Se olharmos para os últimos 12 anos, veremos que apesar dos inquestionáveis avanços nas representatividades nos espaços públicos e televisivos, a opressão às sexualidades não heterossexuais e identidades trans e não binárias só aumentou.
Foi sob o governo do PT que a Igreja Católica conseguiu a partir da "Carta ao povo de Deus" e os acordos Brasil-Vaticano a consolidação da isenção dos impostos e um espaço reservado (e privilegiado) nos interesses do governo. Mas não parou por aí, em 9 de Março de 2013, um nome marcaria a Comissão de Direitos Humanos e Minorias como um inimigo dos direitos dos negros, das mulheres e dos LGBT. Não esquecemos que foi fruto dos acordos e interesses financeiros que o PT negociou a Comissão e fez o nome do pastor Marco Feliciano, que segue buscando maneiras de retroceder em nossos direitos.
A Juventude quer sua libertação sexual e identitária
Hoje, ao olhar para o movimento que mudou radicalmente o país, não se pode deixar de dar a devida atenção às demandas que ecoavam na juventude. Não foram apenas os coletivos LGBT ou as feministas organizadas em seus grupos que lutaram, cantavam e derrubaram os projetos de leis. Pelo contrário, foi a massa de jovens que queriam mais direitos, serviços públicos de qualidade e que não aceitavam os ataques e questionavam o retrocesso dos projetos contra as mulheres e LGBT.
A nova geração de jovens que conhece o PT como mais um partido da ordem e que assistiu seus acordos com as bancadas moralistas exigiam pela sua mobilização o direito a ser e estar com quem quiser.
Essa mobilização histórica da juventude abre espaço e permitiu um ano depois as centenas de greves que desafiaram suas direções pelegas, e em muitas delas saíram vitoriosas. Somente aquele que não quer ver, poderia ignorar a luta negra presente na emblemática greve dos garis do RJ, ou o protagonismo das mulheres nas diversas greves que tiveram do funcionalismo público e da educação. A demanda LGBT por outro lado, esteve presente nas capas dos jornais e tomou grande espaço nas redes sociais, sendo um dos principais debates nacionais que dividiu a opinião pública diversas vezes.
As universidades, por outro lado, mesmo com o vestibular e as altas mensalidades garantindo sua elitização, tem sido um espaço onde muitos homens e mulheres trans, travestis e pessoas não binárias tem se encontrado e se assumido. Um combate direto à moral e ao seu conteúdo de classe, que também gera dentro do movimento estudantil e dos grupos feministas intensos debates. As reitorias andam pra trás dos governos, mesmo com a obrigação dos nomes sociais, não reconhecem a vulnerabilidade desta população, não tendo nenhuma política afirmativa como prioridade nas moradias estudantis, uma vez que ampla maioria rompe com sua família, e tampouco acesso às políticas de permanência. É então um espaço, que tende a cada vez mais denunciar a transfobia na sociedade.
Foi nas eleições onde se disse pela primeira vez a palavra "Transfobia" e onde a onda reacionária LGBTfóbica demonstrou o espaço legal e legítimo no nosso país, recorde de assassinatos, agressões e mutilações de LGBT. Depois os inúmeros casos que levaram a juventude, com os coletivos e organizações LGBT que voltamos às ruas: por Kaique Augusto, João Donati, Marcos Vinícius, Géia Borghi, e mais recentemente Rafael Melo de 14 anos e Verônica Bolina.
Verônica e Viviane: a visibilidade trans evidencia o limite da democracia dos ricos
A brutal violência (de gênero), a tortura e a profunda transfobia estatal executada pela polícia militar seguida do respaldo legal - que mantém Verônica presa até hoje - deu visibilidade à realidade de milhares de mulheres trans e travestis negras no Brasil. Pela primeira vez, uma agressão trans se tornou pauta nacional, com destaque na grande mídia.
Não poderia ser diferente, uma enxurrada transfóbica prontamente se apresentou. Não apenas da polícia militar que novamente justificava as torturas e seu legado de repressão histórico as travestis, mas também do feminismo radical1 e da própria mídia que sem poder negar a escandalosa tortura, pactuava pela prisão de Verônica em busca do esquecimento e da inviabilização (tão comum ao passado) do sofrimento e da discriminação às identidades trans.
Viviane, por muito menos, foi crucificada duas vezes. A primeira em sua performance que contava com uma placa "Basta de Homofobia", e que expressava a realidade dos julgamentos morais às identidades trans e às orientações homo-lesbo-bissexuais, assim como as cruzes que carregamos como as perspectiva de vida de 35 anos para as e os trans, a falta de acesso aos direitos básicos como educação, trabalho e saúde pública.
No país conhecido e reconhecido pela ONU como mais homofóbico do mundo, dizer que somos oprimidos é uma ofensa aos setores conservadores que querem nos fazer acreditar que são eles - os políticos que vivem como empresários - os verdadeiros oprimidos, como dizem a "heterofobia", a "cristofobia" e o preconceito contra os "ex-gays". Então, foi crucificada de novo, desta vez recebeu ameaças de morte daqueles que "amam o próximo" demonstrando que não é uma questão religiosa, mas política que oprime os LGBT.
A Parada LGBT mesmo com todos os seus limites, começa a expressar a nova situação nacional
O bloco dos homens trans com faixas exigindo a Aprovação da Lei João Nery, a esquerda recompor seus blocos de rua e a intensa polarização, ainda não podem modificar o caráter festivo da Parada, nem sua (falta de) orientação política, mas trazem o embrião de uma nova moral.
Uma nova geração de jovens cresce, sem carregar consigo os valores do neoliberalismo, da exaltação do indivíduo e da ilusão nas democracias. Esta geração pode se espelhar na década de 60 e voltar a exigir o impossível, até que se torne inevitável. Com essa certeza, há dois anos de Junho, a luta dos LGBT se fortaleceu e em cada universidade ou nos locais de trabalho, ela se apresenta.
Foi assim na emocionante campanha dos Metroviários de São Paulo contra agressão de um companheiro, na greve da prefeitura da Universidade de São Paulo e em outros tantos processos.
Diziam alguns que já passou o tempo da revolução sexual, e que os direitos formais eram o máximo da emancipação que poderíamos sonhar. O ressurgimento da poderosa classe trabalhadora e uma nova onda da juventude internacional, de Baltimore ao Chile questionamos a polícia, da Argentina ao Piauí não aceitamos #Nemumamenos, nos permite dizer: é hora de um novo StoneWall!
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