segunda-feira, 23 de março de 2015

Mais um beijo gay, mais uma enxurrada de homofobia

BEIJO LÉSBICO NA TV

Mais um beijo gay, mais uma enxurrada de homofobia

Nas telinhas do Plim Plim, mais uma vez uma novela do horário nobre, Babilônia, apresenta personagens homossexuais, e como comum da vida de um casal, um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo. Desta vez, as ilustres atrizes Fernanda MonteNegro e Nathália Timberg, protagonizam um casal lésbico.




A sexualidade lésbica, completamente invisibilizada, ao ser destacada por duas mulheres idosas em rede nacional, contra a tendência do fetiche da heteronormatividade ou o discurso de ser "apenas uma fase", se enfrenta com amplo descontentamento de setores conservadores contrários a visibilidade da população LGBT.
A frente parlamentar Evangélica do Congresso Nacional presidida por João Campos (PSDB-GO) divulgou nesta quinta-feira (19) uma nota de repúdio à cena do beijo gay bastante coerente com suas inúmeras ações homofóbicas no Congresso, como os projetos de lei pela "Cura Gay" barrados pelas massivas mobilizações de Junho de 2013 e os novos projetos também de autoria de Eduardo Cunha como "Dia do orgulho Heterossexual", "Criminalização da heterofobia" e outras bizarrices.
Dizendo-se contrários ao "modismo" da homossexualidade e que o beijo gay é um "estupro moral" novamente os setores conservadores reafirmam sua intransigência aos direitos mais elementares da comunidade LGBT e convocam um boicote a novela e aos produtos dela propagandeados.
A estratégia da visibilidade e seus limites para combater a direita e os conservadores
Quando foi a vez de Niko e Carneirinho se beijarem na novela Amor a Vida, polemizamos com uma estratégia do movimento LGBT da visibilidade. Naquele momento, muitos propagandeavam como o primeiro beijo gay na Emissora Rede Globo, o que logo foi revisto, e o aplaudiam como uma grande vitória da luta do movimento LGBT. Já neste artigo definíamos que a emoção e identificação da comunidade LGBT com a cena era completamente compreensível de acordo com a profunda homofobia e transfobia existente em nosso país, recorde de assassinatos e agressões.
Todavia polemizamos com os setores ativistas de variados grupos e organizações da esquerda que não apontavam os limites da estratégia da visibilidade, isto é, buscar como forma de luta a aparição de personagens, reportagens e outras expressões de pessoas não heterossexuais ou trans na grande mídia. Enquanto, a rede Globo e outras emissoras abriam espaço para incorporar uma pequena parcela dos LGBT em suas novelas e filmes, as fazia de maneira a demonstrar qual classe poderia ser representada, novamente excluindo os setores pobres, periféricos e trabalhadores LGBT.
Ainda que com essas limitações, não nos colocamos ao lado dos setores conservadores contra o beijo ou a existência desses personagens. Entendemos que essa visibilidade poderá abrir debates dentro das casas e das famílias e demonstrar com maior naturalidade a vivencia LGBT, ainda que de maneira insuficiente para enfrentar os inúmeros casos de discriminação no país.
Luciana Genro: a visibilidade como saída política
As eleições de 2014 anteciparam as fissuras políticas no regime político brasileiro. Alertaram para o desgaste do PT nacionalmente, um partido que se aliou com todos os inimigos dos LGBT, e também deram voz a uma candidata de esquerda que conseguiu no enfrentamento ao reacionário Levi Fidelix aproximar a comunidade trans e obter cerca de 1,6 milhão de votos. Muitos diziam que ser a primeira candidata a falar transfobia já valeria o voto e a confiança.
É claro que num sistema político profundamente antidemocrático, onde os trabalhadores e a juventude que protagonizaram Junho não podem se candidatar e expressar suas ideias e os grandes partidos com financiamentos milionários impedem uma verdadeira disputa de ideias, Luciana Genro teria chances de ganhar a Presidência do país. Todavia, qual política poderia ter Luciana Genro a partir de sua figura para fortalecer a luta por direitos dos LGBT?
Se a homofobia está expressa em todos os âmbitos sociais. É preciso combatê-la tornando vivas as discussões que houveram nas eleições e se renovam com os cotidianos assassinatos e agressões, nos locais de trabalho e de estudo. Somente assim é possível criar um movimento forte e desde as bases que questione essa profunda opressão e ganhando as ruas com milhares colocar um basta nessa situação. Luciana Genro e os deputados do PSOL não podem se limitar a dar "visibilidade" as pautas sem colocar seus mandatos e suas figuras a tarefa de construir um verdadeiro movimento ativo e militante para arrancar esses direitos.
A visibilidade aprofunda as polarizações sociais, mas nem de longe conquista ou firma os direitos elementares que são negados a lésbicas, gays, travestis e homens e mulheres transsexuais. A novela Babilônia, mesmo com seus limites, recupera esse profundo debate que no cenário nacional dinâmico como está, permite pensarmos uma grande unidade dos grupos, organizações e as entidades estudantis assim como os sindicatos para lutar contra a opressão.

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