sexta-feira, 27 de março de 2015

26M: Virgínia Guitzel, da Juventude ÀS RUAS fala na Fundação Santo André





26M - Dia Nacional de Lutas pela Educação | Ontem na Fundação Santo André os estudantes se reuniram para debater sua organização. No dia Nacional de Lutas pela Educação, os estudantes junto aos professores representados pelo Comando de Greve de Santo André debateram a importância da unidade de trabalhadores e estudantes na luta pela educação. Eu que faço parte da Juventude ÀS RUAS junto com outros companheiros estivemos presentes defendendo que neste dia nacional de lutas, sejamos uma só voz para que toda vaga do FIES se torne pública rumo a estatização das universidades particulares e fim do vestibular! Que todo filho de trabalhador tenha acesso ao ensino superior!

LGBT: quem somos e por que nossa luta é de toda a classe trabalhadora

LGBT: quem somos e por que nossa luta é de toda a classe trabalhadora

Nas redes sociais, nas mídias tradicionais e nas escolas não se conta a história de luta que o movimento LGBT construiu. Muito menos permite que os trabalhadores entendam por que sofremos tanta discriminação, violência e marginalidade. Se reproduz incansavelmente uma ideologia homofóbica e transfobica por meios institucionais ou não, que nos qualificam como doentes, criminosos e/ou degenerados. Assim impedem que os trabalhadores possam se sensibilizar e atuar de maneira independente a defender os setores mais oprimidos da sociedade.

