conquistas
progressivas e acumulativas de direitos com a “ampliação da cidadania” dentro
dos marcos do atual Estado capitalista. O aumento dos índices de assassinatos
de homo e TRANS*, a situação de vida miserável na qual são lançadxs xs
LGBT e as mobilizações de massas organizadas pelas Igrejas e políticos
conservadores contra projetos de legalização do matrimônio igualitário
escancaram que, dentro desse sistema social, econômico e político, os pequenos
direitos conquistados estarão sujeitos aos cortes e ajustes que os governos e
instituições financeiras internacionais imponham como também aos vai-e-vens das
relações de forças sociais. O governo Dilma, do PT, já não consegue mais
esconder que por trás de discursos supostamente “progressistas” se encobrem
compromissos com setores direitistas e concessões às bancadas moralistas que
visam reforçar o controle social à custa da retirada de liberdades
democráticas.
A primavera do
movimento sexual.
Anos 60 e 70, os
primórdios da luta pela libertação sexual.
Encontrando-se nos limites do crescimento econômico parcial
proporcionado pelo fim da Segunda Guerra Mundial e desiludida com as
perspectivas de futuro em um mundo polarizado entre um capitalismo que não
apresentava qualquer nova esperança e um socialismo degenerado pelo stalinismo
em uma ditadura burocrática contra xs trabalhadorxs e setores oprimidos, a
juventude se radicaliza internacionalmente nos finais da década de 60 e toma as
ruas contra a crise econômica, contra a guerra do Vietnã, contra o arrocho de
vida, contra a moral e os costumes conservadores e contra a ordem social e
cultural vigente.
Em várias partes do mundo essa explosão de indignação e questionamento da juventude se liga com as demandas econômicas e políticas da classe operária e da maioria da população, originando ascensos revolucionários de massas. Esse processo invade a vida privada e revira as roupas de cama, mesa e banho da família nuclear burguesa, entorna os vinhos e champanhes no chão da sala de jantar e enfia as mãos até os cotovelos nos cestos de peças íntimas retirando, fétidas, peça por peça de toda a moral cristã apodrecida e de sexualidade conservadora e miserável da família tradicional.
É nesse contexto que o movimento pela libertação sexual sai
do “armário” imposto pela repressão, irrompendo na cena mundial com as
barricadas de Stonewall e a visibilidade “orgulhosa”. Entre a defesa
intransigente das travestis, trans e homossexuais do espaço do bar Stonewall
contra as violentas e cotidianas batidas policiais e as passeatas e organização
em torno da afirmação identitária e sexual sobre ser “gay” e “lésbica”, xs homo
e TRANS* travavam um combate à família tradicional, ao par heterossexual
monogâmico e a todas as relações intersubjetivas que eles engendravam,
marchando em defesa do amor livre e da vida comunitária. Colocavam a luta pela
livre expressão da sexualidade como parte da luta em defesa do direito à mente
e ao corpo, pela defesa do direito à maternidade e ao aborto.
Compreendiam a família tradicional como uma reprodução em menor escala do Estado capitalista, fonte da educação e reprodução dos valores da sociedade patriarcal e normativa, combatiam na linha-de-frente a miséria sexual que assolava a humanidade de conjunto e por isso mesmo faziam de sua luta uma luta política contra as bases do sistema capitalista. A luta pela liberdade social era vista dentro do movimento pela libertação sexual como condição primordial para a conquista dessa libertação. Nessa perspectiva xs homo e TRANS* se organizavam para combater tanto a ordem capitalista quanto o controle férreo da burocracia stalinista nos Estados Operários.
Em 28 de junho de 1969, em Nova York, no bar StonewallInn,
xs homo e TRANS* afro-americanos e porto-riquenhos resistiram às investidas
repressoras da polícia se organizando para defender seu espaço e em 1970 a
organização "Frente de Liberação Gay (GFL)" surgida nesse processo
participava da Convenção Revolucionária organizada pelos Panteras Negras.
Antes, em 1º de novembro de 1968, durante a ditadura militar na Argentina,
surgia no subúrbio operário de Buenos Aires o primeiro grupo político-sexual da
América Latina, “Nuestro Mundo”. Dirigido por um sindicalista comunista expulso
do PC por ser homossexual, este grupo atuou na clandestinidade até se fundir
com outros grupos em 1971 na “Frente de Liberación Homosexual (FLH)” lançando o
Manifesto “Sexo y Revolución”. Na sequência dos processos que em maio de 1968
sacudiram a França, no qual xs estudantes universitárixs foram até as fábricas
se ligar com xs operárixs em greve para paralisar o país, surgiria a
"Frente Homossexual de Ação Revolucionária (FHAR)", com o objetivo de
organizar xs trabalhadorxs e xs homo e TRANS* para uma revolução política,
social e sexual. Em 1º e maio de 1971, no Dia do Trabalhador, a FHAR desfilava
ao lado dx soperárixs com uma faixa “Abaixo a ditadura dos normais!” e buscava
se ligar com as organizações partidárias da extrema-esquerda, como as
trotskystas, na perspectiva da revolução:
“Para nós, a luta de classes passa também pelo corpo. O que significa
que nossa recusa em suportar a ditadura da burguesia está libertando o corpo
dessa prisão, que durante 2 mil anos de repressão sexual, de trabalho alienado
e de opressão econômica foi sistematicamente fechado. Então, não existe nenhuma
possibilidade de separar nossa luta sexual e nosso combate cotidiano pela
realização de nossos desejos, de nossa luta anticapitalista, de nossa luta por
uma sociedade sem classes, sem mestre, nem escravo.”
Dezesseis grupos de dez países irão formar a Internacional
Homossexual Revolucionária (IHR). Pela primeira vez na história, o
questionamento da repressão sexual buscava a superação da sociedade do capital,
se ligando com a classe operária em uma perspectiva revolucionária e
internacional.
O outono do movimento
sexual.
Anos 80 e 90, os
primórdios do neoliberalismo, da cooptação e da restauração burguesa.
As organizações criadas pela classe operária, como os
partidos social-democratas e comunistas, e até mesmo os sindicatos e os Estados
Operários burocratizados, porém, não impulsionaram esse processo convulsivo de
greves selvagens e intensos debates no meio revolucionário sobre amor-livre e
combate a todas as formas de opressão. Pelo contrário, atuaram como freios do
ascenso revolucionário de massas e como agentes da implementação das medidas
que reconfigurariam pelos próximos 30 anos o domínio capitalista pela via da
fragmentação dxs trabalhadorxs com o neoliberalismo. Essa situação desmoralizou
politicamente das massas à vanguarda e endossou um ceticismo profundo sobre a
possibilidade da transformação social pela via da organização e direção
revolucionária da classe trabalhadora. A desorientação e fragmentação anterior
da esquerda revolucionária com o fim da Segunda Guerra Mundial impediu que uma
direção consequente canalizasse todo esse rico processo dos anos 60 e 70 e a
classe dominante conseguiu se sustentar pela via do avanço sobre os Estados
operários burocratizados pelo stalinismo, por meio do crescimento das formas de
regime democrático capitalista incluindo a participação da classe média e de
setores privilegiados da classe operária e envolvendo os movimentos sociais e
subversivos da moral e dos costumes sob a tutela e institucionalização do
Estado.
