sábado, 29 de novembro de 2014

Virgínia fala sobre o ato por Justiça para Marcos Vinícius no dia 19/11


26 NOV 2014   | No último domingo ocorreu o ato por Justiça e Investigação para o caso de Marcos Vinicius, jovem homossexual (19), esfaqueado no Ibirapuera, point LGBT de São Paulo. Convocado por diversos grupos LGBT, a Setorial LGBT da CSP-Conlutas, Sindicato dos Metroviários de São Paulo e agrupações de Juventude ligadas ao PSOL (RUA e Juntos), estivemos nós da Juventude Às Ruas junto a uma delegação de trabalhadores do Movimento Nossa Classe.




Virgínia Guitzel, trabalhadora da saúde mental e militante da Juventude Às Ruas relatou: "Com dezenas de jovens fechamos por mais de duas horas um dos portões do parque mesmo com chuva para exigir justiça para Marcos Vinícius e todos os assassinados por homofobia e transfobia. Denunciamos o governo Dilma que é responsável pelo aumento da bancada evangélica e dos setores conservadores com suas alianças sujas com Vaticano, Feliciano que presidiu a comissão de Direitos Humanos e agora indicou Katia Abreu para Ministra da Agricultura. E exigimos que os familiares e amigos da vítima, assim como as organizações de luta LGBT, direitos humanos, sindicatos e entidades estudantis participem da investigação para garantir transparência, analisar e averiguar as provas e laudos oficiais".

Em seguida, explicou: "Pois como lembrávamos, não é a primeira vez que viemos às ruas para garantir justiça. Kaique Augusto que foi brutalmente torturado e assassinado na cidade de São Paulo no início do ano, com os dentes arrancados e uma barra de ferro atravessada em sua perna, a polícia decretou suicídio. Fomos às ruas e nosso movimento recusou essa falsificação. Não confiamos no Estado, suas leis e polícias para garantir justiça, por isso para desmascarar esse Estado que nem sequer reconhece a existência da homofobia e sistematicamente se recusa a votar uma lei que criminalize os ataques, agressões, discurso de ódio e assassinatos contra a população LGBT, exigimos nossa participação para expor o quão estrutural é essa opressão que o próprio Estado reproduz".

Sobre a delegação de metroviários que na última semana tomaram os grandes jornais, blogs LGBT, com milhares de compartilhamentos nas redes sociais com sua ampla campanha contra a homofobia em solidariedades ao companheiro Danilo (metroviário) e seu namorado que foram agredidos por 15 homens dentro do Metrô de São Paulo, Virgínia comentou: "A campanha de fotos dos metroviários de São Paulo emocionou muitos LGBT de todo o país. Em meio a tanta polarização sobre o tema, com Levi Fidelix, Bolsonaro, Feliciano e tantos outros seguiram sua campanha para mais mortes e agressões aos LGBT. Já sem muita alternativa, devido ao que é hoje o movimento LGBT brasileiro, os metroviários em sua campanha demonstraram para milhares que receberam sua mensagem que existe um caminho para combater toda forma de opressão. Entre as coisas mais emocionantes, uma coisa não saiu da minha cabeça ’imagine se no meu local de trabalho e de estudo, se onde nós LGBT trabalhamos, houvesse uma resposta tão profunda?’".
 
Continuou: "Mas os metroviários sairam da tela do computador e dos celulares modernos e participaram do ato junto conosco. Recuperaram assim uma das peças chaves que o movimento LGBT precisa se encher de orgulho, a tradição da aliança da classe trabalhadora com os setores oprimidos na luta independente da igreja, do Estado e dos patrões por uma vida digna".

Virgínia concluiu: "Voltaremos às ruas quantas vezes for necessário para garantir justiça para todas as vítimas da LGBTfobia. Para isso, é preciso em cada local de trabalho e de estudo dar as batalhas necessárias para que o conjunto das categorias e dos estudantes tomem para si essas demandas. Reafirmamos o chamado a esquerda, em especial PSTU e PSOL, que dirigem importantes sindicatos e entidades estudantis, como o DCE da USP, a mobilizar sua base para construir ações massivas que possam desenvolver pela mobilização independente uma saída de fundo para as opressões. Ao PSOL, fazemos um chamado especial, frente ao seu resultado eleitoral e a defesa feita pela candidata a presidência, Luciana Genro, exigimos que coloquem seus mandatos à serviço da luta dos trabalhadores e dos setores oprimidos, rompendo com as defesas ao PT como vimos no segundo turno, por uma das principais referências LGBT, Jean Wyllys. Lutaremos para que não apenas haja liberdade para nosso exercício da se sexualidade e construção da identidade de gênero, mas as condições necessárias para que se possa ser, construir e desenvolver em toda linha nossas potencialidades humanas. Que como primeiro passo é organizar um movimento de centenas de milhares pela aprovação imediata da Lei João Nery (lei que garante o direito e o reconhecimento da identidade de gênero) e pela criminalização da homofobia para com maior igualdade lutarmos contra o capitalismo que nos impõem ao conjunto da humanidade a miséria das relações, da sexualidade e de nossa livre expressão do ser”.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Adeus a Revolução Sexual? – O estreito horizonte do movimento LGBT atual

Andrea D’Atri – Especialista em Estudos da Mulher
Celeste Murillo – Comitê de Redação


