LGBT: quem somos e por que nossa luta é de toda a classe trabalhadora
A sigla LGBT correspondente ao grupo social de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (travestis, homens e mulheres transsexuais) se consolidou não tem muito tempo. Sendo antes, muito mais conhecido como GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) ou nos meados da década de 60 até pelo menos os anos 80 o "movimento homossexual" ou "movimento gay". Mas para que essas siglas e quem pertence a este grupo?
A sexualidade humana em diferentes culturas adotou formas especificas de lidar com suas expressões. Desde a Grécia antiga que se sabe de relações amorosas e sexuais entre homens. Todavia, não era por não existir opressões que isto acontecia naquela sociedade, pelo contrário, era justamente pela força das ideias machistas, que os homens se relacionavam entre si, considerando as mulheres inferiores para relações amorosas e profundas.
Mesmo a sexualidade não heterossexual (entre homens e mulheres) existindo em todos os momentos da vida humana, ainda hoje os homossexuais são cotidianamente agredidos e assassinados. A comunidade trans (dos homens, mulheres ou travestis que assumiram identidades de gênero que não seguem a lógica que o orgão genital determina se a pessoa é homem ou mulher) segue com a perspectiva de vida de somente 35 anos em toda a América Latina. Mesmo com essa triste realidade, nada disso aparece nas capas dos jornais e das grandes revistas.
A repressão sexual na sociedade capitalista
O movimento surgido na década de 60 que não correspondia apenas as restritas siglas, conhecido como “Movimento pela liberação sexual” compreendia que o capitalismo oprimia e reprimia a sexualidade do conjunto da humanidade, no seu potencial libertador, prazeroso e emancipatório. Sempre demonstrando a brutalidade e mediocridade que os atualmente representados por LGBT trabalhadores e mais pobres sofriam. Todavia, não se pautavam pela ilusória “emancipação heterossexual” muito menos caiam no canto da sereia da possibilidade de alcançar a emancipação sexual pela via do consumo (seja ele de pornografias, de prostituição, de aceitação social, entre outros).
As lições deixadas por esse movimento histórico, que tornava-se carne nos braços e pernas da juventude francesa em 1968 poderiam ser resumidas na defesa de uma sociedade organizada pelos trabalhadores para dar um fim a toda a forma de opressão e exploração. Reconhecendo que a sexualidade heterossexual não era “algo a ser almejado”, mas também emancipada dos limites capitalistas atrelados a ela. Oferecendo uma saída para esta problemática, numa defesa instransigente aos ditos “subversivos”, “invertidos”, “imorais” e outros adjetivos dados aos homossexuais, lésbicas, travestis e demais setores que rompiam com a norma heterossexual, monogâmica e cisgênera (pessoas não trans, que se identificam a partir de seu órgão genital com a identidade de gênero reconhecida socialmente).
Nos dias de hoje, os LGBT se encontram em grande maioria nos piores postos de trabalho com os piores salários, quando não relegados exclusivamente a prostituição. As identidades de gênero travesti e transsexual são ainda vistas como doença mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o que dificulta o acesso aos hormônios e as cirurgias para que possam se sentir confortáveis com seus corpos. Isso significa que a maioria da comunidade trans está sujeita a adoecer com o uso de hormônios sem acompanhamento médico e a utilização do silicone industrial. Para além de tudo isso, ainda são as maiores vitimas dos crimes de ódio, sendo assassinadas com muita brutalidade.
Nada de revolução sexual, ou direitos iguais. A juventude negra e pobre assim como a maioria das mulheres trabalhadoras e os setores LGBT vivem uma profunda condição de miséria sexual e de repressão, não possuindo espaços para desenvolver sua sexualidade de maneira livre e plena. A sexualidade, tornada uma questão pública, hoje segue sendo regulada e reprimida pelo Estado, seja pela falta de espaços acessíveis para a juventude, seja pela falta de disciplinas nas escolas e universidades para abordar esta temática, pela má (ou nula) distribuição de preservativos, a criminalização do aborto, etc. Assim a ideologia dominante cumpre seu papel de contenção de controle social e sexual.
Para os trabalhadores e trabalhadoras: Estamos aqui
Com a chegada do Esquerda Diário no Brasil, é possível construir uma forte rede de notícias e informação preocupada em que os trabalhadores e trabalhadoras possam se confrontar com a ideologia que lhes é imposta. À você trabalhador ou trabalhadora que encontrou pela primeira vez esta coluna semanal, verá que ano longo das semanas, discutiremos diversos temas sobre a opressão estrutural das mulheres, dos negros e da população LGBT. Reconhecerá então similaridades entre explorados e oprimidos com as tristes condições de vida que somos submetidos.
Iniciativas como o debate realizado na histórica greve da Universidade de São Paulo no ano passado para debater “Machismo, homofobia e transfobia” com os trabalhadores assim como a emocionante campanha dos metroviários de São Paulo repudiando a agressão homofobica sofrida por um colega de trabalho aqui terão grande destaque. Pois são expressões de que a história segue sendo construída e pode ser tomada pelos trabalhadores desde suas próprias mãos dando uma saída para toda forma de opressão.
Na história do movimento LGBT, que pouco se conta, sempre houve tentativas de unificar a luta dos trabalhadores com a das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Esta ideia esteve viva no grupo francês Frente Homossexual de Ação Revolucionária, foi assim na Inglaterra nos anos 80 com a formação do grupo Lésbicas e Gays apoiam os Mineiros (LGSM, em inglês) e também no Brasil com o primeiro grupo de auto afirmação homossexual, o SOMOS. É desse legado que nosso Diário se sustenta e por isso, nesta primeira coluna afirmamos: Para os trabalhadores e trabalhadoras: estamos mais uma vez aqui.
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