Exatamente assim se procedeu com o subversivo movimento pela
libertação sexual. A incorporação de algumas demandas de igualdade sexual na
pauta de políticas públicas do Estado visando à cidadania cooptou uma parte
significativa dxs homo e TRANS* da pequena-burguesia que tiveram a porta aberta
ao consumismo, ainda que em guetos voltados para sua orientação sexual
“dissonante”. A consolidação de um mercado gay e a exaltação do indivíduo tendo
sua realização no consumo firmaram as bases do “pinkmoney” e permitiu que a
classe dominante quebrasse ao meio o movimento pela libertação sexual. Enquanto
isso, os setores homo e TRANS* da classe trabalhadora padeciam na
marginalização, no aumento dos índices de desemprego, na proliferação da
pobreza, da violência policial, no aumento da exploração nos postos de
trabalhos precarizados, na prostituição e na degradação social e também,
sexual, a partir da restrição de sua satisfação e práticas sexuais ao
esconderijo, sujeito a ambientes insalubres, perigosos e anti-higiênicos.

Por uma saída
revolucionária para nossa sexualidade!
A revolução, ainda
hoje, é uma condição fundamental para nossa emancipação.
Os longos anos de neoliberalismo aprofundaram um
distensionamento na busca por uma estratégia capaz de alcançar a emancipação de
nossa sexualidade. O que ficou conhecido como “grau zero de estratégia” nos
anos reacionários, onde se restauraram o capitalismo nos ex-estados operários e
se construiu uma forte ideia de triunfo do capitalismo, “fim da história” e
“fim da classe trabalhadora”, foi responsável pelas diversas analises que hoje
fundamentam o movimento LGBT/Queer.
Essa derrota objetiva, ligado ao fato do marxismo clássico e dos marxistas revolucionários que o sucederam não terem desenvolvido nenhuma tese ou contribuição à libertação sexual, com foco na opressão sofrida pelos LGBT, abriram o caminho para a construção de uma estratégia de emancipação pelos setores reformistas ou pós-modernos, sem lançar luz a partir das ferramentas do marxismo, no sentido da emancipação revolucionária de toda forma de sexualidade e identidade de gênero. O stalinismo, de forma mais completa, traiu a luta dos setores oprimidos e garantiu uma ampla influência em diversos partidos comunistas do mundo de invisibilizar e não oferecer nenhuma alternativa para os que mais sofrem com a sexualidade não-heterossexual e as identidades TRANS*. A identificação errônea do stalinismo com o socialismo foi a grande responsável pelo abandono dessas ferramentas pelxsLGBT's.
A cisão dos movimentos sociais com a luta dos trabalhadores costurada nesses anos que chamamos de restauração burguesa garantiu o surgimento de uma tendência dentro do movimento LGBT que tem grandes pensadores que a representam, sendo ainda hoje muito referenciados: Foucault e Judith Butler, como principais símbolos.
A teoria Queer e toda uma “onda” do trans-feminismo hoje se pautam pela visibilidade (luta por ganhar espaços midiáticos e impor um reconhecimento social) e pelo idealismo, que retorna a Hegel, Austin e outros teóricos, para afirmar que “a linguagem determina a vida” e a ideia de “poder da fala”. Se por um lado há que se reconhecer como um progresso a visão difundida de que a construção da identidade de gênero e da sexualidade são frutos da sociedade em que vivemos, por outro, esta alternativa descolada da materialidade e das relações sociais nos parece um grande retrocesso estratégico na luta por nossa emancipação. Isto é, nossa assimilação do que somos, nossa construção individual, não pode se desligar das condições materiais que partimos para construí-las, da sociedade de classes, das variadas combinações de opressões e da ordem heteronormativa, binária e transfóbica a que somos bombardeados. Isso não deve nos levar a lógica de que somente os LGBT são oprimidos por sua sexualidade e identidade de gênero, mas sim que toda repressão sexual é fruto de uma necessidade objetiva do capitalismo de dominar nossos corpos e mentes para avançar na sua exploração, isso pode ser identificado na sexualidade reprodutiva que a maioria dos trabalhadores possuem, de maneira compulsória, sem ter conhecimento sobre o próprio corpo, deixando para as mulheres trabalhadoras a responsabilidade materna, sem a permissão de sentir prazer e construir sua identidade livremente.

Se, por um lado, a teoria Queer combate a reacionária visão
de determinismo biológico (onde muitos LGBT se apoiaram num combate defensivo a
ideologia da AIDS como “doença gay”), onde a biologia determinaria 100% nossa
sexualidade e nosso gênero (impossível de ser re-construído) – o que serve de
base para visões conservadoras e religiosas de patologização das identidades
TRANS* e da sexualidade não normativa (sem fins reprodutivos), por outro, joga
xs LGBT numa deriva estratégica, que em última instancia deposita no Estado
ilusões de reformas progressistas, em geral pela via da reeducação da qual o
pós-modernismo se debruça a construir a partir de uma contra-cultura.
Ainda que reconheça a sociedade capitalista, o
pós-modernismo em suas mais variadas correntes de pensamento, não analisa os
pilares do sistema capitalista buscando destruí-los para erguer uma sociedade
comunista, onde sejamos verdadeiramente livres e possamos desconstruir e
construir livremente nossas expressões e identidades. Por isso, para além da
produção teórica – que sem dúvida cumpre um papel chave de combate a ideologia
dominante que segue vigente nas universidades burguesas produtoras das mais
variadas opressões - a revolução ainda segue como condição fundamental para
nossa emancipação. A Revolução Russa – sobre a qual nos apoiamos –, que em 1918
já garantia a liberdade sexual (legalizando a homossexualidade), demonstra que
mesmo as democracias capitalistas mais avançadas de hoje, ainda não podem
garantir sequer o fim das padronizações para não se desvincular do “mercado
rosa” (Pink Money), um nicho de mercado voltado ao público LGBT pequeno burgues
ou diretamente burgues, que mantém "até onde se tolera" xs LGBT nos
marcos do regime. O mercado rosa é uma das variadas formas de
"inclusão" que amplos setores reivindicavam como medida progressiva
de inclusão social dxs LGBT, que, no entanto, só expressa como apenas uma
pequena parcela pode ser incluída, determinada novamente pelo caráter de
classe.
É também lição da revolução russa, de que a transformação
das bases econômicas não garantirá de imediato a nossa emancipação. Todavia, a
revolução segue como condição para libertar todos os países da lógica
capitalista de consumo, propriedade e de reprodução da família como regra, para
permitir que revolução avance em todos os níveis, que destrua os pilares que perpetuam
o machismo, o racismo e a homo-lesbo-transfobia. Sendo o capitalismo herdeiro
último da sociedade patriarcal dividida em classes, é necessário defender
fortemente a sua destruição internacional para que permita erguer-se uma nova
sociedade baseada na relação de produtorxs e reprodutorxs livres, o que só é
possível com uma política internacionalista também no âmbito da sexualidade.
Suplemento Especial LGBT (parte 1) - O FALSO PROGRESSISMO DO PT E AS MOBILIZAÇÕES DE JUNHO
A necessidade de uma estratégia revolucionária para
nossa emancipação.
