segunda-feira, 7 de julho de 2014

A ofensiva aos LGTTBIs e a necessidade da esquerda defender os direitos democráticos

                Não é de hoje que assistimos discursos como o promovido pelo presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, no final do mês de setembro em uma entrevista à CNN onde dizia que “Apoiar a homossexualidade é coisa de capitalistas de linha dura, que não se importam com os autênticos valores humanos”.[1]  Desde a burocratização da União Soviética e a perda da conquista LGTTBI da revolução russa, onde além de desvincular a interferência estatal na sexualidade individual ainda reafirmava a posição da união soviética de que a homossexualidade era tão natural quanto a heterossexualidade. Porém um discurso similar ao de Ahmadinejad  pode ser encontrado na União Soviética com a stalinização do Estado Operário,  na edição de 1971 da Grande Enciclopédia Soviética, onde se lê: “homossexualidade é uma perversão sexual consistente em uma atração antinatural entre pessoas do mesmo sexo. Dá-se em pessoas de ambos sexos. Os estatutos penais da URSS, os países socialistas e inclusive alguns estados burgueses, punem a homossexualidade...”.

                Além destes discursos, recentemente foi noticiado pela folha de São Paulo a descoberta de forças de segurança oficiais no Iraque, criadas para perseguir os homossexuais, onde segundo a reportagem, 17 dos jovens entrevistados disseram terem sido perseguidos individualmente e todos terem amigos ou conhecidos mortos.[2]  Junto a tamanha repressão a sexualidade, no Irã a alternativa que muitos homossexuais encontram para não serem perseguidos por sua orientação sexual era passar pela cirurgia de mudança de sexo, o que exprime o quão opressor é este país, onde os indivíduos são obrigados a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo que significa uma alteração física no seu corpo e no seu gênero sem se identificarem com este novo corpo/ novo gênero. Isso tudo para poderem expressar sua sexualidade sem receber a pena de morte. Como se não fosse o bastante, em Maio deste ano, o Irã anunciou que não mais contribuiria para os custos da cirurgia de mudança de sexo, o que impõem que milhares de transexuais não possam  adequar seus corpos com seus respectivos gêneros que lhes convém, assim, não garantindo o pleno direito dos indivíduos de se auto determinarem e terem sobre si o direito de seus corpos. Deixando mais uma vez evidente que estes direitos só serão garantidos aos que possuírem dinheiro para realiza-lo. [3]

Diante de tamanha ofensiva moral e da falta de organizações LGTTBIs com independência de classe, que defende a classe trabalhadora e entenda a relação entre as demandas democráticas e a revolução socialista, como única forma de garanti-las plenamente, é preciso abrir um sincero debate sobre a defesa dos LGTTBIs que permanecem com sua opressão vigente e naturalizada pelo Estado burguês. É preciso buscarmos as ferramentas do marxismo revolucionário e do marxismo com predominância estratégica representado por Trotsky que nos garante uma analise e uma perspectiva revolucionária para discutirmos a questão LGTTBI, hoje afogada pelas teorias pós-modernas que nada podem garantir a estes indivíduos.

O Estado como reprodutor das opressões para sustentação do sistema vigente.


Se retomarmos a resposta de Marx à Bauer, percebemos que a nossa estratégia não se trata de obter somente a emancipação politica, (estes são os reformistas, que ainda estão presos à lógica de modificação da sociedade através de reformas) mas de atingir a emancipação humana. Escrevia Marx: “O limite da emancipação politica fica evidente de imediato no fato de o Estado ser capaz de se libertar de uma limitação sem que o homem realmente fique livre dela, no fato de o Estado ser capaz de ser um Estado livre, sem que o homem seja livre (...) A emancipação politica de fato representa um grande processo, não chega a ser forma definitiva da emancipação humana em geral, mas constitui a forma definitiva da emancipação humana dentro da ordem mundial vigente até aqui. Que fique claro: estamos falando aqui de emancipação real, de emancipação pratica”.

Se tomarmos essa citação para a questão LGTTBI percebemos que a reprodução da família monogâmica heterossexual não precisa vir através de uma lei ou de uma disciplina escolar, mas é parte de uma imposição ideologia que fomenta estes sonhos e essa ‘realização’ que só existe no ideal, não na realidade das travestis que vivem em media 35 anos, ou por doenças (fruto da precarização da vida e da prostituição como a forma majoritária de sobrevivência) ou pela transfobia seja ela pelas mãos de um nazista, um policial, um homofobico comum ou entre as próprias travestis que são educadas à miséria e a competição.
               