A sigla LGBT correspondente ao grupo social de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (travestis, homens e mulheres transsexuais) se consolidou não tem muito tempo. Sendo antes, muito mais conhecido como GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) ou nos meados da década de 60 até pelo menos os anos 80 o "movimento homossexual" ou "movimento gay". Mas para que essas siglas e quem pertence a este grupo?
A sexualidade humana em diferentes culturas adotou formas especificas de lidar com suas expressões. Desde a Grécia antiga que se sabe de relações amorosas e sexuais entre homens. Todavia, não era por não existir opressões que isto acontecia naquela sociedade, pelo contrário, era justamente pela força das ideias machistas, que os homens se relacionavam entre si, considerando as mulheres inferiores para relações amorosas e profundas.
Mesmo a sexualidade não heterossexual (entre homens e mulheres) existindo em todos os momentos da vida humana, ainda hoje os homossexuais são cotidianamente agredidos e assassinados. A comunidade trans (dos homens, mulheres ou travestis que assumiram identidades de gênero que não seguem a lógica que o orgão genital determina se a pessoa é homem ou mulher) segue com a perspectiva de vida de somente 35 anos em toda a América Latina. Mesmo com essa triste realidade, nada disso aparece nas capas dos jornais e das grandes revistas.
A repressão sexual na sociedade capitalista
O movimento surgido na década de 60 que não correspondia apenas as restritas siglas, conhecido como “Movimento pela liberação sexual” compreendia que o capitalismo oprimia e reprimia a sexualidade do conjunto da humanidade, no seu potencial libertador, prazeroso e emancipatório. Sempre demonstrando a brutalidade e mediocridade que os atualmente representados por LGBT trabalhadores e mais pobres sofriam. Todavia, não se pautavam pela ilusória “emancipação heterossexual” muito menos caiam no canto da sereia da possibilidade de alcançar a emancipação sexual pela via do consumo (seja ele de pornografias, de prostituição, de aceitação social, entre outros).
As lições deixadas por esse movimento histórico, que tornava-se carne nos braços e pernas da juventude francesa em 1968 poderiam ser resumidas na defesa de uma sociedade organizada pelos trabalhadores para dar um fim a toda a forma de opressão e exploração. Reconhecendo que a sexualidade heterossexual não era “algo a ser almejado”, mas também emancipada dos limites capitalistas atrelados a ela. Oferecendo uma saída para esta problemática, numa defesa instransigente aos ditos “subversivos”, “invertidos”, “imorais” e outros adjetivos dados aos homossexuais, lésbicas, travestis e demais setores que rompiam com a norma heterossexual, monogâmica e cisgênera (pessoas não trans, que se identificam a partir de seu órgão genital com a identidade de gênero reconhecida socialmente).
Nos dias de hoje, os LGBT se encontram em grande maioria nos piores postos de trabalho com os piores salários, quando não relegados exclusivamente a prostituição. As identidades de gênero travesti e transsexual são ainda vistas como doença mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o que dificulta o acesso aos hormônios e as cirurgias para que possam se sentir confortáveis com seus corpos. Isso significa que a maioria da comunidade trans está sujeita a adoecer com o uso de hormônios sem acompanhamento médico e a utilização do silicone industrial. Para além de tudo isso, ainda são as maiores vitimas dos crimes de ódio, sendo assassinadas com muita brutalidade.
Nada de revolução sexual, ou direitos iguais. A juventude negra e pobre assim como a maioria das mulheres trabalhadoras e os setores LGBT vivem uma profunda condição de miséria sexual e de repressão, não possuindo espaços para desenvolver sua sexualidade de maneira livre e plena. A sexualidade, tornada uma questão pública, hoje segue sendo regulada e reprimida pelo Estado, seja pela falta de espaços acessíveis para a juventude, seja pela falta de disciplinas nas escolas e universidades para abordar esta temática, pela má (ou nula) distribuição de preservativos, a criminalização do aborto, etc. Assim a ideologia dominante cumpre seu papel de contenção de controle social e sexual.
Para os trabalhadores e trabalhadoras: Estamos aqui
Com a chegada do Esquerda Diário no Brasil, é possível construir uma forte rede de notícias e informação preocupada em que os trabalhadores e trabalhadoras possam se confrontar com a ideologia que lhes é imposta. À você trabalhador ou trabalhadora que encontrou pela primeira vez esta coluna semanal, verá que ano longo das semanas, discutiremos diversos temas sobre a opressão estrutural das mulheres, dos negros e da população LGBT. Reconhecerá então similaridades entre explorados e oprimidos com as tristes condições de vida que somos submetidos.
Iniciativas como o debate realizado na histórica greve da Universidade de São Paulo no ano passado para debater “Machismo, homofobia e transfobia” com os trabalhadores assim como a emocionante campanha dos metroviários de São Paulo repudiando a agressão homofobica sofrida por um colega de trabalho aqui terão grande destaque. Pois são expressões de que a história segue sendo construída e pode ser tomada pelos trabalhadores desde suas próprias mãos dando uma saída para toda forma de opressão.
Na história do movimento LGBT, que pouco se conta, sempre houve tentativas de unificar a luta dos trabalhadores com a das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Esta ideia esteve viva no grupo francês Frente Homossexual de Ação Revolucionária, foi assim na Inglaterra nos anos 80 com a formação do grupo Lésbicas e Gays apoiam os Mineiros (LGSM, em inglês) e também no Brasil com o primeiro grupo de auto afirmação homossexual, o SOMOS. É desse legado que nosso Diário se sustenta e por isso, nesta primeira coluna afirmamos: Para os trabalhadores e trabalhadoras: estamos mais uma vez aqui.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Mais um beijo gay, mais uma enxurrada de homofobia

BEIJO LÉSBICO NA TV

Mais um beijo gay, mais uma enxurrada de homofobia

Nas telinhas do Plim Plim, mais uma vez uma novela do horário nobre, Babilônia, apresenta personagens homossexuais, e como comum da vida de um casal, um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo. Desta vez, as ilustres atrizes Fernanda MonteNegro e Nathália Timberg, protagonizam um casal lésbico.




