Por: Virgínia Guitzel
Com uma linguagem hollywoodiana, muito didática e simples de entender, o filme chega a milhares de pessoas resgatando uma moral confrontando os longos anos de restauração burguesa que estivemos submetidos até a inflexão do surgimento da Primavera Árabe em 2011. Exibe os preconceitos da comunidade LGBT e dos mineiros britânicos e como essa aliança foi capaz de superá-los na medida em que fortaleceu a luta dos trabalhadores e na própria organização do movimento contra a homofobia e a transfobia resultando numa importante delegação de mineiros na marcha do Orgulho Gay em 1985.
Os fios de continuidade que ligam as mulheres, os LGBT à classe trabalhadora
A aproximação da LGSM ao movimento de trabalhadores está verdadeiramente retratada no filme através da profunda relação entre o movimento LGBT e o movimento de mulheres. São as esposas, filhas, avós, mães e irmãs dos mineiros que organizadas em uma Comissão de apoio abriu a possibilidade para que essa experiência marcasse a história, transformando numa grande lição de como essa aliança revolucionária entre os que mais sofrem com o capitalismo (com a repressão policial e estatal, com a mídia burguesa moralista) e a classe que tudo produz (e só pode conquistar suas verdadeiras reivindicações de libertação com a derrubada da burguesia) pode superar toda a ideologia burguesa homofobica, transfobica e machista.
Sem dúvidas uma das cenas mais bonitas do filme é quando as mulheres se levantam após um discurso de Mark, lider da LGSM, de apoio aos mineiros e suas vozes vão se somando na canção do Pão e Rosas.
É nessa hora que o filme demonstra toda sua potencialidade em dar a voz e a história tão cara e tão brutalmente escondida pelos longos anos do neoliberalismo aos setores mais oprimidos da sociedade. São as mulheres reais, mães, avós, esposas, irmãs e filhas que neste processo de greve se colocam num profundo movimento que avança a consciência de sua condição de opressão, contribuindo para o avançar da consciência do conjunto dos grevistas, que também se levantam por respeito a canção e seu profundo significado, da luta anticapitalista e antiopressão pelo direito do Pão, mas também das rosas.

A identificação das mulheres com os LGBT é surpreendente para ambos. Em um diálogo do filme, uma das mulheres da Comissão, Gail, pergunta para dois homens homossexuais "Então, vocês vivem juntos, você sabe, como marido e mulher? Mas o que isso quer dizer?". Os dois se olham acreditando se tratar uma pergunta sobre sua sexualidade, então, Gail demonstra qual sua verdadeira preocupação: "Qual dos dois faz o trabalho doméstico?". Outro momento do filme que encanta por sua sutileza, é a radical e profunda transformação que as mulheres conquistam em debater sua sexualidade e seus desejos ao encontrarem brinquedos e revistas pornos no quarto de um dos LGBT. São debates que explodem entre a Comissão de Mulheres e os LGBT que combinados a luta heróica dos mineiros abrem um novo horizonte para pensarmos a transformação da humanidade.
Construir uma juventude revolucionária que luta pelo Pão e as Rosas

Antes de acabar o ano, os metroviários de São Paulo impulsionaram uma campanha que emocionou milhares de pessoas que receberam os gritos contra a homofobia nos vagões onde tantos casos de agressões foram já noticiados, como o caso do metroviário Danilo e seu companheiro que deram origem a campanha. Pouco antes do Natal, o governo Alckmin demitiu novamente os metroviários que fizeram uma importante greve reivindicando a luta da juventude em Junho e um transporte de qualidade, gratuito para toda a população.
Por isso, nós da Juventude seguimos a campanha pela reintegração de todos os 40 metroviários demitidos e a luz do filme acreditamos que para fortalecer o movimento LGBT e o movimento de mulheres que hoje passa por muitos obstáculos, começando pelo novo Presidente da Câmara autor da cura gay e contrário ao direito ao aborto, é fundamental que as lésbicas, gay, bissexuais e travetis, transexuais, homens-trans e pessoas não binárias encontrem em retribuir o apoio dos metroviários um caminho para fortalecer seu movimento buscando o setor da sociedade que carrega consigo o potencial de transformar radicalmente a sociedade. Somente numa campanha viva e decidida em apoio aos trabalhadores será possível a reconstrução do laço tão apaixonante demonstrado pelo filme, que é a única alternativa para que as lutas de hoje sejam o prelúdio dos debates e das tarefas que nos levem a nossa verdadeira emancipação completa, no dia de amanhã.
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