domingo, 21 de junho de 2015

Um inimigo de Junho na abertura do III Congresso da ANEL

Acaba de vir a público, pela pagina Oficial da ANEL, sem o consentimento dos próprios membros da Executiva Nacional - organismo de direção da entidade - a programação do III Congresso. Chama a atenção que num dos mais importantes debates sobre a “Situação Política no Brasil e os rumos da esquerda" contraditoriamente traz entre os palestrantes, um representante do governo Federal, o deputado petista Adriano Diogo.
Para além do enorme burocratismo, tão recorrente pela ala majoritaria do PSTU de decidir os rumos da entidade como um braço de sua organização, teriam de explicar o que o partido da ordem, responsável pela contensão dos movimentos sociais e principal inimigo dos gigantescos protestos de Junho de 2013 pode contribuir para os "rumos da Esquerda"?

Combater o Estado e o Governo para que o Movimento Estudantil responda as grandes crises nacionais

Não é possível que o Congresso pós Junho, que se proponha a tarefa de responder a nova conjuntura nacional e o surgimento de um forte movimento estudantil no Rio de Janeiro, não parta de apontar claramente contra quem lutamos e possua total independência de classe contra os partidos da ordem, dos exploradores.
Convidar um representante do governo (!) justamente após o profundo desgaste aberto pelo maior processo de mobilização da juventude nos últimos 20 anos e aprofundado pelos ajustes que ataca os trabalhadores com as medidas provisórias 664 e 665, os cortes na Educação com mais de 9 milhões, a crise do FIES, é impor a entidade um impasse profundo para construir verdadeiramente uma terceira via, independente e aliada aos trabalhadores para além dos discursos de "greve geral" em abstrato. Expressa o profundo ceticismo e burocratismo da ala majoritária de transformar a ANEL como alternativa concreta para a luta de classes capaz de organizar a juventude que foi as ruas contra todos os partidos da ordem, em especial o PT em 2013 e hoje são linha de frente de greves e lutas importantes nas universidades públicas e privadas, em oposição ao governismo da UNE que é um verdadeiro freio das lutas.

Agora justamente quando os inimigos da Juventude e dos trabalhadores, PT e PCdoB, dizem que "não defender a democracia é destruir a esquerda", onde as paralisações nacionais e as lutas dos trabalhadores e dos estudantes são usadas para defender o governo Dilma contra a (falsa) ameaça do "golpismo", sendo estes os responsáveis pelo crescimento da bancada do BBB (Bala, Biblia e boi) com ataques aos direito das mulheres e LGBT e a aprovação da reacionária redução da maior idade penal, os militantes do PSTU propõem convida-los para contribuir para o "Rumos da esquerda" por ser uma "referência nos direitos humanos e demandas democráticas"? Como podem ser sérios para falar e votar no congresso algo como "Nem governo, nem direita" ou defender os setores oprimidos se o governo (PT) está na mesa deste congresso?

É preciso superar essa falta de independência politica do PSTU, que busca se apresentar como "ala esquerda do Petismo", para garantir um espaço de formação política da entidade que previlegie as lutas em curso, os grupos da esquerda que compõem a ANEL e os fóruns e órgãos de direção da entidade, fazendo que esta permita que seja apropriada pelos estudantes para lutar.

Porém, infelizmente não é a primeira vez que temos um inimigo de classe em nosso Congresso com espaços privilegiados pelo PSTU. O bombeiro Odaciolo, recentemente expulso do PSOL que para alem de tirar fotos com o reacionário Jair Bolsonaro na semana que o mesmo declarava que não estuprava outra deputada porque nem isso ela merecia, propos alterar a Constituição contra a juventude, para afirmar que "o poder emana de Deus" e não do povo, que agora seguirá com seu mandato confirmando que sim o PSOL elegeu um reacionário. Há quatro anos desde a campanha "Somos Todos Bombeiros", onde nós fomos absolutamente contrários, que balanço o PSTU e o conjunto da ANEL fazem desta campanha e do seu "companheiro"?

Qual balanço de Junho e para que se prepara o III Congresso da ANEL?

As imensas mobilizações de Junho que trouxeram uma inflexão para o país, com o fim de ciclo dos governos pós neo  liberais na América Latina e o aprofundamento da crise econômica, os ritmos do país e dos ataques só aumentaram. As respostas, ainda insuficientes por responsabilidade das burocracias sindicais e estudantis, não podem esconder a disposição de luta e a força dos explorados e oprimidos.

