terça-feira, 27 de outubro de 2015

Virgínia Guitzel na Plenária da CSP Conlutas ABC

A prostituição na vida das travestis e mulheres transexuais - Parte I


Virgínia Guitzel

A atenção dada as identidades de gênero não cisnormativas vem ganhando internacionalmente cada vez mais um peso significativo, retomando grandes debates dentro do movimento feminista. No Brasil, a visibilidade conquistada pelo ativismo trans se deu principalmente vinculado aos escandalosos casos de torturas de Verônica Bolina, o assassinado de Laura Vermont que demonstraram a relação permanente de opressão entre o Estado, suas forças armadas e os LGBT. Assim como a agressão sofrida por Viviany, que na 11° Parada LGBT fez uma perfomance crucificada denunciando a perseguição moral e social que sofrem as travestis, mulheres e homens trans.

Nas universidades, ainda que mantenham seu caráter completamente elitistas e construídas contra a presença de setores oprimidos e dos trabalhadores, tem se tornado um espaço onde os debates sobre transsexualidade e as identidades não binárias e não adequadas a cisnormatividade encontram um espaço impar impulsionados por importantes teorias pós-modernas e figuras como Foucalt, Judith Butler e desde o Brasil Berenice Bento, entre outras. É também, um espaço que muitas vezes pela distância da familia e das cidades de origem, propiciam uma liberdade individual e um descobrimento de tais (auto)reflexões que vem garantindo o surgimento do orgulho e da auto-afirmação trans nestes espaços - ainda que a partir deste momento, as próprias chances de permanência destes espaços caem brutalmente ao indice comum as demais pessoas cisgêneras.

Neste primeiro e breve artigo, não daremos conta de abarcar o conjunto da reflexão sobre a prostituição, os debates históricos do feminismo à respeito e tampouco o ponto de vista das próprias mulheres e travestis que vivem cotidianamente desta opressão. No entanto, humildemente oferecemos uma primeira reflexão, que daremos sequência, para abordar um tema fundamental que diz respeito da realidade da esmagadora maioria da população trans brasileira e mundial: a sexualidade comercializada, roubada e mutilada das pessoas trans.

O surgimento da prostituição e suas características na sociedade capitalista

Em cada sociedade, a dominação das mulheres sob os homens – isto é, patriarcado -encontrou formas particulares de favorecer o desenvolvimento das classes sociais determinadas por cada momento histórico. A sociedade capitalista, com seu alto grau de avanço humano, fortaleceu o patriarcado submetendo-o ao aperfeiçoamento da dominação de classe, garantindo que a dominação do gênero feminino não pudesse mais ser desassociada da divisão das fileiras operárias, da manutenção do trabalho doméstico e da profunda submissão como garantia de contenção social.

Ainda que tenha se estabelecido, sob a ordem burguesa, o trabalho assalariado como forma predominante de exploração, a sociedade capitalista pelo seu caráter internacional seguiu a dinâmica do desenvolvimento desigual e combinado, isto é, combinando elementos de profundo avanço frente as demais sociedades passadas sem eliminar completamente seus aspectos mais atrasados ou conservando tais aspectos artificialmente como no caso da prostituição, que carrega consigo a opressão e dominação feminina muito mais antiga do que sistema capitalista.

Ainda que filosoficamente abram-se nas redes sociais, blogs feministas e na acadêmia grandes debates sobre o que significa esta ação de comercialização da atividade sexual e do prazer, não se pode negar que ao longa da história, o gênero feminino teve sua liberdade sexual castrada pela monogamia exclusivista e seu corpo, assim, como sua totalidade, visto e garantido como propriedade masculina. Isto é, a sexualidade então comercializada sempre esteve apenas a serviço do prazer masculino e da perpetuação da “sociedade dos homens” imperante. No capitalismo, encontram-se para além da soberania masculina preservada integralmente, aspectos mantidos superficialmente na contramão do avanço e na superação da humanidade unicamente para garantir a dominação burguesa, como a manutenção da família monogâmica, heteronormativa e cisgenera, instituição garantida apenas para os detentores dos meios de produção, ainda que a ideologia dominante siga sendo a ideologia da classe dominante.

Por outro lado, a profunda crise e repressão sexual sustentada pela completa falta de condições materiais e limitações impostas pelo Estado, a polícia, as leis e a democracia burguesa, combinam com a existência, permanência e necessidade da prostituição. Frente a tamanha miséria sexual, a necessidade da imitação da família tradicional incapaz de satisfazer os desejos sexuais construídos pela humanidade, a ausência de espaços para a juventude se satisfazer sexualmente, a repressão sexual que intimida e mantém milhares dentro dos armários vivendo sob a frágil e instável heternormatividade são apenas elementos que ajudam a entender a sustentação da prostituição como instituição que marca o elo mais tortuoso para milhares de mulheres cis, travestis e, mulheres trans.

Abolir ou legalizar a prostituição sob a ordem capitalista?

Entre o feminismo há historicamente duas tendências fundamentais sobre a prostituição: as abolicionistas e as legalistas. Ambas contraditórias por deixar responsável o Estado por abolir ou " incluir ao capitalismo" essa opressão secular. Mas também utópicas, sendo a primeira uma medida que se se efetiva, significaria de maneira prática virar as costas para milhares de pessoas em profunda condição de vulnerabilidade e miséria sem oferecer uma saída verdadeira para suas angústias. E se "adentram ao capitalismo", não podem esperar mais qualidade de vida ou melhores condições de trabalho, pois a " modernização da prostituição" inspiradas em outros países como Amsterdã  não libertou as mulheres, muito menos, a desvinculou de um papel objeto e inferior à serviço apenas da satisfação de outros, não a si própria.

Sem transformar radicalmente a sociedade contrapondo os interesses da maioria da população trabalhadora contra os interesses vigentes de uma pequena minoria de exploradores, não se pode abolir a familia, a prostituição e a miséria da sexualidade. Não se pode libertar as mulheres, trans e cis, acorrentadas juntamente pela dominação machista. A violência assim como os abusos e estupros decorrentes da prostituição são expressões da forma com que o gênero feminino é tratado na sociedade capitalista, por isso, é preciso questionar ambas estratégias do feminismo que não podem oferecer uma crítica contundente e superadora a democracia burguesa, muitas vezes a embelezando e inaltecendo como a forma mais avançada de organização das sociedades no século XXI, ignorando os dados chocantes do número de mulheres, trans e cis em profunda situação de miséria, o trans-feminicidio, etc.

Única escolha: A marca na vida das travestis e transexuais da prostituição

Contudo, ainda que a prostituição corresponda a dominação do gênero feminino, há importantes diferenças entre a relação desta opressão entre mulheres cis e mulheres trans e travestis. Para além de ser a única e última escolha de sobrevivência de milhares de mulheres, fugidas de suas casas, violentadas, expulsas de casa, levadas pelo tráfico de mulheres e crianças e situações de abandono, para as identidades trans há ainda contornos maiores e mais dependentes.

As limitadas condições de construção da identidade de gênero pelos serviços públicos assim como pela iniciativa individual levam inevitavelmente a conformação de “guetos trans” sociais e culturais que obrigatoriamente se submetem à uma sistema retrogrado das cafetinas pela necessidade de moradia, espaços para realizar os atendimentos, assim como pelas vias do acesso a hormônio, cirurgias e demais procedimentos médicos, ainda que nenhuma destas necessidades são garantidas com segurança e qualidade, sendo uma triste realidade as doenças, dificuldades e efeitos colaterais pela auto-hormonização e a utilização de silicone industrial. Este sistema de opressão não poderia existir sem a conivência do Estado, que reprime e extorque as travestis com suas forças armadas (policia) expressando a sua função de dominação e conservação da sociedade atual na contramão de garantir o avanço e a emancipação do trabalho, da mulher, da sexualidade, da humanidade.