“É um fato curioso que, a cada grande movimento
revolucionário,
vem à tona a questão do ‘amor livre’.” (F. Engels, 1883)
Se resgatarmos o período da última eleição presidencial até
junho de 2013 vamos perceber que o horizonte para xs homo e TRANS* ficava mais
sombrio a cada dia que passava. A partir do compromisso firmado entre Dilma e a
bancada religiosa, vimos primeiramente a pauta da legalização do aborto e do
direito a maternidade ser simplesmente rasgada pelo PT; depois as cartilhas
educacionais e de saúde voltadas para explicar sobre a sexualidade e as DST’s
foram banidas; o acordo Brasil-Vaticano vigorava e na medida que o ensino
religioso nas escolas se ampliava, se ampliava também o número de homossexuais
assassinados no país (de 2003 à 2007, aumentou-se 117% de assassinatos a LGBT –
dos registros oficiais); e na coroação dessa ofensiva, o PT fechava acordo com
o Partido Social Cristão que colocaria Marco Feliciano, pastor declaradamente
homofóbico e racista, na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias
(CDHM) da Câmara dos Deputados.
Também
a estratégia de pressão por via de atos de rua para exigir dos governos a
aprovação de leis, como propõe o PSTU, termina servindo aos mesmos interesses,
pois novamente não deposita energias na construção de um serio plano de lutas
organizado desde a base, pelo contrário, atuam por fora dos sindicatos e
entidades estudantis que dirigem desperdiçando o importante papel de
reconstruir a ponte entre as demandas dos setores oprimidos e a luta dos
trabalhadores. A única maneira em que a luta pela criminalização da homofobia
pode servir para organizar xs homo e TRANS* na luta contra o Estado é se a
esquerda superar a estratégia “antineoliberal” e adotar uma estratégia
verdadeiramente revolucionária, que parta de reconstruir a ligação, destroçada
pelo neoliberalismo, entre os movimentos sociais e o movimento operário, sendo
somente por meio dos métodos dos trabalhadores a única possibilidade de
alcançar as demandas dos setores oprimidos, levantando bandeiras que se
enfrentam não apenas com a moral burguesa, mas com a estrutura do capitalismo
que a mantém.
De Milk à Jean Wyllys:
Se retomarmos a trajetória de Harvey Milk, primeiro
homossexual declarado a assumir um cargo político nos EUA, veremos que desde
sua participação na revolta de StoneWall até seu assassinato em 1978, sua
estratégia era puramente reformista, mas infinitamente mais combativa à postura
de Jean Wyllys, que vê no parlamento um “plano de carreira”, onde defende com
unhas e dentes os super-salários. De um a outro, podemos ver que nas situações
mais diversas, tanto com um parlamentar que participou da revolta de StoneWall
até Jean Wyllys, que hoje nos próprios projetos de lei atacam os setores
oprimidos, o reformismo não foi uma alternativa. As lutas dxs LGBT não se
inserem no marco de “mais direitos”, pois a liberdade sexual exige uma
superação da ordem vigente, para que nossos corpos e mentes sejam
verdadeiramente livres. Enquanto a lógica capitalista de produção e lucro
prevalecer nossos corpos não poderão ser mais do que objetos, nossa sexualidade
mais do que uma função reprodutiva à serviço da construção de um exército de
reserva e nossas mentes patologizadas por querer construir livremente nossas
identidades.
ico nas escolas!
- Basta de silicones industriais! Basta de mortes e lesões
por não acompanhamento medico! Por um único sistema de saúde, estatizado sob
controle dos trabalhadores, para garantir: aborto legal, seguro e gratuito para
mulheres pobres e TRANS-homens; cirurgias de redesignição sexual,
acompanhamento hormonal e psicólogos para vítimas de violência.
Porém, em junho de 2013 vimos tudo isso mudar. A partir da
mobilização de massas da juventude foi possível barrar o projeto de cura-gay e
do Estatuto do Nascituro apresentado pelos setores conservadores na Câmara,
após junho os questionamentos e alvoroços sobre a aprovação da união estável
entre homossexuais, de súbito, silenciaram. A luta nas ruas e a atuação
coletiva das massas de juventude freou o avanço que os setores mais
conservadores da sociedade, benzidos e abençoados pelo governo do PT, estavam impondo
sobre a vida e os direitos dxs LGBT. Essa conquista conjuntural nos fez extrair
a lição de que a estratégia individualista de simplesmente nos construirmos
como somos por fora de atuar coletiva e politicamente pelos nossos direitos não
serve. Permite também confrontarmos esta lição com a experiência histórica que
xs homo e TRANS* se propuseram na década de 70, de encabeçar a linha de frente
da luta pela libertação sexual de toda a humanidade sempre buscando ter consigo
o apoio e a participação da maioria dos setores da sociedade, em especial xs
trabalhadorxs.
A ausência dxs trabalhadorxs como sujeito político e a
debilidade dos sindicatos e das entidades estudantis de organizarem a juventude
e tomarem em suas mãos as bandeiras dxs LGBT nas manifestações de Junho foi o
seu principal limite. Isto fez com que, mesmo com as derrotas que o movimento
impôs à pauta dos conservadores, Marco Feliciano permanecesse até o final do
seu mandato na presidência da CDHM.


Esse limite, porém, tem uma superação sem precedentes
apontada em fevereiro de 2014, quando xs bravxs garis do Rio de Janeiro decidem
interromper o Carnaval carioca como nenhum setor social poderia sonhar em fazer
para exigir a valorização do salário. E sem se dobrar perante as ameaças do
prefeito, do patrão, do juiz, da polícia e nem da burocracia sindical conseguem
impor uma fragorosa derrota à classe dominante e um exemplo para xs
trabalhadorxs e oprimidxs! Somente imagine a moralização para xs trabalhadorxs,
e o choque educativo contra a ideologia dominante homofóbica e machista que não
haveria, se um grupo organizado de homo e TRANS* se colocassem ativamente a
apoiar e prestar solidariedade a esta luta? Imagine os frutos que essa aliança
não traria também na luta pelas pautas dsx LGBT, ao terem suas bandeiras
levantadas pelxs garis com os métodos operários de piquetes e paralisações?
“Não tem arrego” nem para Feliciano nem para Bolsonaro!
Essa, a estratégia revolucionária, baseada nas mobilizações
coletivas de massas, na organização dos setores oprimidos em aliança com xs
trabalhadorxs e na hegemonia dos métodos e da centralidade da classe operária,
é a única que pode responder contra a homofobia e na conquista, inclusive, dos mínimos
direitos formais hoje negados pelo Estado capitalista e sujeitos ao jogo das
forças sociais, aos acordos político-parlamentares e, pelos vai-e-vens da
economia, ao sabor e gosto do FMI e do Banco Mundial. A garantia do fim da
homofobia vai muito além da existência de uma lei. Como bem sabemos, com oito
anos de existência, a Lei Maria da Penha não conseguiu reduzir mais do que 5%
dos casos de feminicídio e nem dize sobre a violência contra a mulher. Também a
criminalização do racismo até hoje não puniu ninguém por este crime – e não nos
faltam exemplos de racismo, inclusive amplamente divulgados pela mídia e
cometidos por figuras públicas, que podemos citar!
Dirigir o movimento, como fazem as correntes LGBT ligadas ao
PSOL, com o norte na luta pela aprovação de leis (PLC’s) por esse Estado
capitalista através da pressão pela via dos seus lobbys parlamentares, como
Jean Wyllys e outros, só serve para fortalecer um Estado regulador e não
combater o problema social. Ao mesmo tempo em que existe pouco ou nenhum
investimento em tudo o que possa transformar a pobreza, a dependência e a
precarização das mulheres, existem inúmeras leis penais para protegê-las, mas
que não garantem igualdade na vida. Fazer deste o norte estratégico de luta dxs
homo e TRANS*, como defendem xs reformistas do PSOL, significa depositar no
Estado capitalista todas as fichas para nossa emancipação, sem nenhuma ação
efetiva rumo a sua destruição.