A esquerda, principalmente o PSOL e o PSTU demonstraram sua falta de independência política e de como os anos de adaptação não os permitiram se preparar para a luta de classes, não podendo cumprir papel algum nas intensas mobilizações de Junho. A juventude desorganizada, desvinculada da sua condição de classe e por fora de seus locais de trabalho e de estudo foram submetidas ao espirito dr época autonomista, sem maneiras profundas de organização capaz de dar voz a base e seguir organizado o gigante que tomou milhares de cidades pelo país.
Nossa juventude, que vem construindo a ANEL e irá para este Congresso fortalecida com delegações de Minas Gerais, São Paulo, Amapá, ABC Paulista e Rio de Janeiro, nos propussemos no fim de 2013 a construir um grande encontro que reuniu mais de 800 jovens, trabalhadores, LGBT, negros e negras e mulheres para debater as lições de Junho por uma perspectiva revolucionária.

Sem a clareza dos limites desse processo, não tem como a ANEL ter a a necessária ambição para chegar a dezenas de milhares e colocar de pé um instrumento capaz de pela via da auto organização construir uma terceira via. É partindo dessa necessidade objetiva que nós da Juventude Às Ruas impulsionamos o Esquerda Diário, a qual convidamos aos lutadores deste Congresso, que não esquecem seus inimigos a se informar e colaborar para construir uma mídia verdadeiramente independente dos patrões e do governo. Chegar em milhares de pessoas para dar uma perspectiva dos acontecimentos nacionais e internacionais pelos olhos dos trabalhadores e da juventude está a serviço de pensar como aprofundar o desgaste do regime, com uma saída pela esquerda.

A ANEL tem a tarefa de avançar de uma pequena entidade, muito consumida pelas crises do PSTU, a adotar uma orientação capaz de demonstrar na prática e no cotidiano o combate a UNE, coordenando as lutas nacionalmente, incentivando o surgimento de ativismo e militância e adotando uma postura muito mais ativa em defender um programa para as universidade privadas que junto a tentativa de desmonte da educação pública, expressam a importante crise da educação nacionalmente.

O III Congresso da ANEL é uma grande oportunidade de construir sem o PT e outros inimigos de classe, uma alternativa pra juventude que quer o futuro.

Porque questionar a horizontalidade?

AUTONOMISMO X AUTO-ORGANIZAÇÃO

Por: Virgínia Guitzel

Frente ao fenômeno internacional de crise de representatividade, dos regimes e das democracias degradadas, as entidades estudantis (DCE, CAs, DAs) e de trabalhadores (Sindicatos) vem sendo amplamente questionadas por todo o país. Para poder recuperar as entidades de organização de massas dos trabalhadores e da juventude para a luta é necessário debater as estratégias e semi-estratégias que se desenvolvem dentro das universidades.

O profundo retrocesso na organização e nas lições do movimento estudantil e operário fruto da ofensiva ideológica burguesa resultou na transformação das entidades, instrumentos de luta e organização, em correia de transmissão da ideologia dominante a partir das burocracias sindicais e estudantis, aliadas ao governo como UNE (UJS), CUT (PT) ou CTB (PCdoB) que estão em defesa do ajuste fiscal ou da oposição burguesa como Força Sindical, que comemorou a aprovação da PL da terceirização.

Com entidades cada vez mais burocratizadas, garantindo privilégios e interesses próprios alheio aos interesses do conjunto dos trabalhadores, a juventude que despertou em Junho um novo país e os trabalhadores que entraram em cena a partir dos guerreiros garis do Rio de Janeiro mostram que é possível, e muito necessário superar estas direções históricas que servem de contenção e freio da mobilização e do surgimento de um novo ativismo militante. É importante então dar um passo além: recuperar as entidades para fazer o movimento estudantil emergir como sujeito político.

Autonomismo e horizontalidade: um espirito da restauração burguesa

O sentimento contra partido é amplamente sentido na juventude que vê um caminho certo de todos os partidos se venderem e de uma juventude que conheceu o PT já como o partido da ordem, reprimindo greves, cortando ponto, cortando verbas para educação, fazendo acordos com Feliciano, Cunha e outros reacionários, etc.

Isto é, com a ofensiva ideológica do "triunfo do capitalista" frente ao "socialismo real" (stalinismo) e a ampla experiência com as democracias burguesas degradadas, a juventude perdeu o horizonte da busca pela transformação revolucionária da sociedade e passou a ver como utópica as experiências da Revolução Russa, a necessidade de construir um partido internacional da revolução e da auto organização do movimento estudantil e operário.