Mas ainda muito além dessas questões, é neste gueto que as pessoas trans encontram seus pares, podendo compartilhar dicas, experiências e vivências, para além de garantir sua proteção contra a violência machista, transfobica e policial. Aqui não se tratam apenas de uma questão econômica – a necessidade objetiva de vender a força de trabalho ou exercer atividades sexuais como forma de sobrevivência – mas também instintiva de sobrevivência social, baseada na reprodução da cultura e dos desejos sociais como a luta contra a solidão trans.

A consequência desta situação para a comunidade trans traz marcas profundas na vida. A objetificação, fetichização e transformação das mulheres trans e travestis em mercadorias, sob a ditadura da beleza e da juventude é uma expressão material da sexualidade como “nossa função social obrigatória”. A desumanização que sofremos pelo misticismo baseado em nossa invisibilidade compulsória e na prostituição como “destino natural” em torno de nossas identidades impede o desenvolvimento afetivo, a constituição de relações amorosas e do reconhecimento e na legitimidade roubada das capacidades e das potencialidades das pessoas trans em diversas funções, reflexões e inclusive na sua própria auto-determinação de seus corpos, mentes e identidades.

A necessária aliança revolucionária entre os oprimidos e a única classe progressista da sociedade: a classe operária

Na democracia burguesa juízes, médicos, deputados, psiquiatras, acadêmicos, a polícia e o Estado querem dominar nossos corpos e nossas mentes. Autorizar e regulamentar nossa sexualidade e nossas identidades à maneira que se adequem a moral dessa sociedade decadente. Para encontrar uma resposta a problemática da prostituição é preciso partindo das bases de sua sustentação, entender sua relação com o trabalho precário, o desemprego e o sistema capitalista.

O capitalismo, apesar de aprofundar cotidianamente o antagonismo entre a burguesia e o proletariado não eliminou as demais classes sociais, pelo contrário, veio as preservando artificialmente para dar base a sua sustentação. O lumpem-proletariado, ou seja, a massa de pessoas alheias ao mercado de trabalho, desprovidas de vender sua força de trabalho (o único direito “garantido” nesta sociedade de exploração) compõem o que chamamos de “exercito de reserva”, ou seja, a massa de desempregados que garante a submissão dos trabalhadores nos postos mais precários e sua defensiva sob os ataques e a retirada de direitos como chantagem barata de sua condição de explorado.

Pela sua pequena influência social, seu local ausente na produção e consequentemente na economia, as prostitutas e as pessoas trans em geral estão à sorte do proletariado e de sua crise de direção para fazer suas angustias e sofrimentos com tal sociedade encontrem força para destruir cada pedaço dessa opressão, erguendo uma nova sociedade com uma nova cultura, novos valores e livre de toda a dominação, opressão e exploração que vivemos. Por isso, senão debatida e tomada pela organização de trabalhadores como os sindicatos e os partidos da esquerda não se poderá encontrar uma saída verdadeira para tal questão. Também não poderá se levantar um movimento verdadeiramente revolucionário senão tomada pelas mãos que tudo produzem as demandas dos que mais oprimidos pela sociedade capitalista garantindo que assim a classe trabalhadora, única classe progressista e capaz de levar as tarefas da revolução até o fim, arraste consigo e atrai aliados na luta por nossa libertação.

Esta condição de lumpem-proletariado também fortalece a desorganização de um real movimento trans que possa expressar suas próprias demandas, prevalecendo os estudos acadêmicos, as teorias pós-modernas e as “problematizações” de gênero sob a realidade e profunda situação de miséria da grande maioria das pessoas trans.

Desde o Pão e Rosas Brasil seguimos a luta por melhores condições de vida das mulheres trabalhadoras, prostitutas e oprimidas. Aprovamos a campanha pela aprovação da Lei João Nery como um direito elementar para a comunidade trans e de enfrentamento ao Estado, que deve reconhecer não apenas a existência das identidades não cisgeneras como também a profunda situação de desigualdade entre as pessoas trans e não, como o machismo, a transfobia, a homofobia e o racismo tão cotidianos e concretos em nossas vidas. Mas reafirmamos em cada uma dessas lutas, a revolução socialista segue como condição para nossa emancipação, para dar a humanidade capacidade e liberdade para construir, na maior plenitude e racionalidade, um novo ser humano, verdadeiramente livre.

Ser trans e a possibilidade de ser candidata nas eleições de 2016

Sempre que digo que sou jornalista do Esquerda Diário, me sinto empoderada para dizer que as travestis tem muito o que falar, apesar da mídia burguesa sempre querer nos retratar ou como vítimas, ou como doentes e criminosas. Quando consegui os laudos médicos para começar o tratamento hormonal escrevi para a Seção Gênero e Sexualidade como me sentia, "uma pequena conquista para quem sonha com a emancipação". Nestes cinco meses, isso só foi se demonstrando cada vez mais verdadeiro. Os hormônios não são nem de perto uma possibilidade de emancipação, mas como uma mínimo, uma sobrevivência para resistir os obstáculos e a permanente perseguição que sofremos por nossa identidade não cisnormativa.

Hoje fui a defensoria pública para dar início ao meu processo de mudança de nome. Como publicamos recentemente, com o PSOL tendo cedido as filiações democráticas, abrimos em nossa organização um debate sobre as candidaturas que lançaremos para dialogar com setores de trabalhadores e oprimidos por uma perspectiva revolucionária para responder a imensa crise política que vive o país lutando com todas as nossas forças para que o questionamento ao PT não fortaleça a velha direita, mas crie mais espaço para as ideias revolucionárias. Entre as candidaturas, estamos debatendo a possibilidade que eu concorra nas próximas eleições, o que novamente colocou em cena a luta pelo direito ao nome a participação das travestis, mulheres e homens trans na vida política.

É certo que a representatividade dos setores oprimidos dentro do parlamento está longe de corresponder as nossas expectativas. E não nos esquecemos, e nem deixamos de dizer, que concorrer as eleições não significa adentrar "a casa do povo", muito menos num Estado "neutro" a ser disputado, mas sim, que entramos num espaço que não é nosso, mas sim o grande balcão de negócios da burguesia, que é utilizado como um instrumento da classe dos patrões contra os oprimidos e os trabalhadores para atuar justamente para fazer esta denúncia e para colocar a pauta dos trabalhadores, das mulheres e da juventude como forma de constratar a política revolucionária aos grandes políticos profissionais que entram na política para enriquecer e desfrutar de privilégios. Mas diferente de pequenos grupos que se contentam em comentar os rumos do país ou fazer coro a intelectualidade petista da "onda conservadora", queremos construir no Brasil uma alternativa de esquerda que não seja mera testemunha dos acontecimentos, mas sim uma verdadeira força social que através da luta de classes abra cada vez mais espaço para que os trabalhadores, as negras, as mulheres e homens trans estejam fazendo politica, não repetindo os exemplo de partidos que se adaptaram a ordem burguesa e optaram por não transformar a força orgânica das massas exploradas em força politica, fazendo pesar suas necessidades frente aos lacaios burgueses, rumando a construção de uma nova sociedade.

