quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Putin na contramão da existência dos LGBTs na Rússia

Por Marie C. e Virginia Guitzel

Nas últimas semanas casos de tortura, assassinatos e opressão aos homossexuais cometidos na Rússia por grupos de extrema-direita chocaram o mundo inteiro, acompanhados de uma série de ataques pelas mãos do próprio Estado aos LGBTs. Uma verdadeira barbárie capitalista, respaldada pelo Estado. O primeiro ataque do atual presidente da Rússia, Vladmir Putin foi uma lei que proíbe a circulação de propaganda que contenham o conteúdo altamente ofensivo, de que pessoas que se relacionam com pessoas de mesma identidade de gênero são tão normais quanto as heterossexuais, a chamada lei anti gay proíbe que “propaganda gay” seja veiculada para menores de idade. Agora, turistas gays ou estrangeiros que de alguma maneira demonstrem homoafetividade publicamente, ou algum tipo de apoio aos LGBTs, inclusive a bandeirinha do arco-íris, poderão ser expulsos do país, punidos com multas ou até detenções. Para Putin, a Rússia não pode permitir que relações homoafetivas aparentem ser tão naturais quando as heterossexuais, assim como para ele, as Pussy Riot[1]  devem permanecer detidas e sua liberdade de protesto tem de continuar sendo negada. Ao mesmo tempo, ele dá apoio à Snowden, antigo funcionário da inteligência dos EUA que trouxe a público o esquema de espionagem do governo americano, ficou ao lado de Kadafi na Libia e de Al Assad na Síria durante todos os processos revolucionários e a ditadura banhada de sangue que o Estado impunha a população. É esta a face de quem dirige o Estado Russo, Putin, originário da KGB, órgão de espionagem que foi deixado pelo GPU, stalinista.

A herança stalinista presente no governo Putin


O stalinismo, que regrediu nos direitos das mulheres conquistados pela Revolução Russa após a burocratização da União Soviética, perseguiu homossexuais em todos os regimes nacionais que dirigiu, até mesmo em todos os estados operários deformados (Cuba, China, etc), esta perseguição se mostra presente até hoje. 

O stalinismo (desde 1928 até a queda do muro de Berlim) perseguiu homossexuais em todos os regimes nacionais que dirigiu, em todos os estados operários deformados (Cuba, China, etc), e mesmo na URSS. Para isso fazia uso até mesmo da GPU, órgão de espionagem do stalinismo, que depois deu origem à KGB, de onde veio Putin, que hoje com uma mão dá asilo à Snowden, perseguido político dos EUA e com a outra ataca xs LGBTs. 

Desde a burocratização do Estado operário que já produzida uma forte propaganda reacionária da família, contaminando a classe operária com as ideologias burguês com qual a revolução de outubro se chocaram até a restauração do capitalismo na Rússia que significou a perda de uma importante conquista do Estado operário, ainda que burocratizado para o que lhe é imposto no restante do globo. A imposição do modelo de família burguesa para reprodução da prole, cria mais mão de obra barata que combina ataques entres as mulheres com a criminalização ao aborto (antes aprovado em 1920) garantindo um grande exército de reserva que impõem a redução dos salários médios e ataques a sexualidade não - reprodutiva a serviço de lucros exorbitantes aos capitalistas.


Os LGBTs não pagarão pela crise! Que os capitalistas paguem a crise que geraram!

Nós LGBTs não nos encaixamos nesse padrão familiar burguês que visa a reprodução como forma de perpetuar a propriedade privada. Frente a crise mundial que se abriu em 2008, de proporções comparadas a crise dos anos 30, precisamos estar atentos como setor a quem direitos podem ser retirados com mais facilidade. Que os capitalistas querem nos impor os custos da crise é inegável, pois enquanto milhares de casas são retomadas, enquanto milhares de endividamento com as compras do supermercado, enquanto milhares perdem seus postos de trabalho e dezenas de outros sofrem ataques profundos em seus direitos trabalhistas, nada se questiona sobre os lucros das grandes empresas, dos bancos e do dinheiro público utilizado no salvamento de grandes capitalistas. Vimos nessa crise um novo cenário se abrir a nível mundial, a Primavera Árabe, que explodiu em 2011 reacendeu em nosso imaginário a ideia de revolução, inclusive levando a seu fim diversas ditaduras que reprimiam direitos democráticos mínimos, como no Egito. Onde agora existe um processo revolucionário aberto, já que a democracia burguesa, comandada por setores religiosos não conseguiu responder aos anseios da população com condições dignas de vida. Putin durante esse processo não só ficou ao lado de Kadafi, na Libia como continuou a vender armas ao seu aliado ditador Al Assad que segue no sanguinário genocídio do povo sírio. 