A ausência das reflexões estratégicas fundamentais para tomar as ruas por assalto e impor a força dos trabalhadores para controlar a sociedade, permitiu que valores como a exacerbação do individualismo, da auto suficiência e as ilusões reformistas de emancipação como acúmulo progressivo de direitos se tornassem parte da ideologia e prática da juventude, em maioria das universidades públicas, mas com fortes expressões no senso comum de muitas universidades particulares.

Os limites da horizontalidade

Tentar lançar luz, utilizando o marxismo revolucionário como ferramenta, para compreender a fundo a horizontalidade é uma maneira de dialogar com o legítimo sentimento contra aos partidos da ordem, sem permitir que sejam igualados as organizações de trabalhadores e da juventude que lutam contra estes políticos corruptos. Frente ao ceticismo disseminada pelas entidades-"administrativas" (não militantes) de se organizar e preparar grandes lutas com centenas de milhares de estudantes combinado ao profundo desgaste dos estudantes com gestões burocráticas fruto da insuficiência da esquerda - principalmente PSOL e PSTU - de construir um novo movimento estudantil, é preciso buscar responder que forma de organização o movimento estudantil precisa para vencer os cortes do governo federal, a tentativa de desmonte da educação pública e a ditadura das universidades privadas, que ano a ano, sofrem ataques como a crise do FIES, o aumento das mensalidades e a perseguição política pelos tubarões do Ensino.

A concepção de horizontalidade, construída e disseminada a partir das mobilizações de Junho de 2013, foi encarada por dezenas de milhares como uma tentativa de combater a burocratização dos movimentos sociais e das entidades a partir de uma nova medida organizativa desligada de um debate mais profundo do conteúdo de "para que nos organizamos". Muitas vezes reduzida a crítica ao partidarismo, aos tempos de fala e as votações, buscando pela via do consenso e o livre tempo de fala combater os erros e traições das outras gestões, a horizontalidade vai revelando que apesar dessa concepção aparecer como "inovadora" e "democrática" em combate as velhas práticas do movimento estudantil, mas acaba por ser ainda mais anti-democratica, pois contrapondo a democracia de base, são poucas figuras ou entidades que acabam decidindo em nome de todos, uma escolha de poucos. 

Por outro lado, também escancara o profundo ceticismo com as entidades recuperarem seu verdadeiro papel de organização de massas, como um instrumento de luta e democracia. Assim, se desvincula da base dos cursos, se restringindo a uma política de vanguarda incapaz de massificar pois não está baseada na democracia de base. 

Como se expressa em substituir as votações por consenso, que ao invés de "unificar" como aparece a primeira vista, impede as diferenças se expressarem, de construir um espaço legítimo para todos poderem defender suas idéias e posições.

Ao estabelecer uma "democracia horizontal" contra a "verticalidade" onde a burocracia silencia a base (e os setores oprimidos) se perde a dialética entre a organização da vanguarda e a massa dos estudantes que só podem verdadeiramente expressar suas posições se estão representadas em delegados por curso proporcionais as posições tiradas em suas assembléias. A suposta luta "contra as lideranças" não encontra respaldo na realidade, pois não promove a auto-organização capaz de expressar a base dos cursos, pelo contrário, acaba por tornar as "figuras públicas", mais carismáticas ou mais conhecidas, como referências do movimento, mesmo que possa ser de forma inconsciente.

As lições de Junho para o movimento estudantil

Sem dúvidas, a horizontalidade promoveu uma forma de organização, que agrupou um amplo setor de vanguarda. Todavia, desde Junho de 2013 se cobra um grande preço a ausência de uma organização profunda que combinado a politização dos cursos, possa decidir de maneira organizada os rumos do movimento que deve seguir exigindo as demandas das ruas que não foram atendidas - pelo contrário, já inclusive aumentaram as passagens novamente. Por isso reabrir o debate sobre as formas e estratégias de construir um movimento estudantil capaz de combater os ajustes do PT sem fortalecer a direita é fundamental para nos prepararmos para novos Junhos.

A juventude que entrou nos primeiros anos já carregam consigo uma nova moral. Foram jovens que não chegaram a universidade sem ver a força que a juventude tem quando está nas ruas exigindo seus direitos. Refletir os limites das mobilizações de Junho é a maneira de poder tirar lições e construir desde a organização de base dos cursos uma forma democrática de decidir os rumos das mobilizações. Por isso nos vale questionar a horizontalidade, partindo de quando ela foi provada pela luta de classes e demonstrou sua completa falência para levar o movimento a vitória. Primeiro, na expressão do Movimento Passe Livre em São Paulo, o Forum de Lutas no Rio de Janeiro ou a Assembléia Popular Horizontal em Belo Horizonte se demonstrou a profunda separação entre a vanguarda das mobilizações e o sentimento de massas de questionar todo o regime degradado e as demandas populares em defesa da melhoria das condições de vida e dos serviços públicos. Ao não ter buscado uma organização desde as concentrações como as universidades, escolas, locais de trabalho, a horizontalidade se absteve do combate de recuperar as entidades, como formas de organizações e em seguida, centralizou os rumos do movimento em algumas personalidades que ganharam mais destaque, sem permitir efetivamente um sério debate sobre as estratégias para o movimento.