Moro num dos maiores concentrações operárias da América Latina, no ABC Paulista, onde a crise do bastião histórico do PT já chega a mais de 84% de reprovação, as centrais sindicais ligadas ao governo como a CUT e a CTB vem rifando os trabalhadores com os acordos como o PPE que nada protege os trabalhadores, mas sim os lucros patronais como viemos denunciando regionalmente. O desemprego para a juventude já superou a media nacional e cada vez mais vem se instaurando na região provocando um efeito dominó nos ramos de serviços e pequenas empresas. As greves que marcaram o começo do ano e se seguiram nas grandes montadoras como Mercedes, Volkswagen e Ford e também em outras fabricas menores só demonstram a força e a disposição dos trabalhadores de defenderem seus empregos e seus direitos. Queremos contribuir para que cada lutador consiga dar um passo da luta sindical para a luta política, assim como cada oprimido possa se sentir representado e ver que mesmo com as tentativas da patronal, da polícia e da burocracia sindical e acadêmica, é possível fazer política de outra forma, a partir da nossa classe. 

Mas diferente do que vejo no movimento LGBT não quero concorrer as eleições pedindo votos "porque sou LGBT", ou porque sou travesti. Para quem participa dos foruns LGBT sabem que ser LGBT não significa inclusive combater a homofobia ou a transfobia - a depender de que letra você é representado. Mas ainda mais que isso, não significa ter uma perspectiva de classe, muito menos dar a importante batalha que viemos travando pela independência política do nosso movimento para lutar verdadeiramente contra o governo e seus aliados como a Igreja Católica e as próprias bancadas fundamentalistas para garantir aprovações de leis como o projeto João Nery, ou Lei da Identidade de Gênero, a criminalização da LGBTfobia (PL 122), entre outras medidas. Quero entrar para a vida política dizendo que as travestis tem muita a falar e a denunciar este Estado que ainda hoje segue sem reconhecer nossa existência, mesmo atingindo o hacking do país onde mais ocorre crimes contra as identidades trans. Mas como concorrer as eleições, se nem meu nome é reconhecido? Se nem minha identidade pode se reafirmada por este Estado? Como garantir que as travestis e transexuais participem da vida política se seguimos com 90% de nossa comunidade na prostituição, impedida de se organizar, de ter voz, de se enfrentar verdadeiramente contra este Estado de coisas ao lado da classe trabalhadora e dos demais oprimidos dessa sociedade?

Se vou ou não me candidatar não dependerá da mudança de nome, muito menos, das tentativas incessantes de que abandonemos esta batalha pela construção de uma alternativa classista e revolucionária para responder a crise política e econômica que chegamos no Brasil. Não quero ver o Brasil repetir os erros da Grécia ou da Espanha com "novos partidos" que no fundo fazem a mesma velha tentativa de mudar as coisas por dentro desse sistema podre, sem confiar nos trabalhadores e nos oprimidos para se enfrentar com nossos inimigos. Chega! É preciso de uma política revolucionária, de um mandato dos trabalhadores para denunciar e poder cobrir e aportar verdadeiramente para as lutas operárias e dos oprimidos! É preciso de parlamentares que ganhem como professores e não queiram enriquecer com a política, mas sim, lutar verdadeiramente pela dissolução desse Estado e por um governo dos trabalhadores. Somente assim, é que nós travestis e qualquer trabalhadora e qualquer oprimido poderá participar verdadeiramente da grande política. Não queremos opinar apenas sobre os projetos assistencialistas que, no fundo, alimentam apenas ilusões de um problema estrutural que nos tira a vida, a esperança e muitas vezes a própria perspectiva de mudança. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Virginia Guitzel defende a independência política do Movimento LGBT frente a crise política no Brasil

I Festival de Diversidades do ABC

Virginia Guitzel defende a independência política do Movimento LGBT frente a crise política no Brasil

Nesta segunda feira (28), começou o I Festival de Diversidades do ABC organizado pelo coletivo LGBT PRISMA UFABC. Com mais de 40 estudantes, os palestrantes discutiram os desafios do Movimento LGBT frente o conservadorismo e a profunda crise política e econômica que se encontra o país.

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Com um debate caloroso entre os palestrantes e o público sobre o papel do PT na implementação dos ajustes ficais, Virgínia Guitzel desafiou a vereadora de Santo André e o pró Reitor de políticas afirmativas a demonstrar o progressismo do PT que em doze anos do governo aprofundou o trabalho precário, retrocedeu nos diretos das mulheres como no direto ao aborto e não conquistou uma lei sequer em defesa da população LGBT. Em defesa da independência política do Movimento LGBT se enfrentou com ambos que tentaram desfazer as críticas políticas utilizando de baixos debates morais sobre a juventude da travesti e chamando a de "idealista".
Abaixo reproduzimos a fala de Virgínia Guitzel da mesa de abertura cujo tema era “Desafios da Comunidade LGBT: Direitos, Conservadorismo e Homo-lesbo-bi-transfobia”.
“Para dar início, parece-me importante remarcar que adentramos ao oitavo ano de uma crise capitalista mundial comparada somente a crise dos anos 30, que começa agora a ter mais peso em nosso país. As eleições do ano passado expressaram por um lado a crise histórica que o Partido dos Trabalhadores se encontra, expressão da experiência dos últimos 12 anos onde muito pelo contrário de significar um governo dos trabalhadores ou um governo das mulheres com a chegada de Dilma, se manteve aliado ao grande capital, sendo parte ativa de incentivar a bancada evangélica a conquistar o enorme espaço político que hoje tem, que se expressa na retirada do debate de gênero e sexualidade em várias cidades por todo o país assim como a recente aprovação do reacionário Estatuto da Família.
O Brasil, como muitos sabem, é o país que mais mata LGBT no mundo. A cada 28 horas um homossexual é assassinado e 4 de cada 5 crimes transfóbicos que ocorrem no mundo, acontecem no Brasil. É sob um Estado que não reconhece nossa identidade de gênero que passamos profundas humilhações.
Por esses motivos que não é possível lutar por nossa emancipação ao lado deste governo que hoje claramente ataca os trabalhadores com as MPs, com a proposta da Agenda Brasil e tantos outros planos de ajuste que vem preparando. Porém não é verdade que quem não está com o governo está ao lado de Aécio, do PMDB ou de outras oposições burguesa. Por isso mais que nunca é preciso construir hoje uma alternativa independente dos trabalhadores e setores oprimidos.
Uma grande falácia falar de "golpe de direita" quando a direita é parte hoje do governo e de suas alianças, que dão base para sua sustentação. Muito longe de um golpe da direita está uma grande unidade burguesa pela efetivação da política de ajustes e um preparo para uma maior onda de exploração e miséria para as massas trabalhadoras.
Essa conjuntura tão dinâmica coloca a prova as estratégias no interior do nossos próprios movimentos: feministas, negro e LGBT. E colocam para os ativistas e para os oprimidos que sofrem cotidianamente com o sistema capitalista a ter de buscar novas perspectivas para fazer valer nossos sonhos e nossas angustias e assim colocar um basta ao genocídio que sofremos e as pequenas e já naturalizadas formas de opressão em todos os aspectos da vida, seja no âmbito da educação, seja no mercado de trabalho ou ainda na vida amorosa. Para isso é preciso recorrer a história, que tanto nos é negada, para que sejamos hoje um fio de continuidade dessas ideias, partindo dos erros e acertos destes movimentos para colocar de pé um verdadeiro movimento revolucionário que questione tudo e arranque nossos direitos rumo a nossa completa emancipação.
O surgimento do movimento pela libertação sexual é amplamente reconhecido pela revolta de StoneWall em 1969, quando as travestis negras foram de linha de frente junto as mulheres lésbicas e homens gay num enfrentamento de 3 dias e 3 noites contra a polícia que constantemente. O nascimento da identidade orgulhosa e do revide dos oprimidos deu, um ano depois, no surgimento da I Parada LGBT do mundo. Já no que ficou conhecido como Maio Francês em 1968 milhares de estudantes protagonizaram junto a outros milhares de trabalhadores um forte ascenso revolucionário, onde se questionava não apenas os problemas econômicos, mas também as profundas mazelas do capitalismo da opressão e da miséria da sexualidade. É frente um movimento internacional de questionamento a ordem capitalista que importantes organizações surgiram em todo, como foi o caso da FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) na França e o grupo SOMOS no Brasil, primeiro grupo homossexual assumido pelos direitos da população LGBT.
A ousadia desses movimentos se dava em não apenas lutar pela inclusão dos LGBT na ordem capitalista ou no que hoje se tornou tão comum na defesa da "ampliação de cidadânia", mas de ter uma visão muito clara de que os trabalhadores são a única classe progressista nesta sociedade e por isso é ao lado deles que era preciso estar para poder lutar verdadeiramente pela libertação dos corpos e das identidades rumo a uma sociedade sem classes e sem opressão.
Porém os anos 90 tiveram um peso decisivo na história do movimento pela libertação sexual. Em primeiro lugar pelas derrotadas históricas impostas pelo stalinismo e toda a burocracia soviética contra os trabalhadores resultando na restauração capitalista na União Soviética e no leste Europeu, o que permitiu a falsa ideologia "de que o capitalismo venceu" tão propagandeada pela burguesia. É neste momento particular onde os movimentos sociais se divorciam da classe operária, este primeiro perdendo seu horizonte anticapitalista emancipador e o segundo, por responsabilidade de suas direções, se reduzem as lutas salariais e por melhores condições de vida, sem permitir dar vazão a força revolucionário dos que produzem o mundo e podem subvertê-lo com sua luta.
Combinado a esta profunda mudança mundial, o surgimento da AIDS completamente propagandeado como "câncer gay" obrigou os movimentos a se reorganizarem para garantir a sua sobrevivência. O surgimento das ONGS e das políticas assistencialistas dão um novo conteúdo para o movimento que junto ao neoliberalismo vai ganhando cada vez mais uma visão identitária e pós-moderna, alheia a luta de classes e as reflexões sobre a estratégia e a necessidade da superação do capitalismo.
E, hoje, o nosso atual movimento LGBT é produto destas derrotas históricas onde a luta pela libertação sexual e pela identidade de gênero não está mais associada diretamente a um enfrentamento anticapitalista.
Se o capitalismo não é capaz de resolver as mazelas que ele mesmo criou, então que morra”

