segunda-feira, 20 de abril de 2015

Para cada Verônica, construamos um novo StoneWall

No dia 10 de Abril a modelo Verônica Bolina foi presa após uma confusão em seu prédio, acusada de agredir uma vizinha. Dois dias depois, houve uma briga durante a transferência de cela entre Verônica e o carcereiro. Sua cor e identidade de gênero se tornaram desculpa para tamanha violência e brutalidade policial injustificáveis.




Enquanto a grande mídia tratou de expor a travesti com os seios de fora, o rosto desfigurado pelas agressões e o cabelo raspado a força, defendiam e colocavam a versão da polícia e do carcereiro que perdeu sua orelha durante o conflito. Verônica foi mais uma vez silenciada e desrespeitada pela mídia e pelo Estado que negaram - como negam a todas as identidades de gênero não hegemônicas - sua existência, sua identidade, sua humanidade.
O caso que vem chocando as redes sociais e ganhando uma ampla adesão contra a violência e violação dos direitos humanos de Verônica Bolina, mulher transexual e negra nos é um soco no estomago, pois evidencia a triste realidade contra as mulheres no país. Como bem retrata o texto de Rita Frau no Esquerda Diário sobre a aprovação da lei do Feminicídio , as mulheres trans e travestis seguem ser qualquer tipo de cidadania e direitos humanos, onde o Estado não reconhece suas identidades e muito menos que as agressões,mutilações e assassinatos são violência de gênero.
O caso Verônica nos lembra que foi na luta contra as forças policiais dos EUA que a nossa identidade orgulhosa se levantou contra a moral burguesa e as visões cisnormativas e hetero-patriarcais. Foram as barricadas de StoneWall que incendiaram o mundo inteiro nos levantes pela liberação sexual e identitária e pela a organização do movimento LGBT e trans. É como denunciado no resgaste a história de repressão às travestis e homossexuais que os combates entre a polícia e os LGBT, em especial as travestis, prostitutas e a população negra, não são de hoje. Por isso o movimento LGBT levantar fortemente a bandeira de "Fim da polícia" é parte de ser um fio de continuidade do movimento pela libertação identitária e sexual com as lições mais profundas sobre o caráter (inimigo) do Estado, de seu braço armado e da ideologia dominante.
Direitos Humanos para quem?
O Esquerda Diário vem denunciando as dificultosas situações que passam as pessoas trans. Desde a educação , na saúde e no mercado de trabalho a descriminação faz sua parte em empurrar a maioria das pessoas trans à prostituição compulsória, com maior vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis, à depressão e às cotidianas agressões e assassinatos. Fica cada vez mais evidente que não são todas as pessoas que "merecem" os direitos humanos.
Segundo os dados da ONU que pelo menos 40% dos assassinatos de travestis e homens e mulheres transsexuais no mundo ocorrem no Brasil. Esta realidade poderia caracterizar um "transfemicídio" que se apoia na ausência de uma única lei que garanta o reconhecimento das identidades trans, do direito ao nome, as transformações corporais, à educação e todas as outras necessidades universais para o desenvolvimento pleno do ser humano. Verônica nos mostra esta realidade sem qualquer disfarce ou maquiagem: a dura e crua realidade das travestis negras no Brasil. Ao rasparem seu cabelo à força, ao desconfigurarem seu rosto com diversas agressões e ao fazê-la se sujeitar a cela masculina, Verônica foi desrespeitada em toda sua integridade. O Estado, governado por Dilma e com mesma responsabilidade do Congresso Nacional impedem a aprovação da Lei João Nery. Enquanto se silenciam sobre o caso, e fazem novos acordos com os setores conservadores como foi Feliciano, Maluf e outros, permitem que a transfobia siga fazendo suas vítimas. Arrancam nossos cabelos, muitas vezes nossos seios são mutilados, o rosto deformado e assim deixam um recado de que vão "corrigir" nossa identidade.
A polícia e o "confessionário das vítimas"
O áudio que circula nas redes sociais do suposto depoimento de Verônica divulgado pela Heloisa Alves, Coordenadora de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo, está a serviço de reforçar a ideia de que não existe transfobia, mesmo nos casos mais escandalosos e revoltantes. Levantaram novas suspeitas como informou o site Fórum pois pode-se ouvir Heloisa aparentemente ditando o discurso de Verônica. Isso coloca novamente em questionamento o papel da polícia, que é responsável pelos massacres nos morros Quando morreram Kaique Augusto, João Donati, Geia Borghi, e outros LGBT já fomos enfrentados com estes discursos. Assim como o suposto "suicídio", a polícia encontra nesta gravação a mesma forma de escape que são os famosos "autos de resistência" que mata a juventude negra, como foi o escandaloso caso do menino Eduardo de 10 anos no morro do Alemão há poucos dias.
Verônica infelizmente não é o primeiro caso de uma mulher trans presa oprimida por transfobia de Estado e nem isto é uma exclusividade brasileira. Cece McDonald, mulher trans negra norte americana foi agredida com insultos racistas e transfóbicos enquanto caminhava até o supermercado com um grupo de amigos. Ao responder aos xingamentos, foi atacada com um copo, que lhe cortou uma glândula salivar. CeCe então tentou correr pra longe do local, ao mesmo tempo tirando da bolsa uma tesoura para se defender. Ao chegar à esquina, ela foi atacada por um neonazista chamado Dean Schmitz que, ao puxá-la em sua direção, foi atingido no peito pela tesoura, e veio a falecer. Em 04 de de junho de 2012, ela foi condenada a 41 meses de prisão pelo "homicídio culposo de Schmitz. Detida, com 23 anos, em uma cela masculina, foi proibida de seguir com seu tratamento hormonal. Seu crime? Sobreviver.
A campanha internacional que Cece McDonald gerou uma importante comoção que depois estaria expressa no movimento "A vida das trans importam" por conta do suícidio de Leelah. Frente a crise capitalista que passamos, em especial no Brasil onde Dilma e seus aliados atacam os trabalhadores e a juventude, fica claro os limites da tentativa de inserção nessa democracia degradada e nas batalhas pela "democratização radical da democracia". Verônica e Cece apontam que sem acabar com a desigualdade social, é impossível acabar com a desigualdade de gênero.
Não é possível ter qualquer confiança na polícia! Por isso, os sindicatos e as entidades estudantis precisam se apresentar como verdadeiras representantes dos anseios da sociedade, contra todas as formas de injustiças, opressão e exploração. É preciso tirar da mão do Estado que reproduz e se apropriou da transfobia. É preciso lutarmos por uma investigação independente com participação dos movimentos LGBT e de direitos humanos que possa garantir a integridade de Verônica e a punição dos responsáveis.
Basta de transfobia! Basta de racismo!
Pelo fim da polícia! Seguir o exemplo de StoneWall!

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