A Argentina é um dos dezesseis países do mundo – o primeiro na América Latina – que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo – ainda que a lei tenha sofrido vários tropeços antes de ser votada no Senado, em julho de 2010, por uma pequena diferença e depois de muitas horas de debate[1].
A crise que começou em dezembro de 2001 – com o surgimento de movimentos de desempregados, assembleias de bairro e fábricas ocupadas por trabalhadores – colocou também as demandas do movimento de mulheres e do movimento LGBT na mesa. A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo foi uma dessas bandeiras e, em 2012, a cidade de Buenos Aires estabeleceu o regime de união civil na sua jurisdição. Logo, inúmeras organizações nucleadas na Federação Argentina de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans, privilegiaram estratégias jurídicas e parlamentares, limitando a crescente mobilização da comunidade LGBT a pressão pela lei do matrimônio igualitário. Então, o que poderia ter sido um grande ponto de partida para fortalecer a luta LGBT, logo se tornou um teto.
Mas, apesar de suas limitações, o debate da lei não só beneficiou a vida de um setor da comunidade de gays e lésbicas, permitiu sua visibilidade e uma crescente aceitação social da condição da homossexualidade, mas também, além disso, impulsionou um “espírito igualitário” em amplos setores das massas. Os meses em que a lei tramitou no Congresso, a classe trabalhadora e a juventude debateram nas fábricas, escolas e escritórios, enfrentando velhos preconceitos e mostrando que os 70% de aprovação que tinha o projeto não foi uma invenção dos pesquisadores. Dois anos depois a Lei de Identidade de Gênero foi aprovada, lei fundamental para avançar na equidade de pessoas transexuais. Porém, logo ficou claro que a igualdade perante a lei não é ainda a igualdade perante a vida e que, tanto no ambiente de trabalho como no da saúde, ainda persiste a discriminação.
Essas experiências – que merecem uma análise própria, que não é o propósito desse artigo – concentraram, em curto tempo, as lições de quatro décadas do movimento de libertação sexual: demandas, alinhamentos estratégicos e um desvio na cooptação que nos propomos a examinar criticamente.

Stonewall e o surgimento do movimento de liberdade sexual

A radicalização das massas que se estendia desde o final dos anos 60 até o início dos anos 80, se expressou também no caráter anticapitalista sustentada por amplos setores dos movimentos sociais que, nesse mesmo período, questionavam todos os aspectos da vida.
Em meados de 1969, a batida policial no bar Stonewall parecia uma a mais das habituais em Greenwich Village de Nova Iorque, mas desta vez não acabou como sempre: gays, lésbicas e travestis se enfrentaram durante três dias com as forças repressivas dando origem, apenas uma semana depois, para a formação da Frente de Liberação Gay (GLF). Esta coalizão, que reunia pela primeira vez, todas as organizações existentes, logo se espalhou por várias cidades dos EUA e abriu o caminho para a criação de outras agrupações e alianças em muitos países[2].
As barricadas de Stonewall foram um ponto de viragem. Três anos antes, em outro bar de Nova Iorque, havia sido desafiada a proibição do governo em servir bebidas alcoólicas a homossexuais e, em 1967, na mesma cidade, abria suas portas a livraria Oscar Wilde, a primeira do mundo destinada a leitores homossexuais. Mas em Stonewall bastou que uma lésbica, enquanto era arrastada, gritasse à multidão “Por que não fazem algo?” para que a faísca incendiasse o bairro inteiro[3]. Um ano mais tarde, a comemoração organizada pela GLF em Nova Iorque reuniu quase dez mil pessoas. Outras manifestações recorreram às ruas de Los Angeles e São Francisco, e o movimento assumiu a luta pela liberdade dos presos políticos, contra a guerra do Vietnã, contra o racismo, etc.
Nos primeiros anos da década de 70 a homossexualidade foi discriminalizada em quase todos os países do Ocidente, ainda que continuasse considerada uma patologia[4]. Como destaca Carlos Figari:

O movimento homossexual começou a levantar como problemas a considerar na agenda política valores de sua vida cotidiana, tornar público o privado, se auto afirmar como sujeitos homossexuais na sociedade. Este último supunha uma reversão identitária na categoria de interpelação definida como homossexual, que, do termo médico para classificar uma enfermidade passou a ser uma categoria política afirmativa da diferença[5].

As identidades que haviam sido discriminadas e perseguidas se levantavam com orgulho, questionando todas as instituições que reprimiam a sexualidade, buscando novas formas de relacionar-se sexo-afetivamente e desafiando os preceitos morais que os condenava a marginalização. O resultado foi a conversão da rebeldia em política de identidade, para a exigência de maiores direitos. Contudo, essa rebelião, que atravessou fronteiras e gerações, tornou possível que se suscitasse muitas mudanças impensáveis pouco tempo antes para gays e lésbicas.