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

quarta-feira, 1 de julho de 2015

VÍDEO: Virgínia Guitzel discursa em ato por justiça para Laura Vermont

Bolsa “fique no armário”, uma nova tentativa para o velho objetivo de para manter as LGBT no armário


Não é difícil encontrar LGBT que digam que gostariam de ser heterossexuais ou cisgêneros. Que gostariam de viver sem ter de sentir medo por ser quem é ou gostar de quem gosta. Triste, mas verdadeiro, não é difícil encontrar amplos setores que não conseguem assumir sua identidade trans ou sua orientação homo ou biafetiva. Há ainda aqueles que em algum momento da vida possuíram a coragem de ser e de se assumir com orgulho, mas a profunda opressão os fez retroceder. São estes os "ex-gays" e "ex-travestis" curados por Feliciano, Malafaia e outros políticos que utilizam da religião e da fé de centenas de milhares de trabalhadores para viverem como empresários?


Querem nos exterminar?
Pouco a pouco, a bancada evangélica foi conquistando seu espaço. Com acordos com o PT em 2013 tomou a Comissão de Direitos Humanos e fez carreira. Impediu o kit anti homofobia e agora conseguiu vetar o debate de gênero nas escolas. Na guerra do conhecimento e do combate as opressões desde a infância venceram. Continuaremos sendo discriminadas, com maior evasão escolar, agressões e violência física e psicológica.

A cada novo assassinato, fazem questão de abafar. Procuram o delegado, a mídia mais reacionária e legitimam todas as torturas de Veronica, a morte de Laura e tantos outros homossexuais que "algum motivo deram". Seguem o exemplo do Bispo Bernardo Alvarés que afirmou que as criança provocavam justificando as acusações de pedofilia. Estão prontamente contra igualar a opressão homo-transfóbica ao racismo e ao machismo, com a criminalização da homo e transfobia.

Na lei do Feminicidio, disseram novamente que as mulheres trans e travestis não são mulheres e não sofrem com o machismo. A Lei João Nery é ouvida com temor, pois afronta a visão determinista que se nasce assim e vai morrer assim. Nada disso se aprova e os LGBT segue sem seus direitos.

Por um lado, abandonam os direitos elementares como saúde com atendimento para a harmonização e demais procedimentos que sejam necessários, a educação com respeito as identidades, moradia e trabalho. Nos mantém em 90% na prostituição. E agora, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) propõem uma incentivo para deixar de ser gay (Senão cura, paga-se a transformação?).

O problema que não querem discutir é a profunda situação deprimente que vivem os homossexuais e as identidades trans no país. Os fatos falam muito mais do que os delírios da bancada fundamentalista, é um homossexual assassinado a cada 28 horas e mais da metade dos assassinatos contra homens e mulheres trans e travestis do mundo, ocorre no Brasil. Com essas (falta de) condições, como pode-se querer ser algo que por si só reduz sua perspectiva de vida de 78 a 35 anos como é das travestis? Que seu simples gesto de carinho possa resultar na agressão ou na expulsão de um bar? Que casar não é mais um direito e nem ao menos doar sangue você pode continuar a fazer.

Num país onde ser LGBT é sinônimo de violência e perversidade, o medo, a angustia e a opressão tentam calar e impor pelo extermínio cotidiano ou pelas novas ideias de cura gay e bolsa-fique no armário fazer com que desaparecemos.

O mito da liberdade heterossexual ou cisgênera
Já dizia a Cantora Pitty "Eu queria ser homem, depois descobri que queria ser livre". Ta aí, o puro desejo de ser e estar sem ter de "pagar por isso", sem ter "consequências", sem ter que virar escoria.

Todavia, muito se engana aquele ou aquela pessoa ou movimento que acredita que ser hetero ou cis é sinonimo de emancipação ou libertação. Ou aqueles outros que acham que a luta pela libertação sexual e identitária se resume na luta por direitos civis ou leis para os LGBT. Muito pelo contrário, como aponta Reich em A miséria Sexual da Juventude, vivemos numa miséria sexual própria da sociedade capitalista que impõem a sexualidade um destino próprio da reprodução da ideologia (moral) e da reprodução sexual conservando a família e a estrutura do capital.

A luta contra as pressões e conclusões próprias da etapa já passada da ofensiva neoliberal, onde se negava a existência da classe trabalhadora, como se os carros, os alimentos e as roupas se fizessem por conta própria já não podem mais ocultar os desafios de construir um movimento questionador de tudo que encare também a sexualidade e a identidade de gênero como outra forma de dominação tão necessária de ser superado quanto a estrutura econômica e política que as submetem a lógica capitalista.

Os movimentos que prezam pela auto-organização como oprimidos desconsiderando que não existe separação entre as mulheres, negros e LGBT de suas vidas concretas, como trabalhadores ou expropriadores, terminam limitados pelas leis, pela ordem e pelos caprichos dos exploradores. Essa é a farsa de todo movimento que não possui uma estratégia capaz de transformar radicalmente nossa sociedade. É tempo de construir um movimento que busque libertar o ser humano de sua prisão, que permita o livre desenvolvimento de nossas potencialidade e queira construir uma identidade coletiva que permita todas as expressões de gênero e completa liberdade sexual que rompa com as normas, também homo e transnormativas, onde os estereótipos, o dinheiro e os hormônios impõem claras regras.

É preciso dizer basta de controle sobre nossos corpo e mentes! Construamos um novo mundo onde possamos ser verdadeiramente donos de nós mesmos e de nosso futuro.