A sexualidade lésbica, completamente invisibilizada, ao ser destacada por duas mulheres idosas em rede nacional, contra a tendência do fetiche da heteronormatividade ou o discurso de ser "apenas uma fase", se enfrenta com amplo descontentamento de setores conservadores contrários a visibilidade da população LGBT.
A frente parlamentar Evangélica do Congresso Nacional presidida por João Campos (PSDB-GO) divulgou nesta quinta-feira (19) uma nota de repúdio à cena do beijo gay bastante coerente com suas inúmeras ações homofóbicas no Congresso, como os projetos de lei pela "Cura Gay" barrados pelas massivas mobilizações de Junho de 2013 e os novos projetos também de autoria de Eduardo Cunha como "Dia do orgulho Heterossexual", "Criminalização da heterofobia" e outras bizarrices.
Dizendo-se contrários ao "modismo" da homossexualidade e que o beijo gay é um "estupro moral" novamente os setores conservadores reafirmam sua intransigência aos direitos mais elementares da comunidade LGBT e convocam um boicote a novela e aos produtos dela propagandeados.
A estratégia da visibilidade e seus limites para combater a direita e os conservadores
Quando foi a vez de Niko e Carneirinho se beijarem na novela Amor a Vida, polemizamos com uma estratégia do movimento LGBT da visibilidade. Naquele momento, muitos propagandeavam como o primeiro beijo gay na Emissora Rede Globo, o que logo foi revisto, e o aplaudiam como uma grande vitória da luta do movimento LGBT. Já neste artigo definíamos que a emoção e identificação da comunidade LGBT com a cena era completamente compreensível de acordo com a profunda homofobia e transfobia existente em nosso país, recorde de assassinatos e agressões.
Todavia polemizamos com os setores ativistas de variados grupos e organizações da esquerda que não apontavam os limites da estratégia da visibilidade, isto é, buscar como forma de luta a aparição de personagens, reportagens e outras expressões de pessoas não heterossexuais ou trans na grande mídia. Enquanto, a rede Globo e outras emissoras abriam espaço para incorporar uma pequena parcela dos LGBT em suas novelas e filmes, as fazia de maneira a demonstrar qual classe poderia ser representada, novamente excluindo os setores pobres, periféricos e trabalhadores LGBT.
Ainda que com essas limitações, não nos colocamos ao lado dos setores conservadores contra o beijo ou a existência desses personagens. Entendemos que essa visibilidade poderá abrir debates dentro das casas e das famílias e demonstrar com maior naturalidade a vivencia LGBT, ainda que de maneira insuficiente para enfrentar os inúmeros casos de discriminação no país.
Luciana Genro: a visibilidade como saída política
As eleições de 2014 anteciparam as fissuras políticas no regime político brasileiro. Alertaram para o desgaste do PT nacionalmente, um partido que se aliou com todos os inimigos dos LGBT, e também deram voz a uma candidata de esquerda que conseguiu no enfrentamento ao reacionário Levi Fidelix aproximar a comunidade trans e obter cerca de 1,6 milhão de votos. Muitos diziam que ser a primeira candidata a falar transfobia já valeria o voto e a confiança.
É claro que num sistema político profundamente antidemocrático, onde os trabalhadores e a juventude que protagonizaram Junho não podem se candidatar e expressar suas ideias e os grandes partidos com financiamentos milionários impedem uma verdadeira disputa de ideias, Luciana Genro teria chances de ganhar a Presidência do país. Todavia, qual política poderia ter Luciana Genro a partir de sua figura para fortalecer a luta por direitos dos LGBT?
Se a homofobia está expressa em todos os âmbitos sociais. É preciso combatê-la tornando vivas as discussões que houveram nas eleições e se renovam com os cotidianos assassinatos e agressões, nos locais de trabalho e de estudo. Somente assim é possível criar um movimento forte e desde as bases que questione essa profunda opressão e ganhando as ruas com milhares colocar um basta nessa situação. Luciana Genro e os deputados do PSOL não podem se limitar a dar "visibilidade" as pautas sem colocar seus mandatos e suas figuras a tarefa de construir um verdadeiro movimento ativo e militante para arrancar esses direitos.
A visibilidade aprofunda as polarizações sociais, mas nem de longe conquista ou firma os direitos elementares que são negados a lésbicas, gays, travestis e homens e mulheres transsexuais. A novela Babilônia, mesmo com seus limites, recupera esse profundo debate que no cenário nacional dinâmico como está, permite pensarmos uma grande unidade dos grupos, organizações e as entidades estudantis assim como os sindicatos para lutar contra a opressão.