A “peste rosa”, a reação conservadora e os direitos civis

No final dos anos 70, a direita cristã começou a se organizar contra os crescentes movimentos feministas e de liberdade sexual. Floresceram os grupos “pró-vida” e “pró-família” que sustentaram o modelo de casais heterossexuais monogâmicos e o rechaço ao direito ao aborto. Em 1978, o cardeal Karol Wojtyla assume o papado, que colocou um forte caráter neoconservador à política do Vaticano, não somente na luta “contra o comunismo”, mas também contra a legalização do aborto, que tinha sido alcançado em muitos países, e outros direitos conquistados pelo movimento de mulheres e pelo movimento de libertação sexual. Mas um dos golpes mais duros que a comunidade homossexual recebeu chegou a meados de 1981, quando o Centro para Prevenção e Controle de Doenças dos EUA anunciou o desenvolvimento de alguns casos de pneumonia associado com o sarcoma de Kaposi. A maioria dos enfermos eram homossexuais e morreram em poucos meses, o que foi o suficiente para espalhar o pânico na comunidade gay, que foi estigmatizada brutalmente e que provocou uma verdadeira “caça às bruxas”
Aquela solidariedade que a comunidade homossexual havia conquistado de amplos setores sociais e políticos, começava a se liquefazer ao passo que se estendia a pandemia e a discriminação que surgia dos preconceitos e medo, incutido pela ignorância e os grupos reacionários.
A restauração conservadora, encabeçada por Reagan e Thatcher, com altas taxas de desemprego, privatizações e cortes do gasto público, aumento da espoliação dos países semicoloniais com as dívidas externas e a queda da União Soviética, foi acompanhada pela propaganda reacionária da “peste rosa”, que atuou como disciplinador daquele movimento que, no final dos anos 60, havia emergido questionando a heteronormatividade, a monogamia e a família patriarcal.
Somente em 1987 foi lançado o primeiro programa global de combate a AIDS: levou quase uma década para estabelecer a origem do vírus, descobrir medicamentos para o tratamento da infecção e ter um conhecimento mais preciso sobre as vias de contaminação. Durante toda essa década, o movimento de libertação gay centrou seus maiores esforços na prevenção da infecção, na difusão da informação científica e em ajudar as pessoas infectadas. E junto com esta nova atividade foi adquirindo outra fisionomia: surgem ONGs financiadas por agências internacionais, empresas e diversos organismos estatais. Por exemplo, a Associação Lésbica e Gay Internacional (ILGA), fundada em 1978, multiplica de maneira crescente seus membros em todo o mundo, se convertendo em uma das maiores ONGs, e centra sua atividade nas conferencias mundiais da ONU onde, para 1993, consegue o status de membro consultivo (que perde em 1995 e recupera em 2011 até o presente).
Os fundos internacionais para o “combate a AIDS” deram maior visibilidade e poder aos grupos de homens homossexuais. Lésbicas feministas, negras e de países do chamado “Terceiro mundo”, fizeram ouvir sua voz denunciando a invisibilidade e subordinação das mulheres no movimento de libertação homossexual misto. Também disseram que não se sentiam representadas pelas porta-vozes brancas, de classe média e de países centrais, a quem questionavam suas concepções “essencialistas”. Distintos ativistas do movimento gay-lésbico tem questionado essa contradição, segundo a qual, ao mesmo tempo em que se desenvolvia o movimento a nível internacional, se aprofundava as necessidades de apenas um setor de melhor posição social e econômica que reivindicava por direitos civis, inclusão de novos padrões de consumo e “tolerância”[6].
A institucionalização sob o “flagelo” da AIDS, e as políticas de identidade, questionadas pelos setores mais invisibilizados e subordinados, levaram a crises, rupturas e rachas que levaram a uma reconfiguração do movimento. O caminho que o feminismo atravessou durante essas décadas encontra um paralelo com o movimento de libertação sexual[7]. Por um lado, líderes da comunidade gay se transformaram em uma nova “tecnocracia” administradora de abundantes financiamentos e dedicada ao lobby político nacional e internacional para a regulação e o estabelecimento de legítimos direitos civis, que não questionavam a ordem imposta pelas democracias capitalistas, mas exigiam a inserção nela. Por outro lado, uma pandemia – que não somente afetava aos homossexuais, mas também e fundamentalmente a mulheres heterossexuais de populações vulneráveis, pobres e em sociedades onde prevalecia uma cultura patriarcal – que se tornou a desculpa para lançar ao fogo da discriminação, do desprezo e da marginalização milhões de gays, lésbicas e transexuais, especialmente os mais pobres. Nesses anos, Nestor Perlongher se perguntava sobre essa questão:

...pode-se perguntar até que ponto a assunção da identidade não pode implicar as vezes a domesticação – por via da normatização -, da adaptação a um determinado modelo de certa cotidianidade transgressiva[8].

Como aconteceu também no movimento feminista, a política de identidade –questionada por impor uma homogeneização essencialista que funciona como um disciplinador do grupo que não só descreve mas que também prescreve - conduziu a despolitização do movimento de libertação sexual que se transformou no movimento LGBT, sigla que varia em função de novas identidades dissidentes da heteronorma que vão se configurando e reconhecendo. O que seguiu, foi a política queer, que fez estourar pelos ares as múltiplas identidades para salientar que o mais subversivo era resignificar ou parodiar os gêneros impostos pela hetorossexualidade compulsória e não se ancorar em uma identidade que é sempre coercitiva, normativa e repressiva.
O movimento teve uma deriva equivalente ao que também teve o feminismo; desde as barricadas de Stonewall e a intempestiva intervenção de rua daquelas pessoas que tinham tido negado seus direitos mais mínimos à existência civil, até a intervenção subjetiva, hormonal, cirúrgica ou artística sobre o próprio corpo, para rebelar-se contra a ordem binária dos gêneros que impõem a linguagem e a cultura heteronormativas.
Ali, por fora da própria subjetividade, onde as democracias capitalistas continuam funcionando como um fetiche que esconde, sob a igualdade perante a lei, as mais brutais desigualdades da exploração e opressão que existem na vida, o movimento LGBT se limita a reivindicação de uma maior inclusão que, ao mesmo tempo que é alcançado, domestica suas arestas mais revulsivas[9].