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De Milk à Jean Wyllys:
a incapacidade do reformismo para responder
nossas reivindicações
Centenas de LGBT hoje se veem representados pelo deputado
Jean Wyllys (PSOL), pelo seu combate as bancadas religiosas que tentam
repetidamente retroceder nos direitos conquistados pelos setores oprimidos. A
ilusão que Jean Wyllys cria no poder do Estado em defender os setores oprimidos
é parte de sua estratégia de garantir direitos acumulativos a partir de
projetos de lei, mas sem nenhuma organização independente rumo à tomada do
poder.
Para alguns, o simples fato de termos homossexuais dentro do
Estado já é em si um avanço progressista. Porém, com a chegada de uma
presidenta mulher ao poder, podemos facilmente identificar que o gênero, a
etnia ou a sexualidade não garantem por si uma política emancipadora. Os
projetos de lei de Jean Wyllys, com destaque para a Lei Gabriela Leite, revelam
que as políticas ditas como “progressistas” não se enfrentam com a ordem
capitalista, pelo contrário, neste projeto de lei, Jean Wyllys regulamenta a
cafetinagem e ainda institui que só é reconhecido como exploração sexual a
“apropriação total ou maior que 50% do rendimento de prestação de serviço
sexual por terceiro”, o que demonstra à quem esse PL favorece. E se considerarmos
que as travestis e transexuais são as mais afetadas pela prostituição
compulsória (única alternativa para garantia de sua sobrevivência), o projeto
de Lei não se apresenta como alternativa consequente, pois desconsidera a
impossibilidade de legislar sobre a prostituição marginal da qual sofrem as
TRANS*.

- Que a universidade se coloque ao lado dxs LGBT! Que a
produção do conhecimento e sua influência política garanta educação sexual nas
escolas! Pela permanência estudantil das travestis e transexuais! Abaixo o
Acordo Brasil-Vaticano. Pelo fim do ensino religioso, heteronormativo, binario
e determinista biológ
- Fora bancada evangélica! Fora vaticano! Pela separação da
igreja do Estado! Basta de acordos e leis contra os direitos dxs LGBT, mulheres
e negros!
- Que as entidades estudantis e sindicatos tomem em suas
mãos a bandeira pela liberdade sexual e livre construção de identidade de
gênero! Que impulsionem nas campanhas salarias e nos acordos coletivos a
inclusão dxs LGBT nos planos de saúde e demais direitos trabalhistas!

- Não a regulamentação da cafetinagem! Pela
descriminalização da prostituição!
- Igualdade na lei e igualdade na vida! Pela aprovação da
Lei João Nery! Por um sério plano de luta que garanta todos os direitos iguais
para a população LGBT rumo à transformação radical da sociedade!
- Pelo fim da miséria sexual! Por casas abrigos para
homossexuais e TRANS* expulsos de casa! Por espaços para a juventude exercer
sua sexualidade livremente!
- Basta de assassinatos, violência e mutilações axs LGBT!
Aprovação imediata da PLC 122 que criminaliza a homofobia, com comissões
independentes do Estado para garantir investigação e punição para os casos de
violência e assassinatos!
- Basta de estupros corretivos! Não aceitaremos a
heteronormatividade compulsória! Pela livre construção da sexualidade lésbica e
bissexual! E pela educação sexual preventiva a DSTs!
- Pela de despatologização das identidades TRANS*! Não há
laudo para o que não é doença! Não a cura gay! Não há ciência produzida para
justificar a homo-lesbo-transfobia.
Trotsky e a Teoria Permanentista da Revolução como saída revolucionária para as demandas democráticas.
Por
Virginia Guitzel
Apesar do movimento revolucionário e a
classe operária ainda se mantem marcados pelas profundas derrotas e traições
das direções do movimento operário internacional, a chegada de uma crise
capitalista de proporções históricas que é constantemente comparada a crise da
década de 30, reatualiza conceitos como “luta de classes” e
"revoluções" que pareciam perdidos nestes últimos 30 anos, de
ofensiva ideológica burguesa combinada com o avanço do neoliberalismo e o
desaparecimento da perspectiva socialista com a restauração capitalista nos
antigos estados operários, em especial o leste europeu e a antiga URSS. As
consequências disso também se fazem sentir no âmbito das organizações de
esquerda, com o abandono das posições revolucionárias e o fortalecimento do
reformismo de esquerda e na tática de partidos amplos sem delimitação de classe.
Esse retrocesso do pensamento de estratégia (socialista) contribuiu para a
esquerda e os partidos de trabalhadores ou se adaptassem (muitas vezes chegando
a capitulação e degeneração) ou o liquidacionismo sectário que implica em pequenos
grupos incapazes de testar seus programas, repetindo consignas do passado sem a
dialética entre o programa e a realidade para comprová-lo.
Os revolucionários tem hoje como tarefa
resgatar os fios de continuidade com o marxismo revolucionário para partindo
dele, conseguir compreender o cenário internacional e nacional para então poder
construir um instrumento de luta dos trabalhadores, dos povos oprimidos e dos
setores oprimidos e assim garantir uma luta efetiva contra o capitalismo, pela
emancipação da humanidade. Retomar as elaborações já escritas, não como
autoridade inquestionável, mas como contribuições já postas e com diversas
superações fruto de um longo debate interno que pôde inclusive ser testado na
realidade se faz necessário para os milhares de jovens e trabalhadores que tem
protagonizado convulsivos levantes por todo o mundo, em maioria, impulsionados
por demandas democráticas formais como uma expressão da decadência do sistema
capitalista que é “incapaz de satisfazer as reivindicações que surgem
infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou”. Mas que ao
desconhecerem tais debates passados, a juventude e os trabalhadores que hoje
despertam a vida política partem de recomeçar praticamente do zero a construção
de uma estratégia para nos levar a vitória sob a burguesia. Acontece que não
partimos do zero, partimos da dedicação de diversos revolucionários como
Engels, Marx, Lenin, Rosa e Trotski e sobre seus legados é que construímos um
programa para a atualidade.
A crise
capitalista evidencia os limites da democracia burguesa e a necessidade da
revolução socialista.
À medida que a crise econômica vai
avançando, evidencia consigo mais e mais a atualidade do período chamado por
Lênin de ‘Imperialismo’, no qual o mundo inteiro já foi partilhado entre a
dominação dos países imperialistas somado a divisão do trabalho internacional.