domingo, 8 de março de 2015

FOTOS: 8 de Março também é das travestis e dos homens e mulheres trans




Em São Paulo, 3 mil pessoas marcharam pelas mulheres no 8 de Março

DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES

Em São Paulo, 3 mil pessoas marcharam pelas mulheres no 8 de Março

Nesse domingo, 8 de março, dia Internacional de Luta das Mulheres, 3 mil pessoas foram as ruas na Avenida Paulista, em defesa dos direitos das mulheres. Com dezenas de faixas e cartazes, homens e mulheres marchavam, mesmo sob chuva, se enfrentando com as declarações do presidente da Câmara dos Deputados Federais, Eduardo Cunha, que disse que só pautaria o direito ao aborto por cima de seu próprio cadáver. Também se escancarava o machismo estrutural da sociedade capitalista e inevitavelmente a contradição dos limites das políticas adotadas pelo governo para combater a violência contra as mulheres, mesmo tendo uma presidente mulher como Dilma Rouselff.


A marcha organizada por diversos grupos feministas e organizações de esquerda levou o lema de “8 de Março – dia internacional das mulheres” sem denunciar claramente o governo de Dilma que começou o ano atacando os trabalhadores com as medidas provisórias e seguindo a linha do PT de acordos com os setores mais conservadores e reacionários, como Feliciano que foi base do governo em 2010. A Marcha Mundial de Mulheres (MMM), liderada por dirigentes do Partido dos Trabalhadores, esteve presente com grandes blocos defendendo o governo e suas pautas como a “Reforma política” e a “defesa da democracia”, que foram duas das propostas que perderam na reuniões de organização do 8 de Março.
Todavia, as feministas governistas não levaram a frente a proposta do tema “Pela água, por direitos, contra a violência e pela legalização do aborto” que foi proposta por todas as demais organizações. Demonstraram então, que na luta pelo direitos das mulheres não há como ser por fora, da luta pela independência política das mulheres dos governos, patrões e partidos de conciliação que buscam rifar nossos direitos à serviço da manutenção desse regime de democracia dos ricos.
Como as professoras do Paraná
Enquanto as feministas da Marcha Mundial de Mulheres diziam no carro de som que era possível ver os avanços do combate a violência contra a mulher em São Paulo com as políticas públicas, o Movimento de Mulheres em Luta (MML) denunciava que Dilma não hierarquizava esse combate a partir do ínfimo valor destinado para o combate a violência, exigiam como parte de sua campanha principal a aprovação de 1% do PIB para este fim.
Em uma faixa do grupo de mulheres Pão e Rosas se encontrava a frase “Façamos como as professoras do Paraná”, trazendo para São Paulo a força e exemplo da imensa mobilização realizada pelos professores e funcionalismo no Paraná contra os cortes e ataques de Beto Richa (PSDB). Com esse espírito que a professora Maíra, categoria O, subiu ao carro de som e relatou os ataques destinados a educação, e aos professores em todo o país, desde São Paulo com as 21 mil demissões.
Para além do 8 de Março
Outra faixa do grupo de Mulheres Pão e Rosas exigia a legalização do aborto, seguro e gratuito. Com músicas e materiais denunciavam as milhares de mortes por abortos clandestinos como Jandira, um dos casos que ganhou maior destaque no ano passado, no Rio de Janeiro. Nos pirulitos carregavam a exigência ao combate a violência às mulheres cis, travestis e mulheres transexuais e também a readmissão de uma trabalhadora Andreia Pires, assim como das metroviárias que lutaram ano passado por melhores condições de transporte e trabalho.
Virgínia Guitzel, trabalhadora da saúde pública do ABC Paulista disse “Nós do Pão e Rosas não acreditamos que a luta das mulheres, das travestis e das mulheres trans seja de apenas um dia. Viemos nesse 8 de Março não para comemorar, mas para denunciar que não basta ter uma mulher na presidência para garantir nossos direitos”. Completou: “Pelo contrário, é preciso seguir o exemplo das professoras do Paraná, as mulheres precisam se organizar de maneira independente junto com os homens trabalhadores para colocar abaixo esse sistema que se utiliza do machismo, da transfobia, de todas as opressões para garantir o lucro e a força dos patrões contra nossa classe que segue oprimida e explorada”.
Estavam presentes nesse bloco uma importante delegação de trabalhadores do Movimento Nossa Classe, com metroviários, bancários, professoras, trabalhadores da Universidade de São Paulo, operários industriais. Também estavam presentes estudantes da Universidade de São Paulo e da UFABC que constroem a Juventude ÀS RUAS. Com grande destaque para a coluna de trabalhadoras da USP que são da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos trabalhadores da USP (SINTUSP) que votaram a participação no ato contra os ajustes de Dilma e pelo direito a creche.
Já Bárbara que é membro da Secretaria das Mulheres contou: “Nossa luta não para nunca e dentro desse sistema onde o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos é relegado as mulheres e o Estado se exime de sua responsabilidade, não criando creches, lavanderias e restaurantes públicos, deixando que o peso da dupla jornada de trabalho recaia sobre nossos ombros, nós cantamos “Creche! Creche! De qualidade já. Mulher tem o direito de trabalhar e estudar!”