Defender todos os direitos, questionar tudo

Neste cenário, as correntes de esquerda não tem atuado de forma homogênea. Existem correntes que, de forma acrítica, seguem repetindo as demandas dos movimentos sociais se adaptando a seus limites, sem levantar uma perspectiva anti-capitalista e revolucionária para as lutas pela liberdade sexual. Outras tem reproduzido as perseguições mais terríveis de gays e lésbicas dentro de suas próprias fileiras, instauradas pelo stalinismo já nos anos 30, quando estabeleceu que todos os comportamento sexo-afetivos que não se ajustavam a heteronormatividade eram degradações de uma “moral pequeno burguesa” e que esses indivíduos eram mais suscetíveis de ser utilizados como infiltrados pela polícia. Por último, existem as correntes que, com fundamentos sindicalistas e economicistas tem ignorado as demandas legítimas dos setores oprimidos ou considerado “algo secundário”.
No entanto, enraizado na classe trabalhadora, a única classe progressiva da sociedade capitalista, o socialismo revolucionário esteve sempre na vanguarda contra os preconceitos moralistas e reacionários, pagos pela igreja no terreno fértil do atraso camponês. Por isso, os socialistas alemães foram os únicos a repudiarem a sentença ao poeta Oscar Wilde, quando foi perseguido pela sua condição de homossexual no final do século XIX ou, no início do século XX, os bolcheviques – ainda condicionados pelas ideias da época – foram os que eliminaram, durante a Revolução Russa, as leis que criminalizavam a homossexualidade. Exemplos de uma tradição que reagiu diante de todas as manifestações de arbitrariedade, para sintetizá-las na denúncia do capitalismo e explicar, então, a importância que adquire a luta emancipadora do conjunto dos explorados, para todos e cada um dos oprimidos, qualquer que seja o setor ou a classe social a que pertençam.
A partir desse ponto de vista, toda conquista parcial – como a maior equidade em direitos civis – adquire uma importância vital se está colocada em função de fortalecer o movimento na luta radical pela libertação sexual que questione essas instituições com as quais a classe dominante também exerce o seu domínio, impondo sua ordem repressiva no mais íntimo de nossas vidas, em nossas identidades e nossos desejos. Renovadas e mais radicalizadas aspirações para um movimento de liberdade sexual cujo último horizonte não seja o pedido de inclusão em uma sociedade não questionada, mas que se proponha varrer todas as normas que hoje ordenam o que pode ser incluído e o que não pode nesta sociedade, para que a liberdade mais radical deixe de ser uma utopia ou o exercício intelectual e solitário de alguns poucos.

Blog das autoras: teseguilospasos.blogspot.com.ar e andreadatri.blogspot.com.ar




[1] Também existe em alguns jurisdições do México e dos Estados Unidos.
[2] Somente nos EUA, de 60 grupos de homossexuais que havia antes de Stonewall, logo se organizaram 1.500; um ano depois eram 2.500.
[3] Citado em David Carter, Stonewall: The Riots that Sparked the Gay Revolution, Nueva York, St Martin’s Press, 2004.
[4] Durante uma conferência da Associação Norteamericana de Psiquiatria (APA), enquanto se projetava um vídeo sobre o uso de eletrochoque “para reduzir a atração homossexual”, membros do GLF invadiram para denunciar essas “terapias”. Em 1973, APA alterou a classificação da homossexualidade como “desvio sexual” no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e finalmente, a eliminou em 1986. Apenas em 1990, foi retirada, pela OMS, da classificação internacional de doenças mentais.
[5] Carlos Figari, “El movimiento LGBT en América Latina: institucionalizaciones oblicuas”, en Movilizaciones, Protestas e Identidades Políticas  en la Argentina del Bicentenario de E. Villanueva, A. Massetti y M. Gómez, Bs. As., Editorial Trilce, 2010.
[6] Ver Jules Falquet, De la cama a la calle: perspectivas teóricas lésbico-feministas, Bogotá, Brecha Lésbica, 2006.
[7] Ver D’Atri y L. Lif, “A emancipação das mulheres em tempos de crise mundial”, LINK: http://nucleopaoerosas.blogspot.com.br/2013/08/a-emancipacao-das-mulheres-em-tempos-de.html
[8] Néstor Perlongher, “El deseo de unas Islas”, Prosa plebeya, Buenos Aires, Editorial Excursiones, 2013.
[9] Uma minoria significativa do movimento LGBT questiona, nesse sentido, a reivindicação do casamento igualitário e outras demandas similares.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Metroviários Impulsionam Campanha Contra Homofobia em defesa de companheiro agredido.

BASTA DE VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA! DANILO E RAPHAEL: ESTAMOS COM VOCÊS!