Esses fatores acumulam tamanha contradição entre as condições objetivas dessa
sociedade que possibilitam a construção de uma sociedade socialista e a crise
histórica de direção revolucionária para alcançar este objetivo. Enquanto a
classe operária e os oprimidos ainda carecem de uma direção revolucionária que
levante um programa pela independência política dos trabalhadores e estimule a
solidariedade da classe operária com os oprimidos, fazendo com que a classe
trabalhadora tome para si as bandeiras de todos os setores oprimidos (para
assim tornar-se o sujeito hegemônico na luta anti-capitalista), se desenvolvem
diversos outros pensamentos ideológicos fruto desses últimos trinta anos (1981-2011)
de um abandono da reflexão estratégica (da tomada do poder, da ditadura do
proletariado e da luta pelo comunismo). A organização da juventude hoje em
diversos países está pautada com bandeiras claras de luta anti-austeridade e/ou
contra a desigualdade social. Não podem, no entanto, serem consideradas como
lutas anti-capitalistas
pelo socialismo, pois muitas vezes acabam por defender o capitalismo do período
recente com uma relativa estabilidade e o “estado de bem estar social” (nos
países avançados), uma vez, que a forma mais avançada de sociedade vivenciada e
conhecida por estes ativistas sempre foi a democracia
burguesa
Sem a visão clara que esta democracia
tem um limite bastante concreto: de classe. E que as demandas democráticas mais
sentidas pela juventude e pelos trabalhadores não podem ser conquistadas pela classe
burguesa. Também pouco é discutido sobre a democracia como forma de desvios
revolucionários, de maquiar a ditadura burguesa e da dependência do Estado para
existir democracia. Que a luta pelo fim da exploração, fim da divisão em
classes passa pela luta revolucionária contra o Estado (pela tomada do poder
seguida de destruição do aparelho estatal) superando assim a democracia para o
comunismo.
Esse grau zero de estratégia gerou a
formação de novas teorias para responder os fenômenos sociais sem a
centralidade da classe operária ou de uma base marxista. Entre essas novas
teorias, encontramos o autonomismo, que
se apresenta mais como uma espécie de “espírito de época” do que como “teoria”
propriamente dita. Se expressa mais claramente na organização,
majoritariamente, da juventude como o movimento Occupy Wall Street (OWS, nos
EUA), #Yosoy132 (movimento surgido no Mexico nas eleições presidenciais de
2011) e os Indignados na Espanha, tem como principais pontos débeis a falta da
compreensão do papel estratégico dos trabalhadores (e da aliança da juventude
com eles), a necessidade da tomada do poder (lutar por demandas por fora do
regime capitalista) e talvez o ponto mais distante da reflexão destes grupos: a
necessidade da construção de um partido marxista revolucionário para impedir
que os patrões e governo descarreguem a crise capitalista (por eles gerada) nas
costas dos trabalhadores e assim impor a estes mais anos de submissão,
exploração e opressão.
É nesse novo período em que nos
encontramos que as demandas democráticas tomam um papel superior para os
revolucionários. Paralelamente aos levantes da juventude, que atuam como caixa
de ressonância das contradições do capitalismo, vem avançando muito lentamente
e repleto de dificuldades, o processo de reorganização subjetiva (como vemos o
caso da conformação do IPT, Partido dos Trabalhadores na Bolívia, a fundação de
mais de 1000 sindicatos independentes da central estatal no Egito, desde a
queda de Mubarak e o processo de Sindicalismo de base na Argentina). Enquanto a
classe operária vai bem lentamente recuperando sua independência dos patrões e
começando a se reorganizar, a burguesia muitas
vezes apoiando-se nas instituições religiosas grita demagogicamente
a favor da democracia e até concedem alguns direitos formais para cooptar
setores oprimidos acomodados, para provocar um confusionismo dentro do
movimento e a tentativa de relocalizar os governistas para capitalizar
eleitoralmente todas essas discussões.
Indicam
como Papa, um Francisco, em alusão a sua “ligação igualitária com os pobres” e
encobrem as manchas de sangue que o ex-Guarda de Ferro Bergoglio traz da sua
cumplicidade com a ditadura argentina; no Brasil o parlamento burguês aprova a
união homoafetiva na mesma semana que indicam um pastor racista e homofóbico à
presidência da Comissão de Direitos Humanos (e ainda se mantém no poder, apesar
de todo rechaço nacional e midiático); aprovam política de cotas nas
universidades e depois tentam e intensificam a repressão policial e o
assassinato de jovens pretos e pobres nas periferias; É nesse cenário que urge
à classe operária levantar um programa que responda aos interesses dos setores
oprimidos pelo capitalismo e que não podem ter na burguesia nenhuma ilusão de
solução para as mínimas questões democráticas.
Ao mesmo tempo que se expressa uma
reação com a marcha de milhares contra a aprovação do casamento homoafetivo na
França, a conquista dessa aprovação tem que ser vistas nos marcos das
conquistas por dentro do regime capitalista, como dizia Marx:
Não há dúvidas
de que a emancipação política representa um grande progresso e, embora não seja
a forma mais elevada da emancipação humana em geral, é a forma mais elevada da
emancipação humana dentro da ordem do mundo atual[1].
Apesar dos revolucionários não
reivindicarem o casamento, por conta da sua constituição histórica (opressão as
mulheres, forma de relação burguesa – constituição de família, baseada na
propriedade privada -, valores possessivos, etc), não nos colocamos contra a
inclusão dos LGTTBIs na igualdade de direitos, ainda que tenhamos de forma
clara seus limites. Nos colocamos como linha de frente na luta por sua
emancipação política (inclusão total, garantia de todos os direitos, dentro do
regime capitalista), porém defendemos um programa com independência política
dos trabalhadores e dos oprimidos justamente para que vá além da emancipação
política, da democracia burguesa, etc. Queremos emancipar a humanidade de toda
exploração e dominação da burguesia sob nós. Queremos nós, trotskistas, até o
fim, alcançarmos nosso objetivo da construção de um novo mundo, livre da
dominação burguesa (aperfeiçoada com as opressões) e da exploração capitalista,
assim mudando radicalmente a natureza dessa sociedade que é baseada na divisão
de classes, e portanto na necessidade de um Estado.
A visão
permanentista de Trotsky para responder as demandas dos oprimidos e dos
trabalhadores.
Ainda que possa parecer difícil
estabelecer uma relação direta entre o dirigente da revolução russa, com as
questões democráticas tais como sentidas hoje, muito por conta de toda
propaganda feita da URSS e do stalinismo como “socialismo real”, isso é, única
forma possível de socialismo. Basta apenas fazermos um resgate histórico do
papel que este militante revolucionário teve no combate ao stalinismo e suas
políticas reacionárias com os trabalhadores e os oprimidos (perseguindo
operários e retrocedendo em diversos avanços conquistados em 1917 como a
naturalização das relações homoafetivas e o direito ao aborto, para citarmos
como exemplo). Veremos que muito além do grande dirigente da classe operária,
Trotsky elaborou a partir de sua visão permanentista da revolução[2],
bases ideológicas e programáticas que para além da necessidade de expandir do
nível nacional, ao internacional até alcançar mundialmente, via claramente a
necessidade de se estabelecer uma base econômica planificada democraticamente (portanto,
organizada) para que a revolução se desse em todos os níveis.
Ao retomar Engels, em a Origem da Família, da propriedade privada e
do Estado, Trotsky recupera a compreensão histórica do processo do avanço
da atividade humana (o trabalho) que se desenvolveu de forma com que o trabalho
masculino da caça e posteriormente da agricultura possibilitassem a produção de
excedente à sobrevivência imediata, o que significou um tempo livre, que antes
era totalmente utilizado no trabalho para a sobrevivência destas tribos. Com a
produção de excedente, o trabalho masculino começou a se sobrevalorizar ao
trabalho feminino, que por conta das mulheres biologicamente serem responsáveis
pela amamentação tinham de ficar próximas da tribo, onde estavam as crianças
menores, impedindo-as de desenvolver o trabalho masculino que era,
majoritariamente, fora da aldeia. Essa sobrevalorização do trabalho masculino e
a produção de um excedente (produto amais do que a necessário para a
subsistência) possibilitou que houvesse algo a ser transmitido para futuras
gerações, assim para garantir que esse excedente ficasse dentro daquela família
se fazia necessário saber quem era o progenitor (criando assim o conceito de
hereditariedade e transformando o fruto desse trabalho apropriado por apenas
estes, transformando então em propriedade privada). Assim ocorreu o inicio da
divisão entre homens e mulheres (não natural, mas social), tornando-se
necessário a opressão as mulheres, impondo-as a monogamia como forma de
certificar de que aqueles filhos – que herdariam esta propriedade, agora
privada, antes comunal – eram realmente daquele homem (o único que mantinha
relações sexuais com a mãe. O fim da matrilinearidade significa não a simples
mudança de organização da família ou a linhagem daquelas tribos, mas é a marca
do inicio da divisão entre os homens e a mulheres e também entre as classes.