Roleta Russa: A vida dos LGBT no capitalismo



Dia 17 comemorou-se 23 anos, desde que em 17 de Maio de 1992 se retirou o prefixo "ismo" e a concepção patológica (de doença) das sexualidades não heterossexuais. A comemoração desta importante conquista da comunidade gay deve fortalecer a luta permanente pela retirada das identidades de gênero não cisgêneras (homem/mulher definido a partir do órgãos genitais) da Organização Mundial de Saúde e a luta pelos direitos civis de toda comunidade LGBT.


Apesar dos comerciais televisivos e as novelas progressivamente irem incorporando personagens LGBT reforçando os esteriótipos de identidades normativas e submissas a ordem capitalista, a revolução sexual dos anos 60 e os questionamentos da relação entre a profunda opressão e repressão sexual e identitária converteram-se na domesticação e na cooptação do ideia revolucionário de emancipação em todos os níveis.

A realidade da ampla maioria de LGBT está marcada por um combate permanente desde sua própria aceitação até mesmo com sua relação cotidiana nos distintos ambitos sociais. A lamentável situação da medicina contemporânea, da "medicina dos sintomas", produz uma roleta russa na sobrevivência de milhares de transsexuais e travestis que têm a sua identidade ser encarada como doença, submete milhares à condições desesperadas de tratamentos hormonais e injeções de silicone industrial, altamente fatais para grande parcela dessa população.

Os abusos sexuais, como o recente escândalo na Argentina, onde se reduziu a pena de um pedofilo que abusou de uma criança de 6 anos com a justificativa que a criança seria homoafetiva. Os abusos sofridos pelas lésbicas pela via do "estupro corretivo", sejam por seus "amigos", colegas de trabalho ou da faculdade, ou por grupos organizados sob ideologias nazistas e o altíssimo indice de suicídio da comunidade LGBT reverberam a miséria da sexualidade perpetuada pelo sistema capitalista, que exalta o individuo tornando-o um objeto à serviço do consumismo, do individualismo e dos prazeres "de ser" e de "estar com" a partir da industria farmacéutica, das maquiagens e da prostituição.

O Brasil na contramão dos 23 anos de despatogização?

Como publicado no Estadão no último sábado, a Comissão de Direitos Humanos contra suas própria razão de existir como defensora de direitos "humanos", organizará uma audiência pública para ouvir depoimentos de "ex-gays" que afirmam sofrer preconceito por sua escolha, abrindo assim caminho para os projetos reacionários abertos pela Frente Religiosa do Congresso Nacional, como "A cura Gay" e outras bizarrices como "O dia nacional da heterossexualidade" e criminalização da "heterofobia" (!).

Idealizado por uma psicologa Marisa Lobo, que teve seu registro profissional cassado justamente devido a sua conduta homo e transfóbica prepara um novo documento para ONU defendendo sua tese da "recuperação, tratamento ou conversão" dos homossexuais como parte da manobra para reverter a determinação do Conselho Federal de Psicologia que proíbe hoje que os psicologos tratem a homossexualidade como doença, alegando que seria preconceito com os ’ex-gays" não oferecer tal tratamento.

Ainda que o Conselho Federal de Psicologia e a maioria dos juízes não encarem seriamente este debate da "cura gay’ como uma ameaça a conquista da despatologização, se preparam novos embates ideológicos e políticos num Congresso Nacional mais conservador construído justamente pelos acordos e costuras eleitoralistas entre o governo do PT com os setores mais conservadores, que frente a própria crise do governo federal vem ganhando mais espaços como é o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

A roleta russa: A mira sobre a juventude LGBT

A profunda marginalização das identidades trans produz na juventude uma angustia própria da miséria do capitalismo assim como as sexualidades não normativas que não competem as idealizações produzidas nos filmes, romances, livros do auge da "felicidade amorosa". A vivência de anos num corpo que não condiz com a identidade de gênero de milhares de jovens produz uma insatisfação de se viver uma vida inteira para ao envelhecer poder conquistar o direito à medicina (tratamentos hormonais, cirurgias) e a "cidadania" (com a alteração do nome nos documentos oficiais).

A vida dos LGBT é de uma roleta russa. Onde se há mais balas para os LGBT negros e negras e principalmente da classe trabalhadora. São estes onde a bala acerta em cheio pela intensa depressão que não os encaixa na sociedade como uma pessoa normal. São onde as balas da hormonização deforma os corpos e causa diversos efeitos colaterais que escancaram a impossibilidade de uma livre e real construção de identidade de gênero nesta medicina contemporânea à serviço da manutenção da ordem capitalista. Que respalda os abusos sexuais das mulheres lésbicas e incentiva a homofobia e a transfobia buscando formas de "curar" o que não segue a ordem capitalista-cristã. É a bala que acerta em cheio a juventude que é jogada nas ruas da prostituição, onde as drogas contaminam a lucidez para amenizar o sofrimento cotidiano, e onde as balas buscam não apenas matar, mas normatizar, deixando exemplos da impotência individual de responder a esta profunda opressão social.

Para tirar da cabeça dos LGBT esta roleta russa, que a cada 28 horas assassina um LGBT, e onde a maioria dos casos de agressões e assassinatos de trans no mundo ocorre no Brasil é preciso uma profunda reorganização do movimento LGBT que não reconheça a "paz" da democracia burguesa, que segue encarceirando Verônicas e assediando nos locais de trabalho, reprimindo dentro dos lares e colocando balas nas cabeças, nos peitos, nos corações da juventude que poderia reavivar a apaixonante luta da revolução social e sexual tão necessária. Somente se enfrentando com a institucionalização dos movimentos sociais promovida pelo governo do PT de contenção das revoltas e dos questionamentos das profundas injustiças sociais é que se pode lançar luz a saída verdadeiramente progressista a situação da comunidade LGBT. A cura gay é apenas um alerta, das vias institucionais para se retroceder a luta mundial contra a patologização, e a confirmação da falência da idéia de avanços graduais e progressista.

É preciso reacender as chamas de Junho na luta pelo Estado Laico e pela separação real da Igreja do Estado e retomar as bandeiras deStonewall (EUA) que se rebelavam em luta pela liberação sexual. A juventude que se prepara para os congressos nacionais da ANEL e da UNE tem como tarefa hoje constituir uma terceira via, onde o movimento estudantil, possa se provar como sujeito político nacional capaz de influenciar a realidade e combater as balas que atingem a juventude negra com a redução da maior idade penal assim como as que matam as mulheres do feminicidio e os LGBT da profunda opressão que vivemos.

Laura Vermont e o transfeminicidio no Brasil

Os crimes mais bárbaros não ganham as telas, nem as capas dos jornais se tem como vítimas mulheres e homens trans ou travestis. Em menos de um mês da Parada LGBT que causou grande polêmica a performance que denunciava a cotidiana crucificação das identidades trans, seja pela moral ou pelos inúmeros assassinatos e agressões, já são diversas pessoas trans mortas. Laura Vermont está entre estas, assassinada pela polícia militar quando caminhava ensanguentada por São Paulo. Por Laura, Verônica e todas as identidades trans crucificadas, dizemos também: Nenhuma a menos!

Mesmo com a aprovação da Lei do Feminicídio, as mulheres trans e travestis seguiram abandonadas pelo Estado, que além de seguir sem reconhecer a existência das identidades trans, ainda decidiu por não incluí-las nesta lei, como se a violência e a transfobia não fosse baseada no mesmo machismo que atinge milhares de mulheres todos os dias. Laura Vermont, Verônica, Géia Borghi também foram vítimas de violência de gênero.