Por Metroviários pela Base, que constrói o Movimento Nossa Classe




Nós, do Metroviários pela Base, repudiamos mais um caso de homofobia dentro do metrô que vitimou o metroviário Danilo Putinato e seu companheiro Raphael Martins no domingo dia 09/11. Danilo e Raphael foram covardemente agredidos por um grupo de cerca de 15 homens dentro de uma composição da linha 1-Azul do metrô quando Danilo se dirigia ao trabalho. A partir de insultos homofóbicos deu-se início às agressões físicas. Em meio a chutes, socos e pontapés os dois conseguiram sair de dentro da composição e pedir ajuda aos funcionários da estação Luz; Raphael com o nariz quebrado, sangrando e com várias escoriações pelo corpo e Danilo também com escoriações. O metrô deu início ao atendimento de rotina para a agressão: ofereceu atendimento hospitalar e os encaminhou para a DELPOM (delegacia de polícia do metropolitano), porém, os agressores continuam impunes. O boletim de ocorrência registra o fato como lesão corporal e não como homofobia, já que a discriminação e intolerância contra homossexuais não é crime de acordo com o nosso código penal. O metrô tem por obrigação zelar pela integridade e bem estar de seus funcionário e usuários dentro de suas dependências. A companhia é responsável por aquilo que acontece em sua área e, assim sendo, espera-se que ela preste todo um auxílio às vítimas de maneira digna e mais humanizada e que também coloque todos os seus recursos para identificar os agressores além de arcar com todos os custos de tratamentos de saúde físicos e psicológicos de Danilo e de seu companheiro já que Danilo estava indo trabalhar, logo o que aconteceu foi acidente de trabalho e que seja tratado dessa forma pela CIPA das linhas 1 e 3 do metrô.





Além disso, não podemos aceitar que casos como esses sejam tratados como lesão corporal simplesmente! Isso é homofobia! Nós do Metroviários Pela Base nos solidarizamos com Danilo e Raphael e fazemos um chamado à categoria para que juntos iniciemos uma campanha intensa de luta pela criminalização da homofobia! Criminalização da homofobia já! Não dá mais para aceitar essa diferença de direitos de cada um expressar sua sexualidade. Essa não é uma agressão isolada, um homossexual é assassinado a cada 28 horas no Brasil. Mas essa para os metroviários tem um significado especial pois é um colega de trabalho nosso e precisamos tomar para nós uma campanha, encabeçada pelo Sindicato dos Metroviários, contra a homofobia.


















quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Marcos Vinicius, presente! Basta de vítimas de homofobia e transfobia!

Publicado originalmente: http://www.palavraoperaria.org/Marcos-Vinicius-presente-Basta-de-vitimas-de-homofobia-e-transfobia




Nos jornais e nas redes sociais, pelo menos mais três assassinatos homofóbicos foram divulgados neste domingo (16).

Marcos Vinicius Macedo Souza, de 19 anos, era um estudante que foi esfaqueado próximo ao parque do Ibirapuera, um dos lugares de maior referência na organização e nos encontros LGBT. Mais uma cena de terror. Amigos contam que depois de um encontro haviam se separado e não se reencontraram mais até que por gritos ouviram que alguém estava sendo atacado. Com diversas facadas, o jovem agonizava no mato onde foi encontrado. Foi levado ao pronto socorro, mas não resistiu.

Rachel, como era conhecida, de 40 anos, foi brutalmente assassinada em sua casa, quando duas pessoas bateram em sua porta pedindo um copo d’agua e a surpreenderam com tiros no Jardim Bela Vista, SP. O cabeleireiro José Wilson Alves, 39 anos, morador da zona norte de Natal, foi encontrado morto com os moveis revirados e manchas de sangue nas paredes. Além disso, Danilo Putinato e seu namorado Raphael Martins foram brutalmente agredidos dentro do metrô de SP no domingo dia 09.
Os brutais assassinatos de Marcos Vinicius, Rachel e Wilson não podem ficar impunes. Não podemos mais aceitar calados essa situação. É preciso organizar um grande movimento nos locais de trabalho e de estudo que vá às ruas lutar pela liberdade sexual e livre construção da identidade de gênero, exigindo que o Estado reconheça essa opressão criminalizando a homofobia. Somente com um movimento de milhares nas ruas, sendo expressão dos debates vivos impulsionados pelas entidades estudantis e os sindicatos, é que poderemos dar um basta nessa situação.

O "Brasil sem Homofobia" do PT não pode existir sem romper as relações com as bancadas evangélicas e o Vaticano

A crescente visibilidade que os inúmeros assassinatos de LGBT veem tomando: Kaique Augusto, João Donati, Geia Borghi, Marco Vinicius e tantos outros, escancara o título de "Brasil campeão da homofobia". Segundo relatório da ONG internacional Transgender Europe, o Brasil, entre janeiro de 2008 e abril de 2013, teve 486 mortes de transexuais. Em 2013, foram 312 gays, lésbicas e travestis brasileiros assassinados.

De janeiro a setembro deste ano, foram 218 mortes de LGBTs no país, dos quais 71 por tiros, 70 a facadas, 21 espancados, 20 por asfixia, 11 a pauladas e seis apedrejados. Atualmente já somam 265 assassinatos. Proporcionalmente, nós travestis e transsexuais somos as que mais sofremos com isso, pois morremos em números iguais aos gays que representam cerca de 20 milhões, e nós não chegamos a 1 milhão.

Parece que os chamados de Levi Fidelix, Feliciano, Silas Malafaia e Bolsonaro têm surtido efeito. Com o kit-antihomofobia, (destinado a debater nas escolas as sexualidades não heterossexuais) vetado, com a continuidade dos acordos Brasil-Vaticano que garante isenção fiscal para as igrejas católicas e o direito de ministrar aulas religiosas nas escolas, com a participação de Marco Feliciano (PSC) na Comissão de Direitos Humanos da Câmara durante todo ano passado reforçando sua ideologia de que homossexuais são doentes, e com os discursos de que os filhos são gays porque não apanharam direito de Bolsonaro, assim como o discurso para violência contra homossexuais de Levi Fidelix nos debates eleitorais, seguimos morrendo.