Partir da origem da opressão a mulher que Engels elabora a
partir de rascunho deixados por seu companheiro Marx, evidencia que a luta
contra a divisão da humanidade em classes, da dominação burguesa e a
defesa da centralidade
da classe operária enquanto principal sujeito revolucionário nunca esteve em
detrimento de defender o direito dos LGTBBI’s, das mulheres e dos negros. Ao
contrário, era exatamente por compreender que “aqueles que lutam com mais energia pelo novo foram os que mais
sofreram com o velho” e que a única maneira de lutar pelo direito dos
oprimidos passava, irremediavelmente, pela organização destes setores a partir
da classe trabalhadora e da atuação desta como tribuna do povo, hasteando bem
alto as bandeiras democráticas mais sentidas pelo conjunto da população, que
Trotsky se forjou como um grande dirigente revolucionário. É colocando
historicamente o desenvolvimento da humanidade que se faz claro a visão abrangente
que se explicita nos escritos dos marxistas.
Ainda que o revolucionário bolchevique
não tenha se debruçado em elaborar um programa especifico para a questão LGTTBI[3],
Trotsky se pautou sobre os avanços de Engels no campo da origem da família, da propriedade privada e do
Estado, no programa de Bebel e, principalmente, de Clara Zetkin e Alexandra
Kollontai sobre a questão das mulheres, escreveu criticamente sobre a moral da
burguesia e dos revolucionários e também se debruçou sobre as minuciosas questões
do modo de vida dos russos.
A lógica permanentista da revolução dá
bases para a compreensão de que a luta contra o patriarcado e as demais
opressões, devendo começar conjuntamente com a luta contra a dominação
capitalista, só pode triunfar plenamente sobre as bases de uma economia que não
seja voltada para o lucro, a acumulação e a propriedade privada, mas sim em
base à democracia do trabalho, à propriedade comum dos meios de produção e,
assim, à livre expressão da sexualidade sem as barreiras impostas por uma
sociedade dividida em classes. Isso é, não é possível abandonarmos as questões
materiais, concretas nas quais o capitalismo se apoia para perpetuar as
opressões. É da necessidade concreta de manter a divisão da humanidade em
classes sociais, que se é necessário a manutenção da hereditariedade, da
propriedade privada e portanto, a família.
Nesse sentido, herdamos a história de
luta dos setores oprimidos e da classe operária e as ferramentas do marxismo
revolucionário como bases para elaborarmos um programa capaz de responder às
demandas democráticas que as burguesias, desde o final do século XIX, já não
são mais capazes de responder (sem falar que, como classe proprietária, jamais
o foi, por questões estruturais, mesmo em sua fase “heroica”].
Trotsky, por sua vez, se diferencia
radicalmente da maioria dos grupos de oprimidos pela estratégia que carrega. A
compreensão do capitalismo internacional e a elaboração de um programa capaz de
modificar radicalmente os pilares da sociedade capitalista fez com que ele
enxergasse as demandas democráticas desde uma perspectiva socialista
revolucionária, desde uma compreensão das opressões que não se desliga da
exploração capitalista, nem da questão das classes sociais e muito menos da
necessidade de uma saída coletiva para emancipar a humanidade. Por isso o
combate a fragmentação e ao isolamento da classe trabalhadora precisa ser
também uma preocupação para estes setores. Por isso também que a denúncia à
ilusão no Estado e no parlamento burguês em responder as demandas dos
trabalhadores também serve para os oprimidos, pois são analises e lições
tiradas de processos já vividos por lutadores que expressam uma compreensão do
sistema vigente, reflexão essa que é fundamental para qualquer revolucionário
poder pensar política, estratégia e programa para libertar a humanidade da
divisão de classes que sociedade anterior nenhuma foi possível.
A relação entre
a consciência atual da classe operária e avanço da revolução no modo de vida e
na moral.
O dirigente russo apontava em seu livro Questões do modo vida, escrito em 1923,
quando se analisava a revolução russa não mais como uma revolução burguesa e
que se isso significava não mais só planificar a economia, expropriar as
empresas da burguesia, mas mudar radicalmente os pilares da sociedade
capitalista: sua moral, educação e sua ideologia há tantos anos martelada na
consciência dos trabalhadores e da população russa.
É muito interessante estabelecermos um paralelo, ainda que
rápido (e sem pretensões de aprofundarmos tanto, neste artigo) sobre a relação
entre o nível de escolaridade, de educação, de condições materiais de
existência de uma classe operária (como a Russia, num país com fortes traços
ainda feudais) para alcançar a revolução no modo de vida e na moral afundada na
ideologia burguesa. Dizia Trotsky:
Estabelecer a igualdade económica do trabalhador e da
trabalhadora na fábrica, na oficina, no sindicato, é já muito difícil. Mas
estabelecer a igualdade efetiva do homem e da mulher na família, eis o que é
incomparavelmente mais complicado e exige imensos esforços para revolucionar
todo o seu modo de vida. E, no entanto, é evidente que enquanto a igualdade do
homem e da mulher não for atingida na família, não se poderá falar seriamente
da sua igualdade na produção nem mesmo da sua igualdade política, pois se a
mulher continua escravizada à família, à cozinha, à barrela e à costura, as
suas possibilidades de agir na vida social e na vida do Estado
conservam-se reduzidas em extremo (...)
Como já se disse, acontecimentos de importância considerável
— a guerra e a revolução — subverteram o modo de vida familiar, trouxeram
consigo o pensamento crítico, a reorganização consciente e a reavaliação das
relações familiares e do modo de vida quotidiano. É precisamente a combinação
da força mecânica desses grandiosos acontecimentos com a força crítica do
pensamento que explica, no domínio da família, o período destrutivo que hoje
conhecemos. É somente hoje, após a
tomada do poder, que o operário russo dá os seus primeiros passos na via da
cultura. (...)[4]
As diversas referencias que Lenin e Trotsky faziam sobre o
que seria uma revolução na Alemanha ou nos EUA estavam obviamente ligadas ao
papel econômico que ambos países cumprem no cenário internacional. A influência
destes e o tamanho da classe operária nestes países de capitalismo avançado
(com o desenvolvimento avançado da indústria naquela época), já davam razões
suficientes para preferir “trocar” uma revolução num país como a Rússia
bastante isolado e sem a mesma influencia internacional, por uma revolução
nestes países centrais. Mas para além disso, também pode-se dizer que num país
onde a educação está minimamente disseminada na classe trabalhadora é
extremamente mais fácil conseguir combater a ideologia burguesa e a moral
constituída em base a propriedade privada e a exploração capitalista. Por
razões lógicas como a alfabetização dos trabalhadores, noções básicas de matemática
e de localizações geográficas, colaboram muito para a desconstrução desses
valores arraigados e a reflexão para a construção de um novo homem.