                Por isso se não há um combate direto ao Estado, entendendo ele como reprodutor não apenas da moral vigente que por si só é homofobica, mas compreendendo que ele é o produto da divisão da humanidade em classes e que reproduz essa divisão, mantendo a classe trabalhadora semi-escravizada e a burguesia com seu domínio político e econômico. É a opressão de uma classe sobre a outra, ou ainda como diria Marx: "um comitê de negócios dos capitalistas". Acusamos o Estado, a propriedade privada e a burguesia de reprimir diariamente nossa sexualidade. De submeter nossas relações a meras relações econômicas. De criar entre nós relações utilitaristas e sexistas. De relações de poder, de posse, de troca e venda.

NO BRASIL AS ELEIÇÕES SÓ COMPROVARAM QUE AS MILHARES DE MULHERES MORTAS POR ABORTOS CLANDESTINOS, TRAVESTIS E HOMOSSEXUAIS MORTXS PELA HOMOFOBIA SÃO MERAS MOEDAS DE TROCA PARA OS PARTIDOS BURGUESES!

                Não muito diferente do que as medidas mais repressoras do Irã e do Iraque contra os homossexuais, no Brasil que é conhecido como o país mais homofobico do mundo, tendo 1 homossexual assassinado a cada 35 horas. Durante essas eleições, assim como em 2010, pouco se tocou nos assuntos “polêmicos” onde o caráter de classe e sua moral covarde e hipócrita deixavam claro para quem governam os partidos da ordem.
                A própria mídia anunciou que o tema do aborto em 2010, durante as eleições de Dilma, agora seria o kit contra a homofobia (intitulado pejorativamente de kit-gay) para as eleições do Haddad. [4] Obviamente, nem PT nem PSDB defendem os homossexuais, muito menos os que pertencem as fileiras da classe trabalhadora, assim como continuam sendo responsáveis pelas milhares de mortas por abortos clandestinos, também se responsabilizam não só por submissão a igreja e as morais religiosas, como também parte da normatização dos corpos e da sexualidade. São cumplices da igreja católica e dos pastores como Silas Malafaia[5] que colocam um discurso falso e reacionário dos homossexuais quererem superproteção das leis, sendo que esta para além disso, é o direito a vida plena, a plena realização pessoal, desenvolvimento livre da sexualidade, direito ao trabalho para as travestis.

                A esquerda infelizmente avançou pouco nesse debate nessas eleições. O PSOL que muito apareceu como “contra a homofobia” demonstrou ao longo da campanha eleitoral seu papel conciliador de classe (com apoio de partidos burgueses como DEM, a frente única com PCdoB), sem contar a entrevista onde o principal candidato deste partido, Marcelo Freixo, ao ser questionado se faria corte de ponto caso fosse eleito, sua resposta foi “depende”. Nós, da Juventude ÀS RUAS, gostaríamos de saber como pode se combater a homofobia, sem independência de classe e se é possível fazê-lo enquanto se ataca a classe trabalhadora, com cortes de ponto, etc.

Já a candidata Ana Luisa (PSTU) divulgou um vídeo da parada gay onde discutia a necessidade de encerrar os ataques aos homossexuais. Embora o vídeo esteja vazio de conteúdo, e a defesa da candidata seja bastante genérica, é preciso reconhecer que este partido tem um acumulo sobre a questão LGTTBI que se expressa em diversos artigos públicos em seu site. Onde há um resgaste dos movimentos LGTTBIs combativos, como o grupo francês FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) ou mesmo o grupo SOMOS, do Brasil, que em 1980 foi até o estádio da Vila Euclides e junto a uma das maiores greves da época, demonstraram seu apoio a luta dos trabalhadores, e diferentemente do que pensavam os demais setores do movimento LGTTBI,  foram ovacionados.
Mas isso demonstra ainda mais a debilidade estrutural desse partido que apesar de tanto acumulo na questão, pouco consegue usar das lições da classe trabalhadora, e dos princípios do marxismo revolucionário que visa a unificação da classe trabalhadora. Que evidencie as opressões diretamente ligadas a exploração. O que está para além de um discurso da construção do partido, mas compreender a questão LGTTBI como uma forma de super exploração e uma medida da divisão de nossas fileiras.

Por isso, nós da LER-QI e da Juventude ÀS RUAS, para além de nos colocarmos contra todas essas medidas repressoras que decorremos nesse texto e pela hipocrisia dos partidos burgueses em levantarem defesa aos LGTTBIs, fazemos um chamado a esquerda anti-capitalista a levantar uma defesa aos LGTTBIs, na perspectiva de ligar essas demandas sob as bases do marxismo revolucionário, da independência de classe, da unidade entre estes setores com a classe trabalhadora, mas principalmente, com o objetivo claro de avançar da luta pela emancipação política para a emancipação humana, da conquista de nossos direitos, para a conquista de uma nova forma de vida. Lutemos pelo direito a vida plena, por um mundo livre de opressões e de classes sociais. Lutemos pelo fim do machismo, do racismo e da homo-lesbo-transfobia. Lutemos pelo fim do capitalismo e pelo fim da exploração humana.

Lutemos, pois temeremos mais a miséria do que a morte.

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