O governo do PT, que diz lutar contra a homofobia com seu projeto "Brasil sem homofobia", foi questionado dos pés à cabeça em Junho de 2013, entre tantos motivos pela seu papel na chegada de Feliciano na Comissão de Direitos Humanos. Na recente eleição, Dilma disse demagogicamente que iria criminalizar a homofobia. Mas como pode reconhecer que os LGBT são tratados diferentemente dos heterossexuais se segue ao lado de Vaticano, das bancadas evangélicas e setores como Maluf, Sarney e tantos outros que necessitam nossa opressão para dividir a classe trabalhadora e sustentar assim essa democracia dos ricos?

Para que não sejamos mais expulsas de casa, para que não mais apanhemos dentro do transporte público, para que não sejamos assassinadas ou nos auto-mutilemos ou os auto- mediquemos pelas filas de anos para alcançar nosso tratamento hormonal ou cirurgia de transsexualização, é preciso romper com estes setores e garantir educação sexual nas escolas, criminalizar a homofobia, SUS estatal de qualidade com atendimento às trans e acabar com a precarização do trabalho.

Justiça e punição já! Seguiremos nas ruas para que sejam os últimos!

Se os dados comprovam que a cada cinco gays ou transgêneros assassinados no mundo, quatro são brasileiros. Que a cada 28 horas um homossexual é assassinado e que a perspectiva de vida de nós travestis é de apenas 35 anos. Nós não aceitaremos essa situação!
Convocamos neste domingo, junto ao Setorial LGBT da CSP-Conlutas, um ato exigindo investigação e justiça já para Marcos Vinicius! Pela criminalização da homofobia! Comissões de investigação independentes do Estado, formadas por familiares das vítimas, organizações LGBT e de direitos humanos, sindicatos e entidades estudantis.


TODOS AO ATO:

Domingo - 23 de Novembro

Parque Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral - Moema - São Paulo
Concentração Às 16 hrs!



Virginia fala sobre a defesa de trabalhadora trans em fábrica ocupada por trabalhadores na Argentina

Publicado originalmente em: http://www.palavraoperaria.org/Virginia-Guitzel-fala-sobre-a-defesa-da-trabalhadora-trans-em-fabrica-ocupada-por-trabalhadores-na-Argentina-Madigraf-Donnelley-transexual





Essa semana o IzquierdaDiário, diário digital impulsionado pelo Partido dos Trabalhadores Socialistas na Argentina, publicou uma entrevista com Nando, trabalhador da Madygraf (ex-Donnaley), uma gráfica que passou a ser controlada pelos trabalhadores sem os patrões após a tentativa de fechamento da mesma. Nesta entrevista ele relatava a defesa firme que os trabalhadores fizeram de uma companheira trans e das grandes discussões que tiveram no interior da fábrica sobre o tema.

Virgínia Guitzel, trabalhadora travesti na área de saúde mental do ABC Paulista, comentou: "O lema que carregam os trabalhadores de Madygraf ’Mexeu com um, mexeu com todos’ é uma concepção que não apenas fortalece os trabalhadores em sua unidade contra os patrões e o governo, como também garante que os próprios trabalhadores possam exercer sua sexualidade e identidade de gênero".

Continuou: "Os trabalhadores e as trabalhadoras, assim como a juventude negra e pobre, são os que mais sentem o peso da repressão sexual assegurada pelos governos em pacto com as grandes instituições religiosas. Essa experiência é um grande exemplo pois descobre uma verdadeira maneira de garantir na vida real, coisa que a lei mais avançada de identidade de gênero como na Argentina não poderia garantir: o respeito e à permanência no trabalho. Enquanto uma pequena parcela das travestis seguem com a vida dupla para garantir seus empregos quase sempre precarizados, a grande maioria segue relegada à ideia naturalizada da prostituição compulsória".

Em comparação com a vitoriosa greve da Universidade de São Paulo, Virgínia complementou: "Para nós, travestis e transexuais que estamos completamente invisíveis, a valente presença das mulheres trabalhadores da USP na linha de frente da greve que durou mais de 100 dias fortalece a voz feminina que grita contra nossa opressão. Essa marcante presença já me fortalecia. Mas foi a atitude do Comando de Greve de votar a delegação de 8 companheiros a participarem do ato por justiça à João Donati, jovem homossexual brutalmente assassinado, que recuperou uma das maiores subversões. Os trabalhadores tomando em suas mãos as demandas dos setores mais oprimidos. Depois, o debate organizado pela Secretária de Mulheres da USP sobre "Machismo, homofobia e transfobia" foi fundamental para dialogar com diversos companheiros que não entendiam ao certo o que sentimos e os assassinatos, agressões e mutilações que sofremos. Ali, diferentemente do que é de costume no sindicalismo brasileiro, se fortalecia uma relação profunda sobre a vida e a opressão que atinge setores amplos da população. Tanto para fortalecer a unidade contra a ideologia dominante como para criar uma relação mais profunda entre os próprios trabalhadores, extrapolando as barreiras da separação entre a vida e o trabalho".