Dois
inimigos da classe trabalhadora e dos oprimidos: Stalinismo e imperialismo.
De outra perspectiva, podemos
encarar Trotsky como uma referencia aos oprimidos (para além do movimento
operário) pelo seu combate intransigente ao stalinismo e ao imperialismo (os
principais responsáveis pela opressão e exploração que seguem em nossas vidas),
sendo seu principal opositor. Para os revolucionários, o imperialismo significa
“reação em toda linha”, é a burguesia mais poderosa e reacionária que se mantém
as custas da exploração de nossa classe e da opressão aos povos e setores
oprimidos. Por outro lado, o stalinismo com sua teoria de “socialismo em um só
país” teoriza a derrota do movimento pela emancipação humana (o comunismo).
Enquanto nos anos de ofensiva
neoliberal o imperialismo conquistava sua hegemonia e disseminava sua ideologia
do fim da histórica, fim da classe operária e fim da possibilidade de mudança socio-economica
também consolidava a identificação no imaginário popular entre o socialismo e a
luta por outro tipo de sociedade com o stalinismo. É desse confucionismo que os
revolucionários hoje precisam enfrentar. Pois ao apontar o stalinismo (e toda
sua carreira de derrotas, traições, retrocessos das conquistas de outubro: como
a naturalização das relações não reprodutivas; o direito ao aborto;) como “o
socialismo possível” cria-se um distanciamento da juventude e da classe
trabalhadora de uma perspectiva socialista nas lutas contra os patrões e
governo. O combate aos dois principais inimigos da classe trabalhadora e dos
oprimidos é parte essencial para triunfar a luta revolucionária. Por um lado
derrotando a burguesia dos países avançados, contagiando a classe operária de
diversos países. E por outro combatendo a visão reacionária de comparar o
stalinismo ao movimento revolucionário, demonstrando que os revolucionários
defendem a divisão da riqueza e os avanços de uma sociedade livre da
exploração, onde os indivíduos tornem-se sujeitos e peguem sob suas mãos o
futuro da humanidade.
Combater a teoria do socialismo
em um só país e todo o processo de burocratização da URSS (assim como a
perseguição aos trotskistas e aos opositores que também eram acusados de
trotskistas para manter Stalin com sua hegemonia) era parte de demonstrar o
quão falido era o programa proposto para a Internacional comunista que não só
negava o marxismo revolucionário continuado por Lenin e Trotsky, mas também explicitar
os caminhos opostos que este programa e a luta pela emancipação humana
caminhavam. Pois partimos de que o próprio
sistema capitalista já é por si só internacional e a impossibilidade de existir
uma ilha socialista em meio a um mar capitalista pelo peso internacional que
atinge diretamente todos os países que estão inseridos na divisão social do
trabalho. A coexistência de sistemas político-econômicos antagônicos não pode
durar por muito tempo, isso é exemplificado pela revolução de 1917, onde mesmo
com a tomada do poder e a conquista de diversas demandas democráticas pelos
trabalhadores, o isolamento da ex-URSS foi o principal elemento do surgimento
da burocracia stalinista e da posterior restauração capitalista neste país.
Por
isso as organizações de oprimidos, os sindicatos e os partidos de trabalhadores
precisam se comprometer em varrer de uma vez toda a herança stalinista que
ainda sobrevive na esquerda internacional. E se colocar num combate
intransigente ao imperialismo, como questões mínimas para defender
verdadeiramente os setores oprimidos e a classe trabalhadora. Os
revolucionários não podem se omitir deste debate, pelo contrário, devem ser os
primeiros a pauta-lo. Para que sejam rapidamente superados e que a partir de
posicionamentos claros possamos disputar novos setores para combater o capitalismo.
A
vigência da teoria da revolução permanente frente a “revolução democrática”.
A teoria da revolução permanente foi desenvolvida em base
às experiências do movimento revolucionário internacional e no combate às
principais polarizações dentro deste servindo então para orientar a elaboração
de um programa verdadeiramente revolucionário que se testasse na realidade.
Trotsky dizia que em países de capitalismo atrasado ou semicolonial não se faz
possível ou necessário o desenvolvimento de todas as potencialidades do
capitalismo para que depois avançasse a luta por uma sociedade comunista, como
defendiam os mencheviques. Já que as burguesias nacionais destes países nascem
espremidas pela burguesia imperialista e pela força do seu proletariado
tornam-se incapazes de desenvolver ou responder as demandas democráticas
estruturais para a população e os trabalhadores, e quando fazem concessões
mínimas formais em prol de barrar a organização da classe trabalhadora e sua
unificação, logo que possuem a oportunidade as retiram. Ou seja, em países como
o Brasil, nada se pode esperar do estado burguês para responder a essas
demandas. Responder a essas demandas democráticas só pode se dar como tarefa da
classe operária organizada em um partido revolucionário marxista, que avance
até tornar poeira o antigo sistema social dividido em classes.
A tomada do poder, porém, é somente a primeira etapa para a
transformação radical da sociedade. A teoria da revolução permanente não visa
apenas à planificação da economia e o fim da sociedade dividida em classes, mas
sim, ter essas bases materiais conquistadas para poder desenvolver a humanidade
na sua potencialidade máxima. Isto é, poder acabar com a desigualdade social
(miséria, fome, desemprego, violência policial, ditadura de classe, etc) para
poder reeducar a humanidade sob bases comunistas. Uma educação radicalmente
diferente da que temos hoje, criada para nos introduzir no mundo capitalista
revestido de egoísmo, opressões e defesa da propriedade privada e do statos
quo.
Para nós trotskistas, partimos que da compreensão de que
não é possivel conquistar a revolução sexual sem as bases estabelecidas de uma
revolução social, e de que a revolução social tem de ser encarada como a porta
para o caminho da revolução em todos os níveis, assim que enxergamos a teoria
da revolução permanente como a teoria que mais é capaz de armar os oprimidos na
luta por sua emancipação, que não pode ser por dentro do regime burguês. É
através da compreensão da realidade objetiva e da necessidade da construção de
um partido revolucionário com forte apropriação marxista que se avança na luta
contra o capitalismo que tem como pilares da exploração o machismo, a homofobia
e o racismo – isto é, de formas do estranhamento social que são historicamente
anteriores ao capitalismo, mas das quais ele cedo aprendeu a se servir para
seus próprios fins, e por isso passou a reproduzir à sua maneira.
Nesse sentido, estão estabelecidas diversas tarefas
para os revolucionários hoje. Na ordem do dia é urgente a construção do partido
da revolução socialista com um programa revolucionário que seja a expressão
destes debates acumulados no interior de processos vivos da luta de classes.
Por essa tradição que se faz hoje necessário a polêmica entre a Teoria da Revolução
Permanente defendida por Trotsky e a revolução democrática atualização
realizada pelo fundador da LIT-PSTU, Nahuel Moreno.
Esta elaboração teórica de Moreno se apoiava na citação do
texto O programa de transição, de Leon Trotsky que dizia:
Paralelamente, desenvolvemos uma incansável
agitação em torno das reivindicações transitórias que deverão, do nosso ponto
de vista, constituir o programa do "governo operário e camponês".