domingo, 1 de março de 2015

A transfobia nas escolas

20 FEB 2015 | Na capa da revista Nova Escola desse mês está Romeo Clarke, de 5 anos, britânico com um de seus vestidos brilhosos com uma flor e muitas lantejoulas, com o chamado "Precisamos falar sobre Romeo..." trazendo um debate fundamental sobre o papel das instituições de ensino na reprodução das discriminações às pessoas LGBT, em particular as identidades trans, sejam estas binárias (homem/mulher) ou não. Romeo foi mais um caso onde a direção da escola o afastou até que "se vestisse de acordo com seu gênero" (sic!). | 0 comentários



A transfobia nas escolas

O artigo de Wellington Soares na revista Nova Escola nos traz a visibilidade de uma pauta tão importante como é a necessidade de se discutir gênero e sexualidade nas escolas. Relembra o veto de Dilma ao Kit Anti-Homofobia que previa a distribuição de materiais didáticos, elaborados pelo MEC, abordando o assunto das sexualidades não-heterossexuais, com o objetivo de desmistificar pré-conceitos e buscar o respeito a diversidade. Wellington aponta diversos casos onde a escola foi conivente ou diretamente responsável por casos de discriminação, demonstrando como a instituição escolar não pode responder estas questões, nem garantir o direito ao conhecimento para os setores oprimidos enquanto estiver a serviço da reprodução da ideologia dominante, que busca domesticar a juventude, principalmente os filhos dos trabalhadores. A instituição escolar não almeja tocar em temas “sagrados” para as instituições religiosas e o Estado que, juntos, garantem a dominação da sociedade sob a ordem burguesa.
Ainda que sejam poucas páginas para abordar o mundo das identidades trans e as problemáticas da educação no Brasil, o artigo nos abre a possibilidade de refletir acerca dos limites de projetos do governo Federal e seus chamados "combates a homofobia e transfobia". A extensão do direito ao nome social e o projeto Transcidadania foram avanços importantes, mas que pecam pelo fim em si mesmo. Cumprem o papel de conceder um direito elementar como a educação e o reconhecimento da identidade de gênero, mas o faz sem questionar o “silencioso” acordos entre os políticos e as milionárias instituições religiosas como Vaticano, que impede disciplinas escolares sobre essa temática, que garantiriam a livre construção da identidade de gênero de maneira consciente e da própria sexualidade. São projetos localizados, com vagas limitadas (apenas 100 no caso do Transcidadania) que não incluem verdadeiramente as travestis nas escolas, mas comprometem a Prefeitura a conceder escolas para que estas possam frequentar, com a disposição de uma equipe “especializada”, que receberá uma espécie de curso para compreender sobre a identidade de gênero. O governo do PT jamais poderá combater as opressões, pois não é seu objetivo o enfrentamento com os pilares do sistema capitalista, onde as opressões estão a serviço da divisão das fileiras operárias e a justificativa de explorar uns mais do que outros.
Na educação básicas e nas universidades: a invisibilidade trans
Não é uma surpresa saber de casos em que professores, as coordenações e as direções das escolas escondem ou amenizam discriminações, responsabilizam as vítimas e tentam educar os oprimidos com a separação da vida pública da vida pessoal (na escola, no trabalho, nos ambientes públicos você não precisa ser "você mesmo", não precisa "se assumir", etc). A desistência de pessoas trans em concluir os estudos é generalizada. A extensão do nome social não poderá reverter por si só esses números, uma vez que para os menores de 18 anos ainda será preciso a autorização dos pais para que se obtenha o direito ao nome.