Sobre as afirmações do trabalhador Nando sobre a relação entre o movimento LGBT e o movimento operário Virgínia concluiu: "Concordo inteiramente com a visão de que somos todos e todas trabalhadores lutando pela construção de uma nova sociedade. Esse exemplo concreto da defesa intransigente da identidade gênero da trabalhadora trans a abre a perspectiva que, hoje, o movimento LGBT, que abandonou o horizonte da emancipação sexual das massas populares, limitando-se a reivindicar a "ampliação de cidadania" para os citados na sigla, possa se reencontrar com as lutas operárias para golpear nossos mesmos inimigos com um punho só. Esse potencial revolucionário de encarar de maneira consequente o combate às opressões recupera as experiências mais avançadas da história da classe operária e das grandes transformações sociais. No Brasil, conhecido como país mais homofóbico do mundo, estes exemplos são as expressões concretas que justificam a esperança que tenho na humanidade e na construção de um mundo verdadeiramente livre, onde possamos ser quem somos e ter as condições de decidir e construir não apenas nossa sexualidade ou identidade individual, mas construir um novo ser humano a partir da organização social sem classes, sem Estado e sem qualquer tipo de exploração ou opressões".


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Mobilizemos contra a homofobia e o machismo


Publicado originalmente no Jornal Palavra Operária, n° 109
(http://ler-qi.org/Mobilizemos-os-trabalhadores-e-a-juventude-contra-a-homofobia-e-o-machismo)
Mobilizemos contra a homofobia e o machismo

Passado o primeiro turno das eleições para presidente, uma certeza se generaliza aos LGBT, mulheres e negros: nossos direitos elementares novamente seguem relegados aos interesses das bancadas fundamentalistas e setores conservadores. Enquanto cada dia surge um novo caso escandaloso de assassinato de LGBT, como foi João Donati e agora Geia Borghi, ou mesmo o escancarado desaparecimento de Jandira e sua morte por aborto clandestino, nos debates eleitorais eram disseminados abertamente discursos de ódio homofóbicos e defesas incansáveis contra o direito ao aborto.

Contrários às manifestações de Junho de 2013, que foram verdadeiras porta-vozes dos escandalosos casos de machismo, homofobia e racismo, nem Dilma, nem Aécio oferecem qualquer saída às opressões. Pelo contrário, apesar das promessas de “mudança”, se calaram diante das reacionárias e criminosas declarações de Levy Fidelix nos debates televisivos. Os mesmos alvos de Junho, Feliciano, Silas Malafia e outros continuam a em tecer comentários via redes sociais utilizando-se da fé religiosa de milhares de trabalhadores para propagar a ideologia dominante de negar a liberdade sexual e o direito à maternidade plena, assim como o direito ao aborto.

O debilitamento do PT fortalece polos à direita e à esquerda


Após a pressão da bancada evangélica pela retirada das pautas LGBT do programa de Marina Silva (PSB), o debate LGBT entrou com força nas eleições. Depois do desgaste que Dilma acumulou ao barrar o projeto “Escola sem homofobia”, nomear Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos e ter aumentado consideravelmente o número de assassinatos de LGBT em seu governo, a candidata demagogicamente afirmou pela primeira vez que a homofobia deveria ser criminalizada. Mas logo em seguida, mostrando que são palavras para ganhar votos, defendeu a Lei Geral das Igrejas que busca estender os mesmos privilégios das igrejas católicas as igrejas evangélicas, demonstrando que sua fidelidade é com os acordos e concessões aos setores mais atrasados do parlamento.

O resultado eleitoral do primeiro turno pode demonstrar que o forte questionamento ao PT desde as manifestações de Junho aprofundou polos à direita e à esquerda. À direita, Levi Fidelix que passou de 57.960 (0,06%) em 2010 para 446.878 (0,43%); o Pastor Marco Feliciano (PSC) de 211.855 (0,99%) para 392.674 (1,90%) votos; Jair Bolsonaro (PP) de 120.646 (1,51%) para 464.572 (6,1%); e Celso Russomanno (PRB) foi o deputado mais votado do país com 1.524.361 votos (7,26%). Assim, a bancada evangélica aumentou de 70 para 80 deputados no Congresso Nacional.

Por outro lado, à esquerda, a votação de Luciana Genro, que ficou conhecida por seus enfrentamentos contra Fidelix em defesa dos LGBT e dos direitos das mulheres, conquistou 1.612.186 (1,55%), duplicando a votação em seu partido, o PSOL. Assim como o deputado Jean Wyllys (PSOL) do Rio de Janeiro aumentou quase onze vezes sua votação, de 13,016 (0,2%) em 2010 para 144.770 (1,9%). Uma expressão importante de um sentimento progressista contrário a homofobia e ao machismo, que pôde em Junho ter força real para derrotar os planos de “Cura Gay” e o projeto de “Estatuto do Nascituro”.

Essa polarização mostra como o PT, ao se negar a defender os direitos democráticos mais elementares para sustentar os acordos com aliados obscurantistas, é responsável pelo fortalecimento eleitoral de expoentes reacionários da política brasileira.

As organizações dos trabalhadores e da juventude precisam tomar em suas mãos a luta contra a homofobia e o machismo

Se pudéssemos contabilizar o número de LGBT assassinatos somente durante as eleições poderíamos ver que enquanto se faz demagogia “por cima”, a realidade concreta dos “de baixo” segue sendo de discriminação e violência. Muito além dos assassinatos, agressões e mutilações, a péssima qualidade de saúde é responsável da morte de centenas de travestis e homens e mulheres transexuais pelo silicone industrial, a hormonização sem acompanhamento médico, etc.