É possível a criação de tal governo pelas
organizações operárias tradicionais. A experiência anterior mostra-nos, como já
vimos, que isto é, pelo menos, pouco provável. É, entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a
possibilidade teórica de que, sob a
influência de uma combinação de circunstâncias excepcionais (guerra, derrota,
quebra financeira, ofensiva revolucionária das massas etc.), os partidos
pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas, possam ir mais longe do que
queriam no caminho da ruptura com a burguesia. Em todo caso, uma coisa está
fora de dúvida: se mesmo esta variante pouco provável se realizasse um dia em
algum lugar, e um "Governo operário e camponês", no sentido acima
indicado, se estabelecesse de fato, ele somente representaria um curto episódio
em direção à ditadura do proletariado. [5] (grifo meu).
Se analisarmos que essa teoria foi criada num momento
muito especifico de revoluções com estados operários deformados (nascidos já
sem a classe operária a frente ou uma organização revolucionária baseados nos
princípios marxistas) veremos que essa teoria reflete bastante um espirito da
década de 80 e 90 que frente a ofensiva burguesa e a restauração capitalista em
diversos países do leste europeu e da principal referencia ao socialismo, a
ex-URSS, parecia-se muito plausível que a exceção – sem muita credibilidade –
descrita por Trotsky se tornasse, como afirmara Moreno, em regra.
Numa carta escrita por Moreno enviada a
uma agrupação de juventude da Convergência Socialista, em 1984, chamada
Alicerce, o fundador deste partido explica, a partir do balanço que faz do
pós-segunda guerra mundial, a aplicação de sua revisão da teoria da revolução
permanente:
“A [definição de
situação revolucionária] de Trotsky, que dá quatro condições que a
caracterizam: primeiro, uma crise muito aguda da burguesia; segundo, giro massivo
da pequena-burguesia contra o regime; terceiro, vontade e organização
revolucionária do movimento operário; quarto, a existência de um forte partido
marxista revolucionário que dirija as massas e esteja firmemente disposto a
tomar o poder (...) Mas, como já dissemos muitas vezes, neste pós-guerra
triunfaram muitas revoluções, não só situações revolucionárias, sem maior
influência da classe operária e sem que esta acaudilhe como classe o processo
revolucionário (a terceira condição de Trotsky). Tampouco se deu nenhum triunfo
revolucionário que tenha sido dirigido por um partido marxista revolucionário
(a quarta condição de Trotsky) (...)
Acreditamos estar perto da solução do problema: as duas primeiras condições de
Trotsky (a crise burguesa e o giro da pequena-burguesia contra o regime
dominante), algumas vezes foram suficientes para dar origem a situações
revolucionárias, umas traídas por suas direções e outras, apesar destas, que
levaram ao triunfo da revolução.”[6]
Uma vez afastados desse período histórico e ainda mais no
cenário atual de cinco anos de uma crise econômica que reatualiza toda a teoria
revolucionária desenvolvida pelos revolucionários russos colocam essas
atualizações em prova e demonstram rapidamente sua ineficácia. Se quando
elaborada essa teoria ela expressava uma adaptação, muito ligada a uma
degeneração da esquerda, principalmente do movimento trotskista, hoje ao
testá-la na realidade e ignorar suas debilidades torna-se uma capitulação que
produz em algumas ocasiões uma omissão ao imperialismo como chegou as posições
da LIT-PSTU em sua análise ao processo revolucionário na Líbia.
A importância desse debate é apontar as duas principais
debilidades que essa teoria carrega para a luta da emancipação da humanidade.
Expressam como resultantes dessa teoria: 1. A falta de prioridade no combate ao
imperialismo. 2. A ilusão de que outros movimento sociais – que não a classe
operária organizada por um partido revolucionário marxista em luta
revolucionária contra a burguesia – seria capaz de conquistar as demandas
democráticas. A visão, da qual chamamos de semi-etapista ou semi-menchevique,
parte da separação entre a revolução democrática e a revolução socialista.
Assim como separa o combate aos regimes do combate ao
imperialismo. Essa separação, parte da compreensão da revolução em duas etapas
ainda que não se liguem diretamente com a teoria dos mencheviques (que
defendiam que era necessária primeiro a revolução burguesa para depois a
revolução socialista) carrega consigo alguns traços desse pensamento. Por um
lado isso acaba por levar a uma política de não fomentar a auto-organização dos
oprimidos em aliança com os trabalhadores para conquistar suas demandas, mas em
confiar em forças externas como o parlamento burguês (com as campanhas
promovidas pelo PSTU em relação a lei Maria da Penha e a defesa da ampliação de
delegacias de mulheres) e por outro lado pela sua própria lógica de quais as
tarefas dos revolucionários hoje.
A
falta de um combate incisivo ao imperialismo também acaba por ficar
secundarizado pela lógica de combater os regimes ditatoriais e pela visão da
democracia (burguesa) como um avanço na liberdade e não como um desvio ou como
diria Trotsky “uma revolução abortada”. Essa visão orientadora desse partido
acaba por leva-los a um retrocesso na luta revolucionária pois foca-se na
discussão fascismo X democracia, quando a pauta real deveria ser: estado
burguês X estado operário.
A prática
por sua vez submetida a essa teoria que não só atualiza, mas nega o legado
trotskista não servirá para transformar os processos revolucionários “surdos,
cegos e mudos” em revoluções socialistas. Não contribuem para o avanço da
consciência das massas, muito menos como defesa intransigente aos negros,
mulheres e LGTTBIs que sem um rearme estratégico tem de começar do zero a
analisar a realidade e teorizar sobre seus aspectos fundantes e os caminhos
para sua transformação.
Sem glorificar ou de maneira artificial atribuir ao
dirigente russo o papel de defensor dos oprimidos, exemplifiquei acima como é
fruto deste trabalho que hoje temos um programa capaz de armar os oprimidos
para lutar pela emancipação humana, pelo comunismo, que foi sem dúvida o sonho
de todos os lutadores que dedicaram sua vida ao movimento revolucionário. Que
ainda é o nosso. E que será a realidade das futuras gerações.
[1] Glosas críticas Marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social” de um prussiano. 1848.
[2] Revolução Permanente
é uma teoria elaborada por Leon Trotsky, desde antes de 1917 que com o avançar
dos anos, dirigente do exercito vermelho pode aprimorá-la e exemplifica-la no
livro ‘A revolução Permanente’ e no “Programa de Transição”.
[3] O que é preciso tomar
nota que o movimento LGTTBI (Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais, Bissexuais
e Intersex) ainda não tinha forças, nem essa forma de organização (com demandas
claras e um sujeito definido) que pressionasse o movimento revolucionário a
dialogar com tal opressão. Isso não significa, todavia, que os revolucionários
de nada aportaram para isso. Pelo contrário, como se vê em 1917, era parte da
revolução naturalizar as relações sexuais não reprodutiva como interesses
individuais, onde o Estado mantinha-se indiferente, sem interferência, enquanto
essas relações fossem concedidas e livres.
[4] Trecho do sexto capítulo, 'Da antiga à nova família', em
Questões do Modo de Vida, Leon Trotsky, 1923.
[5] TROTSKY, Leon. Programa de transição. IN: CAP 13, O governo operário e camponês. (http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/programa/cap02.htm)
[6] Carta de Nahuel Moreno à direção da Alicerce - Começou a revolução brasileira? Buenos Aires, 11 de Maio de 1984. Permanente’ e no “Programa de Transição”.
[6] Carta de Nahuel Moreno à direção da Alicerce - Começou a revolução brasileira? Buenos Aires, 11 de Maio de 1984. Permanente’ e no “Programa de Transição”.
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