Acaba-se que o projeto da Transcidadania se apresenta como uma "segunda-cidadania", colocando as pessoas com identidades trans numa situação particular sem reconhecimento de sua identidade, de seu nome, sem condições materiais para a sua construção física de gênero (nos casos que busca a hormonização, as cirurgias e outros procedimentos médicos), estando majoritariamente na prostituição, quando não nos piores postos de trabalho como o telemarketing e a terceirização. Expressam assim que é impossível garantir direitos iguais à todos os “cidadãos” independentemente se são burgueses, operários ou estão à margem do mercado de trabalho devida a profunda exclusão social que somos submetidas.
Um ponto fora da curva foi Maria Clara Araújo, mulher trans que passou na Universidade Federal de Pernambuco, uma das 95 pessoas trans que conseguiram utilizar o nome social no ENEM de 9 milhões de participantes. Nas universidades são raras os homens trans e mulheres transexuais que alcançam esses espaços. Das que chegam, é ainda mais difícil ver as que conseguem permanecer até sua formação. Essa realidade é a expressão de um verdadeiro campo de batalha diário que vivemos as identidades não hegemônicas, mas que seguem sendo pontos fora da curva, por responsabilidade do governo e do Congresso Nacional.
Por educação sexual nas escolas! Basta de acordos com Vaticano e a bancada Evangélica!
Com a chegada de Cunha e suas repugnantes declarações, é hora do Movimento LGBT junto as entidades estudantis combativas e os sindicatos que a esquerda dirige se colocarem em luta. É preciso organizar debates nas categorias de trabalhadores e nas universidades e escolas para que colocar de pé um verdadeiro plano de luta que exija a verdadeira separação das instituições religiosas do Estado para avançar nos direitos da população LGBT, mulheres e do povo negro.
O PSOL que foi o principal partido que durante as eleições do ano passado se colocou como interlocutor dos homossexuais fazendo frente a Levy Fidelix e o próprio governo Dilma para ser coerente com suas candidaturas precisa que seus deputados, parlamentares e figuras públicas como Luciana Genro coloquem seus mandatos a serviço de um movimento independente que tome as ruas com centenas de milhares para dar um basta na homofobia e transfobia estrutural do país. A Oposição de Esquerda da APEOESP (sindicato dos professores) deve ser linha de frente de impulsionar uma campanha que implemente a educação sexual nas escolas para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, prevenir a gravidez, mas também organizar discussões que possibilitem a livre construção de nossas identidades e de nossa sexualidade rompendo com a moral (burguesa) que quer que sejamos cada vez menos indivíduos plenos, nos sujeitando e reproduzindo seus valores patriarcais e capitalistas.
Sabendo do alto índice de famílias que rejeitam seus filhos e filhas por sua identidade de gênero ou sexualidade não normativa, a população Trans não deve ficar a mercê das instituições como a família, as escolas e o próprio Estado estão a serviço de nos manter na marginalização, sobrevivendo pela via da prostituição compulsória, até atingirmos a média de 35 anos, que é nossa atual expectativa de vida. A organização do movimento LGBT é fundamental para atuarmos na luta de classes para arrancar nossos direitos. Ganhando importantes aliados como foram os metroviários e os trabalhadores da USP que se manifestaram e marcharam conosco pela investigação de João Donati e Marcos Vinicius.
Não podemos mais nos contentar com os projetos reformistas que estão a serviço de apaziguar nossas lutas. Por isso, devemos nos apoiar nas iniciativas progressistas como o projeto da Transcidadania para questionar porque remediar as contradições ao invés de combater pela raiz a partir de se enfrentar com as instituições mais reacionárias como a Igreja Católica, a bancada evangélica e impondo pela força de nossa mobilização o reconhecimento do Estado com a criminalização da homofobia e transfobia e a Lei João Nery.
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