segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Os operários diziam: ‘ela veio nos apoiar’

"Me chamo Virginia Guitzel, sou uma militante travesti da Juventude Às Ruas e da LER-QI e participei ativamente do processo de luta dos trabalhadores da Façon no Metrô de São Paulo. Durante os dias de ocupação do canteiro da empresa, pude conhecer diversos trabalhadores, como o Gilvanildo, um dos operários que conformou a comissão de trabalhadores e foi linha de frente de toda essa luta. Poder participar da luta desses companheiros me possibilitou ver que em momentos de luta de classes, a classe operária reconhece seus irmãos de classe pela solidariedade que recebem. Enxergam a necessidade de romper com preconceitos burgueses que não possuem bases materiais para os trabalhadores, mas servem para dividirem suas fileiras seja entre efetivos e terceirizados ou baseados no machismo, homofobia e racismo. Os trabalhadores da Façon, neste pequeno exemplo de luta se fortaleceram, porque confiaram em suas próprias forças para lutarem. Se fortaleceram, porque encontraram a necessidade de se unificar com os setores que se dispuseram não só a apoiar, mas participar ativamente da luta pelos seus direitos. Apesar de todo o discurso da burguesia, que muitas vezes a própria esquerda se adapta, de que a classe operária é atrasada e portanto importante agente da opressão homofóbica, pude ver, num pequeno processo de luta como este, a força das ideias revolucionárias da classe operária em aliança com a juventude na luta contra a exploração e opressão. Eu, como militante travesti, participando ativamente dos piquetes em solidariedade aos operários da Façon tive como resposta destes trabalhadores não apenas a reivindicação de minha presença mas a minha ampla defesa diante de piadas homofóbicas. Os operários diziam ‘Ela veio nos apoiar’ em resposta a qualquer atitude preconceituosa. Esta classe, representada pelos operários em luta da Façon mostraram a possibilidade de que aquele espaço de luta se tornasse um espaço muito mais acolhedor, onde eu podia ser eu mesma, uma travesti que defendia os trabalhadores. Um espaço mais acolhedor do que dentro de muitas universidades e demais espaços de "excelência" onde sou acolhida com hipocrisia e extremo conservadorismo. Sem diminuir a grande batalha a ser dada no centro da classe operária contra todas as formas de opressão apoiada em séculos de hegemonia da ideologia burguesa para nos dividir e nos separar, a experiência da Façon é um grande exemplo deste combate. Torna-se obvio que é ao lado destes que continuo minha luta pela emancipação da humanidade, em todos os níveis. São meus irmãos de classe contra a exploração capitalista e também contra a dominação sobre nossos corpos e mentes.”

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