Laura Vermont: uma tragédia cotidiana
Na periferia da Zona Leste, nessa sexta-feira (20), foi a última vez que família de Laura a viu. Assassinada duas vezes, pela polícia num dia, pela mídia no dia seguinte, reproduzindo seu assassinato enquanto homem reconhecido com direito a exposição de seu nome de registro e só depois por sua verdadeira identidade. . Até mesmo um vídeo já circula a internet no qual aparece ensaguentada e desesperada, caminha com muita dificuldade, sem qualquer ajuda ou indignação, agonizando. Mais uma tragédia cotidiana incentivada pela bancada moralista, o Congresso Nacional, o PT e a polícia que a executou.

Os PMs Ailton de Jesus, 43 anos, e Diego Clemente Mendes, 22, são do 39º Batalhão, na zona leste de São Paulo foram soltos um dia após serem desmascarados por mentirem nos depoimentos, encobrindo o tiro disparado por Ailton que a matou. Mas no país da impunidade, onde políticos são condenados por corrupção e seguem sua vida como empresários, o que legitima a LGBTfobia diária sai tranquilamente das bocas e dos projetos de leis no Congresso Nacional, para qual a base aliada do PT cumpre um importante papel. Na campanha eleitoral o PT fez uso da questão LGBT* para angariar setores, mas segue negando seus direitos.

Segundo o juiz Antonio Maria Patiño Zorz, “não parece razoável acreditar que os acusados, ainda que pairem suspeitas, causarão, em liberdade provisória, risco concreto à ordem pública". Não lhes parece um "risco" o envolvimento da polícia militar em centenas de casos que levam à morte as travestis, homens e mulheres trans? Este Juiz, representante deste mesmo Estado que nega o direito à identidade de gênero, da Lei João Nery e da Criminalização da homofobia só reafirma que a cadeia e as sentenças no Brasil tem cor, gênero e agora idade se se aprova a redução da maioridade penal.

A mira permanente sobre a vida das travestis
Laura tinha 18 anos. Teria direito a mais 17, segundo a perspectiva de vida de apenas 35 anos das travestis na América Latina. Não chegou a perspectiva. A mira permanente sobre as nossas cabeças não aceita que nos levantemos e nos revoltemos. Querem calar nossas vozes, das performances de crucificação à visibilidade trans que vem denunciando a repressão policial que está, inquestionavelmente, metida em milhares de assassinados país a fora, de jovens negros nas periferias e da juventude trans que não tem direito a futuro.

Há dois meses Verônica Bolina segue atrás das grades, mesmo após as torturas e assédios sofridos, nada mais se fala a respeito. A igualdade na lei já não significava igualdade na vida, todavia, nem mesmo na lei as identidades trans e as orientações não heterossexuais são iguais. Se depender dos fundamentalistas e do Congresso Nacional, os "ex-gays" e os que se levantarem contra os LGBT e contra qualquer combate à repressão sexual ou identitária terão mais direitos e até direito a uma "bolsa".

É uma tragédia cotidiana, nas universidades com pixações de "viado tem que morrer", nos transportes diversos casos de abuso e agressões que não é natural, nem por acaso. Mas de responsabilidade integral do governo Federal e do Congresso Nacional que não apenas se calam, mas seguem garantindo ataques como foi a retirada do debate de gênero nas escolas, em meio a esta crise de violência contra as mulheres cis e trans.

ÀS RUAS, com independência do governo e das polícias
Há três dias dos 44 anos da batalha de StoneWall, mais uma travesti escancara que nossas vidas não importam. Não chocam. Não causam revolta. O mito de libertação sexual conquistada pelas democracias não tem nenhum fundamento na realidade. Os fóruns de travestis e transexuais, assim como as ONGs e outras entidades que se fortaleceram dentro do movimento LGBT demonstraram com a prisão de Verônica sua profunda adaptação à democracia burguesa e às leis que servem para garantir a ordem sexual e cisnormativa vigente.

Retomar StoneWall, é seguir o exemplo de confiarmos em nossas próprias forças, nos movimentos sociais, na força dos trabalhadores, na juventude que provou em Junho ser possível colocar Feliciano e todos seus comparsas no seu devido lugar. Vamos às ruas, neste sábado (27), em São Paulo, às 13 horas na República pela aprovação da Lei João Nery e pela investigação independente do assassinato de Laura. Queremos justiça e prisão de todos os policiais assassinos, dos torturadores de Verônica. Para acabar com os privilégios que permitem o genocídio do povo negro e o transfeminicídio, é preciso exigir fim do júri especial para os policiais, que sejam julgados em júris populares com comissões de direitos humanos, movimentos sociais LGBT, feministas e organizações de trabalhadores como sindicatos e entidades estudantis.

Assim como nossas companheiras na Argentina, que levantam a campanha "Ni una menos" contra o feminicídio, também exigimos e gritamos aqui: basta de assassinatos e torturas contra as mulheres e LGBTs! Nenhuma a menos!

Há 2 anos de Junho: cresce a luta contra a LGBTfobia

Neste mês de Junho, se completa 2 anos desde que a juventude em seus milhares invadiu às ruas, sem pedir permissão e por assalto derrubou o aumento da passagem, assim como desmascarou a democracia dos ricos que vivemos com o símbolo de um jovem, trabalhador negro chamado Amarildo. E onde a polarização entre os direitos LGBT e o conservadorismo, que na época ocupava a Comissão de Direitos Humanos e Minorias se chocavam, mas mesmo assim, a força das ruas adiou os projetos reacionários da "Cura-Gay" e "Bolsa-Estupro".

Se olharmos para os últimos 12 anos, veremos que apesar dos inquestionáveis avanços nas representatividades nos espaços públicos e televisivos, a opressão às sexualidades não heterossexuais e identidades trans e não binárias só aumentou.

Foi sob o governo do PT que a Igreja Católica conseguiu a partir da "Carta ao povo de Deus" e os acordos Brasil-Vaticano a consolidação da isenção dos impostos e um espaço reservado (e privilegiado) nos interesses do governo. Mas não parou por aí, em 9 de Março de 2013, um nome marcaria a Comissão de Direitos Humanos e Minorias como um inimigo dos direitos dos negros, das mulheres e dos LGBT. Não esquecemos que foi fruto dos acordos e interesses financeiros que o PT negociou a Comissão e fez o nome do pastor Marco Feliciano, que segue buscando maneiras de retroceder em nossos direitos.

A Juventude quer sua libertação sexual e identitária
Hoje, ao olhar para o movimento que mudou radicalmente o país, não se pode deixar de dar a devida atenção às demandas que ecoavam na juventude. Não foram apenas os coletivos LGBT ou as feministas organizadas em seus grupos que lutaram, cantavam e derrubaram os projetos de leis. Pelo contrário, foi a massa de jovens que queriam mais direitos, serviços públicos de qualidade e que não aceitavam os ataques e questionavam o retrocesso dos projetos contra as mulheres e LGBT.

A nova geração de jovens que conhece o PT como mais um partido da ordem e que assistiu seus acordos com as bancadas moralistas exigiam pela sua mobilização o direito a ser e estar com quem quiser.

Essa mobilização histórica da juventude abre espaço e permitiu um ano depois as centenas de greves que desafiaram suas direções pelegas, e em muitas delas saíram vitoriosas. Somente aquele que não quer ver, poderia ignorar a luta negra presente na emblemática greve dos garis do RJ, ou o protagonismo das mulheres nas diversas greves que tiveram do funcionalismo público e da educação. A demanda LGBT por outro lado, esteve presente nas capas dos jornais e tomou grande espaço nas redes sociais, sendo um dos principais debates nacionais que dividiu a opinião pública diversas vezes.