Se queremos um movimento estudantil que se prepare para responder as grandes crises nacionais, muito longe de deslegitimar o surgimento de um ativismo nestas universidades fruto dessa incorporação da horizontalidade é preciso levar até o fim as conclusões das experiências num dos maiores processos de juventude da América Latina nos últimos anos. Quando milhares foram as ruas foi sob essa base da horizontalidade que se desorganizou o movimento que depois retornou aos seus lugares de trabalho, estudo e moradia, sem nenhuma alternativa capaz de seguir preparando a luta e aprendendo com estas experiências. A batalha hoje colocada para a juventude é, contra desarmar o movimento, lutar para que as entidades retomem seu caminho na luta de classes, desde as bases, fomentando a auto-organização com assembléias de curso e delegados revogaveis eleitos para representar as posições da base, permitindo que se tenham posições de maioria e minoria contra o consenso burocrático que impede a base de apresentar todas as ideias e posições que se chegou.

Com importantes, mas ainda iniciais, experiências no CACH - Centro Acadêmico de Ciências Humanas - pudemos aprovar com maioria dos estudantes a proporcionalidade como forma de ajudar o movimento a experimentar e testar suas alternativas de direção em momentos onde não se há luta. Acreditamos que a partir de constituir uma nova tradição do Movimento Estudantil com a liberdade de crítica e de diferenças politicas é possível incorporar mais estudantes para seguir preparando  o movimento para romper os muros da universidade e novamente ocupar com centenas de milhares as ruas, mas desta vez com uma saída pela esquerda, consciente, a crise do governo federal, aos projetos reacionários como a redução da maior idade penal e a "Cura Gay" e os escândalos de corrupção.

Junho, questionador de tudo, mostrou que é nas ruas, independente do governo e da mídia, o lugar da juventude para construir um novo futuro. É hora então, de organizarmos a partir dos nossos locais de estudo e de trabalho, a nossa ida. ÀS RUAS.

domingo, 7 de junho de 2015

"O movimento estudantil tem a tarefa de disputar os rumos do país"



Neste sábado (06), no terceiro dia do III Congresso Nacional da ANEL ocorreu a mesa "Combate às Opressões" com Silvia Ferraro (MML), Claudicea Durans (Quilombo Raça e Classe), João Nery, Ricardo da Associação dos imigrantes Haitianos, Wilson Honório, Virginia Guitzel (Pão e Rosas) e Nazarena, representante da campanha #Niunamenos na Argentina.

Com muita agitação e palavras de ordens contagiosas, a mesa debateu frente ao cenário nacional e os ataques vindo de Dilma junto aos projetos reacionários do Congresso Nacional, a situação do povo negro, da profunda violência contra as mulheres, a organização dos Haitianos no Brasil e com muito destaque a luta contra a LGTBfobia.

João Nery, primeiro homem trans operado no Brasil hoje ativista e escritor da obra "Uma viagem solitária" apontou a opressão cotidiana na vida das pessoas trans, enquanto  Nazarena trouxe a luta das mulheres na Argentina contra a violência com a campanha "#NiUnaMenos". As mulheres do Pão e Rosas Brasil ergueram cartazes da campanha internacional impulsionada, pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina (FIT) e principalmente pelo Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS).



A militante da Juventude Às Ruas, Virginia Guitzel  enfatizou a necessidade de centrar os debates do 3º Congresso da ANEL em  coordenar e organizar as lutas nas diversas universidades no Brasil não só pelas questões imediatas de pagamento dos terceirizados e de permanência,mas qual é a Universidade que todos os setores oprimidos precisam e refletir sobre para quem e com qual orientação é produzido o conhecimento nas universidades e a importância disto nas discussões LGBT's onde o conhecimento das universidades aplicado na saúde pública não tem a mínima consideração das necessidades dos travestis.
Resaltou também a importância de arrebatar das mãos dos grandes monopólios da educação e o grande negócio que são as universidades privadas no país que já funciona com grandes recursos do próprio Estado.

Assista abaixo a intervenção de Virgínia Guitzel:

Virgínia Guitzel no III Congresso da ANEL