Os setores oprimidos e a juventude são os primeiros a sentir os efeitos de uma crise. Em 2012, no Estado Espanhol, um dos países mais atingidos pela crise, já foi reduzido o direito ao aborto. No Brasil o casamento igualitário foi aprovado este ano pelo SFT, demonstrando um avanço nos direitos civis formais dos LGBTs, ainda que o direito à adoção, que igualaria o  casamento homoafetivo com o casamento heterossexual, segue indefinido. Alguns meses depois um projeto intitulado “Cura Gay” tramitou no Congresso e só foi arquivado após diversos protestos ocorrerem por todo o país, também contra o parlamentar que o encabeçava, Marco Feliciano, este é representante da bancada evangélica no Congresso e faz parte da base aliada de Dilma/PT, demonstrando o quanto este governo não pode e não vai avançar nos direitos dos LGBTs. Mesmo com o avançar de direitos formais, o Brasil ainda é o país onde mais ocorrem crimes homo fóbicos no mundo, em 2010 foram aproximadamente 338 casos. A contradição entre a conquista de direitos que incluem os LGBTs na ordem e os avanços nos ataques e assassinatos demonstram que é preciso uma política revolucionária para responder a nossa opressão e nossa sexualidade.


As repostas a esses ataques aos LGBTs se dão de diversas formas, quando Marco Feliciano saiu a defender publicamente a Cura Gay diversos artistas se colocaram tanto a favor, como Joelma da Banda Calypso, cujo público majoritariamente gay a repudiou, quanto contra, como Daniela Mercury, que se assumiu lésbica. Na Rússia não foi diferente, Isinbayeva, campeã mundial de salto com vara, repudiou outra atleta, Emma Green-Tregaro, que fez seu salto no Mundial de Atletismo, que acontece agora em Moscou com as unhas pintadas nas cores do arco íris, em forma de protesto contra a lei anti-gay. Em resposta, duas atletas da equipe de corrida 4x400m subiram ao pódio em primeiro lugar de mãos dadas e comemoraram a vitória com um beijo. 
Essas expressões de figuras públicas, como o recente caso do jogador corintiano Emerson Sheik que publicou uma foto sua dando um selinho em outro jogador para expressar, em suas palavras, que “não é preciso ser homossexual para ser contra a homofobia”. São demonstrações importantes de visibilidade que contribuem para que se questione a hipocrisia de “não sou homofobico, mas...” que inclusive se expressou com os torcedores do Corinthians que foram protestar dizendo que não eram homofobicos, entretanto, não permitiriam ações como as de Sheik, de se expressar e sentir-se livre de beijar quem quiser.
É importante, nesse sentido, que utilizemos essas formas de visibilidade para fortalecer uma luta contra o Estado e os governos que contraditoriamente com a aprovação de tantas leis, ainda não conseguem garantir a igualdade na vida entre LGBTs e heterossexuais. Isso porque para além da opressão homofobica legitimidade pelos acordos eleitorais do governo, também se expressa um caráter de classe da qual é impossível existir igualdade.
A visibilidade seja da resistência e do combate as opressões ou da própria opressão como as fotos propagandeadas de grupos neo-nazistas agredindo homossexuais com o lema de “abençoe um homossexual com urina para curá-lo” contribui para polarizar a sociedade e abre espaço para uma atuação mais contundente dos revolucionários. Nós, desde a Juventude ÁS RUAS, colocamos nesse marco a revolução como uma condição para garantir a igualdade social entre todos os indivíduos, a tomada do poder pelas mãos dos próprios trabalhadores aliados a juventude e os setores oprimidos são questões inseparáveis do combate a homofobia e ao machismo.  Nesse sentido, é preciso que recuperemos outubro. Que recuperamos os avanços mais significativos no combate a desigualdade da vida, com a revolução russa de 1917 e levantemo-nos contra Putin, a Russia Unida e demais setores  burgueses que nada tem a nos oferecer. Busquemos a saída independente que possa nos garantir que sejamos “socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”. 

[1] Pussy Riot é uma banda feminista de punk rock russo, que atuaram politicamente nas mobilizações de 2011 e 2012 contra as eleições suspeitas de fraude e contra o atual presidente Putin. Participaram de uma intervenção na Catedral de Cristo Salvador de Moscou atuando como se pedissem para Maria que não permitisse a eleição de Putin. Três membros da banda, Maria Alyokhina, Nadezhda Tolokonnikova e Ekaterina Samoutsevitch foram presas e condenadas a dois anos de prisão. As demais integrantes da banda saíram do país evitando a perseguição política que vinham sofrendo.


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