As universidades, por outro lado, mesmo com o vestibular e as altas mensalidades garantindo sua elitização, tem sido um espaço onde muitos homens e mulheres trans, travestis e pessoas não binárias tem se encontrado e se assumido. Um combate direto à moral e ao seu conteúdo de classe, que também gera dentro do movimento estudantil e dos grupos feministas intensos debates. As reitorias andam pra trás dos governos, mesmo com a obrigação dos nomes sociais, não reconhecem a vulnerabilidade desta população, não tendo nenhuma política afirmativa como prioridade nas moradias estudantis, uma vez que ampla maioria rompe com sua família, e tampouco acesso às políticas de permanência. É então um espaço, que tende a cada vez mais denunciar a transfobia na sociedade.

Foi nas eleições onde se disse pela primeira vez a palavra "Transfobia" e onde a onda reacionária LGBTfóbica demonstrou o espaço legal e legítimo no nosso país, recorde de assassinatos, agressões e mutilações de LGBT. Depois os inúmeros casos que levaram a juventude, com os coletivos e organizações LGBT que voltamos às ruas: por Kaique Augusto, João Donati, Marcos Vinícius, Géia Borghi, e mais recentemente Rafael Melo de 14 anos e Verônica Bolina.

Verônica e Viviane: a visibilidade trans evidencia o limite da democracia dos ricos
A brutal violência (de gênero), a tortura e a profunda transfobia estatal executada pela polícia militar seguida do respaldo legal - que mantém Verônica presa até hoje - deu visibilidade à realidade de milhares de mulheres trans e travestis negras no Brasil. Pela primeira vez, uma agressão trans se tornou pauta nacional, com destaque na grande mídia.

Não poderia ser diferente, uma enxurrada transfóbica prontamente se apresentou. Não apenas da polícia militar que novamente justificava as torturas e seu legado de repressão histórico as travestis, mas também do feminismo radical1 e da própria mídia que sem poder negar a escandalosa tortura, pactuava pela prisão de Verônica em busca do esquecimento e da inviabilização (tão comum ao passado) do sofrimento e da discriminação às identidades trans.

Viviane, por muito menos, foi crucificada duas vezes. A primeira em sua performance que contava com uma placa "Basta de Homofobia", e que expressava a realidade dos julgamentos morais às identidades trans e às orientações homo-lesbo-bissexuais, assim como as cruzes que carregamos como as perspectiva de vida de 35 anos para as e os trans, a falta de acesso aos direitos básicos como educação, trabalho e saúde pública.

No país conhecido e reconhecido pela ONU como mais homofóbico do mundo, dizer que somos oprimidos é uma ofensa aos setores conservadores que querem nos fazer acreditar que são eles - os políticos que vivem como empresários - os verdadeiros oprimidos, como dizem a "heterofobia", a "cristofobia" e o preconceito contra os "ex-gays". Então, foi crucificada de novo, desta vez recebeu ameaças de morte daqueles que "amam o próximo" demonstrando que não é uma questão religiosa, mas política que oprime os LGBT.

A Parada LGBT mesmo com todos os seus limites, começa a expressar a nova situação nacional
O bloco dos homens trans com faixas exigindo a Aprovação da Lei João Nery, a esquerda recompor seus blocos de rua e a intensa polarização, ainda não podem modificar o caráter festivo da Parada, nem sua (falta de) orientação política, mas trazem o embrião de uma nova moral.

Uma nova geração de jovens cresce, sem carregar consigo os valores do neoliberalismo, da exaltação do indivíduo e da ilusão nas democracias. Esta geração pode se espelhar na década de 60 e voltar a exigir o impossível, até que se torne inevitável. Com essa certeza, há dois anos de Junho, a luta dos LGBT se fortaleceu e em cada universidade ou nos locais de trabalho, ela se apresenta.

Foi assim na emocionante campanha dos Metroviários de São Paulo contra agressão de um companheiro, na greve da prefeitura da Universidade de São Paulo e em outros tantos processos.

Diziam alguns que já passou o tempo da revolução sexual, e que os direitos formais eram o máximo da emancipação que poderíamos sonhar. O ressurgimento da poderosa classe trabalhadora e uma nova onda da juventude internacional, de Baltimore ao Chile questionamos a polícia, da Argentina ao Piauí não aceitamos #Nemumamenos, nos permite dizer: é hora de um novo StoneWall!

ENTREVISTA ao New Left (Esquerda Diário): "Equality in law does not mean equality in life"


We interviewed Virginia Guitzel, a trans public health worker who lives in Santo Andre, Sao Paulo. She is a militant of the Movimento Revolucionário de Trabalhadores (Revolutionary Workers Movement), part of the international Trotskyist Fraction. She is also part of the women’s group, Pão e Rosas (Bread and Roses). She is a weekly contributor for Esquerda Diario, the international network of left news websites (in the United States, Left Voice).


What are the primary issues for LGBT people in Brazil and how does the current movement respond to these struggles? How does the government respond to these issues?

The United Nations recognizes Brazil as the country with the most crimes and murders perpetrated against trans people. In Brazil, there are no laws defending LGBT rights and we still don’t have basic rights like quality public health care and access to education about non heterosexual sexualities and trans and non-binary gender identities. The trans movement, which emerged during the neo-liberal offensive of the past 30 years, has not sought to make a difference in our national reality. The trans movement has become more and more institutionalized and integrated into the bourgeois regime. All of this despite LGBT issues being a big part of the June 2013 protests — during which we confronted police repression, the government and the religious fundamentalists who wanted to pass a law for a "gay cure".

The Workers Party (Partido dos Trabalhadores, the political party of current President Dilma Rousseff) sold itself to voters as progressive but in over 12 years in power it has not taken a single decisive step in defence of our rights. They were so cowardly that they didn’t even position themselves against the “gay cure”. They (The Workers Party, or PT) make political deals with the religious right, like Pastor Marco Feliciano, a leading advocate of the gay cure, whom the PT helped make the head of the Commission on Human Rights. During the protests of June 2013, which forever changed Brazil, many people protested against Feliciano, as well as against the “gay cure”

How do you see the connection between capitalism and homo and transphobia?
The capitalist system seeks to appropriate all forms of oppression to perpetuate a regime of bourgeois domination. In a semi-colonial country like Brazil, capitalism does this in clear and obvious ways. The lessons we are learning about the limits of the degraded bourgeois democracy show us that equality in law does not mean equality in life. This is because under capitalism, there are no material conditions to eradicate oppression. Instead, the system divides workers using stereotypes and oppression. It weakens them with bourgeois ideology that propagates differences that hide the fact that we, the workers, all belong to one class.

The international movement against transphobia is getting stronger. It is fruit of a new generation that doesn’t want to restrict itself to imposed identities and gender binaries that serve to oppress women and don’t give working men choices for their own emancipation. That’s why the marginalization of trans identities is fundamental to capitalism. On one hand, it maintains the traditional family (which is being increasingly dismantled as single mothers are very much a reality). On the other hand, it maintains sexual desire for non-binary and trans people as a commodity to be consumed by relegating it to the streets via prostitution. At the same time, trans men and women serve as a reserve workforce that allow wages to be lower for everyone. Working as lower paid subcontracted workers, the most precarious of jobs, is seen as a great opportunity by many trans and non-binary people. For them, working a precarious, low wage job is welcomed due to the dangers of commodified sexuality.