O aborto clandestino segue como a quarta causa de morte materna no nosso país. Jandira foi um símbolo dessa situação que Dilma e Marina calaram durante todos os debates eleitorais. Enquanto seguimos lutando pelo direito à plena maternidade, para que as mães trabalhadoras possam criar seus filhos, com o trabalho doméstico se tornando responsabilidade do Estado e não como “função natural” das mulheres, milhares de mulheres morrem sem opção para criar seus filhos ou decidir não tê-los.

É necessário transformar esse sentimento progressista que se expressou nos votos no PSOL em um forte movimento de trabalhadores e jovens que façam a luta contra a homofobia e o machismo ser uma realidade viva nos locais de trabalho e de estudo, colocando os sindicatos e as entidades estudantis a serviço dessa tarefa. Luciana Genro, Jean Wyllys e as bancadas federal e estaduais do PSOL, para fazer jus aos votos que tiveram, devem se colocar a serviço da mobilização independente pelas demandas LGBT.

Em 28 de setembro, dia latino-americano de luta pela legalização do aborto, o Pão e Rosas foi linha de frente das manifestações no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. O contrário do PSOL e do PSTU, que, preocupados apenas com as eleições, não ligaram suas candidaturas desse dia mobilização pelas demandas democráticas.

Um exemplo a ser seguido e ampliado


Um pequeno exemplo dessa perspectiva está nos trabalhadores da USP, que durante mais de 116 dias de greve puderam abrir dentro da categoria um debate fundamental de combate às opressões. Foram com uma delegação de trabalhadores votada no Comando de greve ao ato em repúdio ao assassinato de João Donati e organizaram um debate com mais de 100 trabalhadores, em meio a greve, sobre "Machismo, homofobia e transfobia", uma verdadeira arma para construir dentro do movimento operário uma saída de fundo para as opressões.





Está nesta pequena expressão a chave revolucionária que pode responder de maneira consequente as opressões, partindo dos sindicatos e dos próprios trabalhadores tomarem em suas mãos, o combate a divisão de suas próprias fileiras, mas se colocando a tarefa de libertar a humanidade de toda forma de opressão no movimento da luta contra sua exploração.

GREVE USP: Debate sobre machismo, homofobia e transfobia







A heroica batalha da greve das estaduais paulistas, com centro na Universidade de São Paulo, produziu incontáveis exemplos do potencial revolucionário da classe trabalhadora em responder de conjunto os anseios da população. Seja no ato de doação de sangue que gritavam que "Enquanto os trabalhadores doavam seu sangue à população, a reitoria e o governo doavam sangue as empresas", ou com a doação de cestas básicas às vítimas do incêndio da favela do Piolho (SP) em meio ao ataque sofrido de corte ponto, com muitos funcionários sem receber um mês inteiro de salários, os trabalhadores davam mais visibilidade de que projeto de sociedade podem construir.

Entre tantas histórias e anedotas que grandiosas lutas deixam, se recuperou o fio de continuidade da tradição revolucionária de buscar uma saída operária para as opressões. Com o escandaloso assassinato de João Donati de Goiânia, os trabalhadores da USP agiram prontamente votando em seu comando de greve a ida de uma delegação prestar repúdio a homofobia e total solidariedade aos familiares. Carregaram no ato uma faixa que dizia "João Donati Presente! Punição aos responsáveis por sua morte! Abaixo a homofobia! Trabalhadores da USP em greve". Discutindo o papel da universidade em produzir ideologias que justifiquem a homofobia, seja "cientificamente" ou ideologicamente, os trabalhadores da USP se colocavam na luta para garantir a educação e a saúde a população LGBT, mas em confronto direto com inimigos dos setores oprimidos, que são os mesmos que os seus: governos, polícia, reitoria e o Estado capitalista.

Após o ato, a secretária de mulheres do Sindicato dos trabalhadores da Usp (SINTUSP) convocou uma atividade INÉDITA no movimento sindical, mesmo dentro da esquerda, para discutir "Machismo, homofobia e transfobia" reunindo mais de 100 trabalhadores, que no meio de sua greve, puderam ver a importância de ganhar aliados nesta batalha e que sua luta, enquanto classe, não poderia se desligar da luta pela emancipação do conjunto da humanidade, tendo os setores oprimidos na linha de frente.

Abaixo reproduzo o vídeo emocionante com o debate na integra, uma das mais profundas demonstrações do papel que os sindicatos devem cumprir para reconstituir a ponte entre os movimentos sociais e o movimento operário. Uma ideia condensada do que chamamos de hegemonia proletária, isto é, quando os trabalhadores se apresentam como a classe que pode revolucionar a sociedade, arrastando consigo as bandeiras dos setores que mais sofrem com o capitalismo.

Viva a vitóriosa greve da USP! Viva a aliança revolucionária entre trabalhadores e LGBT!
Pela livre construção de idetidade de gênero, pro um sexualidade livre e plena para todos!


Temporada de Caça (Documentário sobre a Operação Tarântula contra travestis)


Para os que não conhecem, um fantástico documentário da homo e transfobia no Brasil nos últimos anos de Ditadura Militar. O que ficou conhecido como Operação Tarântula era parte do Estado e de seu braço armado na caça as travestis e constante humilhação e assassinatos. Recordar para lutarmos sem ilusões neste Estado capitalista que em 2014 não reconhece a diferença de direitos entre pessoas heterossexuais e pessoas não heterossexuais, entre pessoas trans e pessoas não trans. Compartilho um instrumento de luta fundamental: nossa história.