I have heard you talk about organizing with the spirit of Stonewall. What do you mean by that? What lessons can the international LGBT movement take from Stonewall?
In Brazil and throughout the world, the LGBT and Queer movements are lacking complete independence from institutions like the police and the state. Stonewall broke the silence about being who we are and showed us our own strength. The LGBT struggle in these times of neo-liberalism has turned into a fight for civil rights without questioning capitalism or the limits of emancipation via consumption (Pink Money). A revolutionary spirit in times of neo-liberalism must revive the spirit of Stonewall, remembering our combative history. It means refusing to compromise with the police and the bourgeois government and it means not seeking the “lesser evil”. We cannot trust our rights to the goodwill of the bourgeois political parties. We LGBT workers are incompatible with this system of misery and human exploitation. Reviving the spirit of the Stonewall rebellion today is not only important, but a necessary condition for LGBT people to take their destiny into their own hands and stop all forms of oppression.



Many people say that workers are homophobic. All of us have suffered homophobia from workers at one time or another. Why organize a class-based LGBT movement rooted in solidarity with workers? Can you give us examples of times that LGBT people united with workers?
In Marx’s text, The German Ideology, he says that the dominant ideology is the ideology of the dominant class. That means that the working class is bombarded with stereotypes propagated by the bourgeoisie in order to divide us. The union bureaucracy, the current model of education, and all of the bourgeois media are transmission belts of these ideas. That is why we of the Trotskyist Fraction have created Esquerda Diario (Left Voice in the United States, Izquierda Diario in Argentina, Chile and Mexico). We hope to build a counter offensive to the bourgeois media with an online newspaper based on the point of view of workers, young people and oppressed people.

Is it difficult to build a class based LGBT movement and solidarity between LGBT people and straight workers? Absolutely. But the difficulty pales to the strategic necessity of an LGBT movement united with the working class. And we have many examples to build upon. We have historic examples, going back to 1895. In that year, the biggest chapter of the Second International was in Germany, where the communist party spoke out against the imprisonment of Oscar Wilde. It was the first time a political party spoke out against sexual repression. But defending LGBT rights isn’t just a long past history. Wherever we of the Trotskyist Fraction do political work, we revive that history.

For example, last year in Argentina, there were many important struggles in the Northern Zone of Buenos Aires where one of the factories, MadyGraft (formerly known as Donnelley) is now occupied by its workers. Prior to the workers taking over the factory, they defended a trans worker who was being harassed by her boss, who refused to call her by her name and to allow her access to her own bathroom. The workers had a lively discussion about class unity against their employers and confronted their boss in defence of their trans co-worker. This action demonstrates that they are the only ones capable of guaranteeing the rights of oppressed people in reality. If a law had been passed, their employers would find a million ways to get around it. Only the workers united in defence of their co-worker could guarantee her rights.

In Brazil, I was able to experience firsthand the possibilities of workers in solidarity with LGBT people. The first was at a strike of sub-sub contracted workers (they worked at a company that was subcontracted by another company, which was subcontracted by the Sao Paolo metro). The work was very precarious and the workers had very little education. By the logic of many people in the LGBT movement, it was almost suicide to be a trans woman in that space. Yet, I went and introduced myself, saying that I came to show solidarity with the workers. Many workers stared at me and looked at me very strangely. However, the days at the strike went on without incident.On the last day of the strike, the union bureaucracy wanted to isolate the workers, so they needed to prevent outside support from people such as myself and the Revolutionary Workers Movement (the political party I am a part of). They started a smear campaign against me, questioning if I was a man or woman. The workers responded, “She came here to defend us, long before the union. She stays.” This demonstrates how the class consciousness of workers advances during a struggle, such as a strike.

The second example was during the biggest strike of the state universities of Sao Paulo in history, which lasted 118 days. During this strike, for the first time in history, a union organized a debate entitled “Sexism, Homophobia and Transphobia” in the midst of the strike. This demonstrates how the union can contribute to undermining the influence of bourgeois ideas on our class, the working class. These workers later went on to protest the actions of the Sao Paulo police who brutally tortured a trans woman, Veronica Bolina.

Last Friday, the United States Supreme Court ruled in favor of marriage equality. What steps should the LGBT movement take in light of this victory?

The passage of marriage equality in the US and its territories rocked Brazil and the world. Here, we celebrated this as a victory against the conservatives who try to take away our rights. To all those who fought for this victory, I send you my sincerest congratulations.

I think the first task that the United States LGBT movement faces is to not let this victory be capitalized on by Obama and the White House who attack immigrants, the poorest LGBT people and black people who have bravely faced off against the police and the government in defence of their right to live.Today’s task is to build an international LGBT movement based on the most profound experiences of class solidarity and revolutionary organizing we have seen, like the Homosexual Action Front in France, Somos in Brazil and Our World in Argentina. We need a movement for sexual liberation that is anti-capitalist and intervenes in the class struggle. We need a movement that questions queer theory, which does not have a plan to destroy capitalism. We need a movement that also questions institutionalized LGBT movements that ask us to compromise our rights or put them off for tomorrow in order to support the existing regime. This will only reproduce the misery of what is possible in capitalism. Our task is to internationally build an instrument for the working class and oppressed people to end what Marx calls "humanity’s pre-history", the system of one person dominating another For us of the Trotskyist Fraction, this means building a movement to rebuild the IV International. This means building communist parties throughout the world, which, with the strength of workers and of oppressed people, can destroy capitalism and create a society in which we are all truly free.

Interview and Translation by Tatiana Cozzarelli

A travesti não vive só de política

Te escrevi um poesia Apaguei, não tinha rima Escrevi então sem muita pretensão Uma espécie de alerta ou de precaução
Te vi Silêncio, Olhos atentos Rio e espero teu abraço De novo, te olho Mas nada tive coragem
Timido e meigo Os olhos, o sorriso e o jeito Ah! Te procuro com os olhos Nada mais, é um devaneio Foi seguro enquanto durou o silêncio Não menos sincero que esse verso-momento
___

Mais relações profundas
Por favor
Superem a risada alienada
O choro pisado que não escorre
Só esconde ou já não tem o que mostrar

Mais relações profundas
Menos drogas baratas
Conversas caladas
Corações sem alma


O que não se permite dizer
Ou não desenvolveu nada
Para transformar em novas palavras
Ou não tem segurança que se valha


Mais relações profundas
Mais
Mais verdade
Mais sinceridade

Então
Troca, confia, sorria
Não que deixe este pedido
Seja perdido
Ou se torne esquecido.


___


___


Ah!
Parece que criou sentido
A fumaça aumentou o sorriso
Os olhos e o toque mesmo timido
Era doce, o sabor que trazia consigo
Quis beija-los
Um amor irrecusavel
Mas sorri e decidi partir
Eram os dois tão presos ali
Entre o amor e os limites do desejo
Faltava um beijo?
Ah...
Faltava a liberdade de se ser
Mas os olhos beijavam
As mãos beijavam
E os labios?
Os lábios mesmo proibidos
Viram
Os braços e pernas tímidos
Sentiram
Ah! Não se permitiram
O olho fez poesia
Atestou-se no riso
Foi um amor-proibido
Que já não podia esquecer o sentido
___

Um brinde

Meu corpo
Um campo de batalha
Chora, grita e sente
Combate de forma valente
Todo o dia
A mesma e nova transfobia

Me constroi
Cada dia mais uma batalha
Venço, perco, segue empatado
Do lado de ca me fortaleço
Mas eles crescem, não me esqueço

Na mira, sigo perseguida
O corpo, as regras, as normas
Evidência
Hetero, cis, burguês
Essa moral em mim se desfez

Corta, mutila, hormoniza
Transforma a cada dia
De forma desigual é impedida
De ser plenamente reconhecida
Da miséria destinada
À insurreição organizada
Se levanta, me levanto

Sei, nasci pra ser sujeito
Escolhi, decidi, quis ser eu mesma
Me tornei abjeto
Parece comum
Um ser que não parece merecer afeto

A nós, um brinde
Guerreiras sobreviventes
Mais um dia
No campo de batalha
Da vida
Do corpo
Da alma